segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Brioches para uns, falta de pão para outros!

 

1. Sou dos que defendem melhor remuneração para quem exerce cargos políticos na expetativa de a eles acederem os mais competentes e não só quem procura futuro fácil, que o mérito não justificaria. Mas o caso de Helder Rosalino tende a desmentir essa tese já que não se lhe conhecem saberes, nem competências, distintas das exuberantemente (não) demonstradas por quem virão a ser os seus parceiros de (des)governo. Homem sem qualidades, que se lhe reconheçam, prepara-se para embolsar 15 mil euros mensais à custa de tergiversações legais  criadas em sua intenção.

Numa frase lapidar a Ana Sá Lopes comenta, na última página do Público de hoje, que ele é apenas aquele que, no tempo da troika, nos privou do pão e , agora (qual Maria Antonieta de uma corte decadente!) se apresta a comer brioches.

2. O bando, que tomou de assalto o Ministério da Saúde para definhar o SNS e transferir indecoroso volume de recursos do orçamento para os grupos privados, continua em roda livre: nenhum dos problemas que, segundo as suas promessas, seriam lestamente resolvidos, encontraram a mínima satisfação, antes se agravando, como o demonstram o caos nas Urgências, o atraso nas cirurgias e o número de doentes sem médico de família.

Ao invés não cessam as demissões para a despudorada distribuição de tachos pelos boys e girls afetos à direita.

Dá para ficar seriamente apreensivo com a possibilidade de virmos a passar por uma nova pandemia: com esta gente será de temer que o pior possa suceder.

3. Chegado a esta idade detesto, que me queiram infantilizar com histórias da carochinha para melhor virem ao bolso.

Exemplo disso é toda a propaganda, que tende a mostrar Zelensky como um impoluto anjo e Putin como um pérfido diabo. Como a História  tem testemunha o maniqueísmo primário nada tem de conotável com a realidade.

Factos óbvios das políticas europeias quanto ao conflito da Ucrânia é a pauperização dos seus cidadãos, vulnerabilizados pelos “encantos” das extremas-direitas, ao mesmo tempo que enriquecem os donos das empresas norte-americanas de armamento. Enquanto a Europa definha, os States medram.

Agora querem-nos impor 4% dos orçamentos para despesas com a defesa, conseguindo-os à custa das pensões dos reformados. Bom será que nos preparemos para violenta reação contra o esbulho anunciado pelo holandês Rutte, que sucedeu ao tonto sueco Stoltenberg à frente da Nato.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

Coniventes com genocidas e o prémio da bajulação

 

1. Não é que surpreenda, mas a sondagem sobre as crianças de Gaza, que, em mais metade das respostas, confessam o desejo de morrerem como forma de se verem livres da sua infelicidade, é apenas uma das provas sobre o crime de genocídio perpetrado pelos israelitas contra si, seus pais e avós.

Haverá quem me acuse de antissemita, mas não percebo como há quem ainda insista em defender quem perpetra crimes desta dimensão e se coloque, objetivamente ao lado de colonos com a mentalidade nazi de olharem gulosamente para terras alheias e as queira suas a pretexto de irem ao encontro do seu Lebensraum, termo hitleriano para justificar propósito similar.

Muitos genocídios terríveis assinalaram o século XX mas, no atual, o dos palestinianos em Gaza é um dos que mais manchará a memória da nossa civilização. E talvez venha a justificar a má consciência de quantos com ele pactuam.

2. Não é que surpreenda, mas a administração da cadeia Pingo Doce esportulou umas migalhas aos que se deixam por ela explorar e ainda agradecem na forma de repugnante bajulação, marginalizando quantos se atrevem a manter-se sindicalizados.

Eis uma boa razão porque reitero, desde o vergonhoso boicote ao feriado do Primeiro de Maio, que nunca mais deixei, nem deixarei, os meus pés pisarem um centímetro desses supermercados.

