Uma das questões suscitadas pela presente crise em muitos comentadores é a possibilidade de redundar em situações de extrema gravidade, como o possam ser guerras ou imposição de ditaduras. A fundamentarem tais receios existem exemplos históricos, que parecem repetir-se quer nas causas, quer nas possíveis consequências de tanta instabilidade social.
Comentava Irene Pimentel numa entrevista dada ao «Jornal de Negócios», que, hoje, numa situação de crise da democracia, de crise financeira, pode haver a tendência para procurar a solução num ditador populista, demagógico, que chegue aqui a dizer que amanhã resolve tudo.
Sabendo-se que Hitler chegou ao poder por meio de eleições supostamente democráticas, e atendendo a outros exemplos recentes (Berlusconi na Itália, Orban na Hungria ou Putin na Rússia) tal hipótese ganha pertinência..
Uma sondagem recente demonstrava a apetência de muitos portugueses pela rendição de todo o país a formas de governação não democráticas. O que levava Leonel Moura a reconhecer no mesmo «Jornal de Negócios» que não deixa de ser sintomático que uma quantidade apreciável de cidadãos encare formas autoritárias de poder como uma solução viável para a presente situação.
No mesmo sentido iam as declarações de Luke Marsh no «Público»: (…) em tempo de crise, procuramos alguém que mantenha a estabilidade, queremos conforto emocional e não algo que provoque reviravoltas emocionais. E, nesse sentido, a direita é melhor a lidar com as emoções e os medos das pessoas, a fazer discursos que aludem ao que as pessoas querem e à forma como se vêem a si próprias.
Para a esquerda abre-se um tempo de grandes desafios, em que se deverá superar a si mesma, reinventando-se e criando novas formas de credibilizar as suas propostas. Porque, segundo Wolfgang Merkel (que nada tem a ver com a chanceler alemã), a democracia está a enfrentar um grande problema, que é o progressivo afastamento das classes trabalhadoras do processo democrático. Deixam de votar, deixam de estar sindicalizados ou de se filiarem em partidos políticos. Com o declínio da participação eleitoral, as classes médias tornam-se cada vez mais predominantes e as classes mais baixas desaparecem.
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