Frequento outros onde, porventura, a exploração de quem trabalha, não é menor, mas onde pelo menos não os desrespeitam ao ponto de os quererem dividir entre filhos e enteados. É uma atitude básica de higiene cívica.

domingo, 22 de dezembro de 2024

Dalila encontrou o Sansão a quem arrancar os cabelos

 

Têm sobrado motivos de censura perante os atos imorais cometidos nas áreas tuteladas pelos vários ministérios deste governo de direita extremista, que  deu violento safanão nos padrões éticos impostos nos oito anos de vigência dos antecessores socialistas. Os casos têm sido tantos, que se atropelam uns aos outros justificando indignações eivadas de um sério risco: anularem-se por irem secundarizando as mais antigas.

É um risco, que sucede com a exoneração de Francisca Carneiro Fernandes, responsável pelo notável papel cultural desempenhado pelo Centro Cultural de Belém durante o ano em curso e, também conhecida pelo trabalho desenvolvido anos a fio no Teatro Nacional de São João.

A sua substituição por Nuno Vassallo e Silva, cuja passagem pela delegação parisiense da Gulbenkian foi confrangedora quanto ao feitio de (não) fazedor, é prova do compadrio, que vigora na tutela de Dalila Rodrigues e por ela tão inabilmente demonstrada quanto a do ladrão a correr pela rua fora e a gritar a quem o vê para apanharem mais adiante quem afinal é ele mesmo.

Não faltaram vogais para acolitarem a ministra em tão soez conduta: um pseudojornalista da revista Sábado e o inevitável João Miguel Tavares vieram aduzir supostos factos, que a realidade se incumbiu de desmentir como com carecendo de um mínimo de verdade.

Dalila encontrou no setor da Cultura o Sansão, a que pretende cercear a força inspiradora. Que lhe correrá mal está-se mesmo a ver: desprezada por quem tem talento criativo e artístico, e censurada por respeitáveis instituições internacionais, Dalila só conseguirá competir com Santana Lopes quanto viermos a lembrar quem pior tem (des)governado tão importante área politico-social, novamente abandonada à mais triste sina como sempre sucede quando as direitas recuperam o pote e se prestam a asfixia-la. Com cunhas e compadrios, que Dalila e os comparsas liderados por Montenegro, tão sobejamente vêm sendo tão pródigos. 

sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Rusgas e nódoas

 

Tenho de dar plena razão a Pedro Marques Lopes, quando confessa ter-se sentido envergonhado com o torpe espetáculo proporcionado pelas televisões com a rusga a quem vive na Mouraria.

Mais do que o termo português conoto tudo aquilo com outro, francês - o de rafle -, o da arregimentação de judeus durante o regime de Vichy para os juntar no Velodrome d’Hiver e enviá-los depois para as câmaras de extermínio de Auschwitz.

É o que se conclui desta ação protonazi, que serve para os mais inocentes se convencerem quanto à deriva do desgoverno de Montenegro na direção da extrema-direita, E, mais uma vez - a exemplo do sucedido com a polícia francesa em 16 e 17 de julho de 1942, não há quem na lusa se insurja contra a despudorada utilização por quem dela vem crescentemente abusado como se, depois de lhes dar as solicitadas lentilhas, recusadas pelo anterior governo, conte com a sua canina fidelidade.

Há motivos para, enquanto portugueses, sentirmos vergonha quanto à forma como estão a ser destratados cidadãos de outras nacionalidades, que aqui vêm corresponder à procura da classe empresarial - que neles encontra mão-de-obra indisponível e faz baixar os salários! - e se veem humilhados e ofendidos.

E maior despudor demonstra Montenegro ao querer conotar o Partido Socialista ao Chega depois de se ter associado aos apaniguados de Ventura nos Açores e na Madeira, e pretende vestir-se de lobo para se tornar igual a essa gente ignóbil.

De tudo isto só sobra um ligeiro motivo de consolo na deceção de Marcelo Rebelo de Sousa que, depois de ter sido elemento ativo na conspiração judicial, que empurrou os socialistas do poder, se encontra a contas com quem constata não lhe passar cavaco (até por já o ter por si!).

Bem pode Marcelo lamentar o tempo em que foi feliz na “cooperação estratégica” com António Costa, que o rural substituto tem as manhas do provinciano chico esperto e, por algum tempo, elas bastarão para lhe dar a sensação de sentar o traseiro na poltrona do poder como sucede a alguns bem sucedidos arrivistas.

Mas, lembra-nos o maravilhoso Barry Lindon de Stanley Kubrick, quão fátua é essa ilusão. Não tendo gente de qualidade a acolitá-lo, acontecerá aquilo que Eça prognosticou a propósito de outros montenegros do seu tempo: Este governo não há de cair - porque não é um edifício. Tem de sair com benzina - porque é uma nódoa! 

quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Todas as lutas numa estratégia frentista de esquerda

 

O sucesso das direitas, incluindo a das suas expressões mais extremas, em sucessivas eleições nos meses mais recentes, veio diminuir a importância das lutas inorgânicas, ou, pelo menos dissociadas dos partidos de esquerda, que os ativistas pela sustentabilidade do clima, pelos direitos das mulheres, ou contra a xenofobia, vinham travando com maior ou menor visibilidade mediática.

Hoje são muitos os atores políticos, que não têm qualquer pudor em negar a evidencia quanto ao aquecimento global, os que querem fechar as mulheres no recato caseiro, ou pugnam pela devolução dos refugiados (mesmo os perseguidos politicamente) aos seus países de origem.

Eis um caso evidente de segmentação de lutas, que só pode anunciar derrotas certas. Mas, porque a repressão contra as minorias engendrará um sem fim de derrotas, importa que as esquerdas convirjam no essencial: todas coincidam no comum interesse em verem corrigidas as injustiças, que sobre elas pendem.

Não sendo desejável, que as esquerdas façam das ditas causas fraturantes o eixo fundamental da sua ação - que é a de combaterem a lógica exploradora de um capitalismo regressado ao seu fervor mais selvagem (quão distante vai a intenção de construir uma sociedade de bem estar com qualidade de vida para as pujantes classes médias!) - não podem esquecê-las na estratégia de combate a essas direitas, que ostentam a arrogância de quem acredita no tal fim da História, que tudo deixaria doravante tal qual está.

Mas o maior desafio, que se coloca às esquerdas é o de saberem vacinar-se contra o sectarismo a que são tão vulneráveis. Se Espanha mantém um governo em contracorrente à lógica do que se passa na União Europeia é por Pedro Sanchez ter criado a cumplicidade dos menores denominadores comuns com os partidos independentistas e os situados à sua esquerda. Se em França as esquerdas deram a Macron uma humilhante derrota, que ele ainda tenta contornar com governos incapazes sequer de aprovarem orçamentos é porque, apesar do narcisismo de uns quantos - a começar em Jean Luc Mélenchon - terem conseguido criar uma Nova Frente Popular num tempo record.

As lições estão aí á vista de todos. Haja quem as saiba aproveitar! 

domingo, 15 de dezembro de 2024

Um flop colossal

 

Em 7 de junho de 1940, com Salazar e o bispo de Aveiro a encabeçarem-na, toda a corte do Estado Novo juntou-se no estaleiro do mestre Manuel Mónica na Gafanha da Nazaré, para assistirem, com pompa e circunstância, ao lançamento à água da nau Portugal, que deveria ser uma das principais referências da Exposição do Mundo Português.

O que sucedeu, recorda-o uma reportagem do canal franco-alemão Arte, que dá ao caso uma dimensão quase sempre esquecida por quem costuma abordar esse momento da História lusa: tão-só chegado ao ambiente líquido, que lhe deveria ser natural, a nau tombou por efeito, segundo a versão oficial, de um excecional golpe de vento, mas quase por certo dando razão às más-línguas cedo desconfiadas de não ter o sapateiro Leitão de Barros arte para tocar tal rabeca.

O cineasta oficial podia saber alguma coisa de cenografia ao jeito do que conviria à propaganda do Estado Novo - e por isso criou uma coisa kitsch, muito diferente do que eram as verdadeiras naus quinhentistas! -, mas, sobretudo, sem a devida arte de construção naval, que lhe deveria assegurar a estabilidade acima da linha de água.

Reparada, a nau ainda foi rebocada para o cais de Belém a tempo de complementar o cenário da celebração colonial-fascista, mas já manchada pelo pecado original do sinistro conhecido semanas antes. E, comprovando a má-sina, que acompanha tudo quanto é mal feito, acabaria novamente tombada no mesmo cais, quando o ciclone do ano seguinte a veio novamente demonstrar imprestável para qualquer viagem marítima além-Tejo.

Por coincidência vi essa peça televisiva no mesmo dia em que Mário Centeno veio armar-se no estraga-festas de Montenegro, prenunciando-lhe o quase certo défice nas contas públicas em 2025, precisamente numa altura em que os vendavais vindos de Washington, Paris, Berlim e Bruxelas mais imporiam, que se mantivessem equilibradas para salvaguardarem a dívida soberana em prudente patamar.

Que não será assim, disse-o Centeno com todas as letras, preparando os sinos para virem a dobrar pela excomungada morte política e económica deste governo a quem não chegou o esbanjamento do excedente deixado pelo governo do Partido Socialista, nem chegarão as “históricas” (dixit Leitão Amaro) inaugurações propiciadas pelo Plano de Recuperação e Resiliência para recriarem as condições em que Cavaco Silva conseguiu a malfadada maioria absoluta.

Um dia, num futuro não muito distante, o patético ministro da Presidência ainda lamberá as feridas de tão colossal ... flop!

terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Winter is coming (for them)!

 

Tal qual o guarda-redes, que Peter Handke colocou como protagonista do momento do penalti, também boa parte dos diretores de informação dos vários canais televisivos terão sentido justificada angústia perante as imagens do grande jantar de homenagem a Mário Soares, que reuniu mais de duas mil e quinhentas pessoas eivadas do conhecido entusiasmo de o já terem vivido noutras alturas: o de emergir de todo aquele ambiente uma dinâmica de confiança perante o futuro imediato!

Se a realidade ainda não mudou à medida dos seus anseios bem podem acautelar-se as atuais marionetas do grande capital, hoje ainda a serem-lhes dele provedores enquanto aparentam ter algum poder: melhor será que vão pensando nos empregos, que se seguirão, porque o tempo das desilusões tenderá a acelerar-se com as greves e outras manifestações de descontentamento de quem colhera mirabolantes promessas e agora não as consegue cobrar. Como em A Guerra dos Tronos é mais do que evidente que winter is coming!

Para os angustiados responsáveis, confrontados com material noticioso sem vislumbrarem forma de o manipularem ou silenciarem, os últimos dias vieram-lhes dar amargos de boca porque, não só Mário Soares continua a merecer a admiração de boa parte da sociedade portuguesa - não resultando as toscas mentiras destinadas a denegri-lo! -, mas também não resultam as tentativas de menorizar Pedro Nuno Santos enquanto seu sucessor. Na coragem, na determinação, na consistência dos argumentos ele proferiu discursos, que foram muito além da competente retórica expressando o guião de uma estratégia eficaz para retomar o percurso interrompido pela conjura judicial, que empurrou António Costa para a demissão.

Não é só Marcelo a sentir que se era feliz e não se o sabia! Muitos andarão a senti-lo por esta altura! 

sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

As facetas contraditórias da herança de Mário Soares

 

Cometerei para alguns dos meus camaradas socialistas uma heresia, mas nunca fui um indefetível soarista, embora considere que as comemorações do seu centenário pequem por defeito sabendo-se o quanto o regime em que vivemos a ele tanto deve. Legitimamente bem merece o epíteto de “pai da Democracia” e, no entanto, não gostei nada da forma como andou de braço dado com um confesso espião da CIA (Carlucci) para torpedear o PREC e, nos tempos seguintes, tanto contribuiu para um atávico preconceito anticomunista em muitos militantes do partido.

E, se anos a fio, andou a  contrariar esse pecado freudiano de matar o pai (ou seja o partido onde chegou a militar!), ainda conseguiu discernir num tal Passos Coelho as qualidades que depressa se confirmariam serem só defeitos.

Os últimos anos, aqueles em que mobilizou as fracas forças físicas para contrariar esse passismo, e apoiar a mudança no seu PS, por algum tempo tentado a indecoroso conúbio com a direita, reconciliaram-no com esse passado mais glorioso em que afrontou valentemente o salazarismo e o marcelismo, sofrendo por isso as mágoas da deportação e do exílio.

Incomoda-me por isso que alguém como Sérgio Sousa Pinto ande numa azáfama, aqui e acolá, a vestir-se de viúvo do soarismo como se reivindicasse o estatuto de seu mais fiel continuador.

Como riquíssimo fenómeno político não existe um, mas vários soarismos e cada um - desde esse centro reformista disposto à concubinagem com a direita, como sucede com esse deputado, que nunca percebemos porque o é há tantas legislaturas! - pode encontrar o seu. No caso pessoal adivinho em Soares a lucidez de ter compreendido, antes do próprio Álvaro Cunhal, que a Revolução dos Cravos estava condenada, porque viriam novamente ao de cima os tais defeitos que Almada Negreiros referia como imprescindíveis a todos os povos completos, voltando os portugueses a esquecerem-se de muitas das qualidades, que haviam emergido até ao 25 de novembro de 1975.

No fundo o maior mérito de Soares foi o de colher a sábia lição de Karl Marx segundo o qual não seria avisado forçar a História, quando ainda não estavam reunidas as condições materiais e objetivas para que transitasse para o ciclo seguinte - o da sociedade pós capitalista, que antevia comunista, mas hoje exige a associação dos valores socialistas com os da preservação sustentável do planeta.

Nesse sentido, embora facilmente dado a emoção, tê-lo-á guiado a inteligência de não ter mostrado escrúpulo em travar uma dinâmica, que se revelaria perigosa nos efeitos e contraproducente quanto à possibilidade de, entretanto, pôr os portugueses a viverem bem melhor do que até então.

É por esse facto que lhe devemos tributo! 

segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Os pigmeus e a inveja pelos homens grandes

 

Discordo de quase tudo quanto escrevem Ana Sá Lopes e Clara Ferreira Alves, mas tenho de reconhecer alguma pertinência no que defende a primeira ao associar o aparente sucesso de Gouveia e Melo ao fascínio luso pelos “homens que mandam” na linha do que, no passado, beneficiou Ramalho Eanes ou Cavaco Silva. Mas, convenhamos que a experiência contrária, a de se deixarem iludir por um entertainer também não os deixou em melhores lençóis. Tendo-se constatado - com a derrota de Sampaio da Nóvoa em 2016 - que o eleitorado pretere  quase sempre os candidatos com melhores características para conferir à presidência a ética republicana, tão superlativamente demonstrada por Jorge Sampaio, espero que desta vez se livrem de aclamar o almirante e os comentadores televisivos (Marques Mendes, Portas ou Seguro).

Quem dera que António Guterres se livre a tempo do vespeiro nova-iorquino para acabar em beleza um apreciável percurso político. Mesmo não esquecendo quanto ele e Marcelo foram culpados pela demora em legalizar a IVG.

Livrar-nos-íamos assim de mais um daqueles pigmeus da História a quem, segundo a comentadora do Expresso, tanto custa reconhecer o valor dos gigantes. Aqueles que, por exemplo, se apressaram a garantir uma estátua no Areeiro, e o nome de um aeroporto, a um político quase sem História (para lá do seu larvar intriguismo e autoritarismo interno dentro do PPD), enquanto Mário Soares - cujo centenário, agora quase clandestinamente se comemora! -, tende a ser esquecido. Tendo sido ele um dos grandes vencedores do tal 25 de novembro, de que esses mesmos pigmeus procuraram apossar-se com a mais descarada das ilegitimidades.