São muitos os mitos sobre o Médio Oriente como se constata no livro de Fred Holliday, publicado pela Tinta da China e que os contabiliza num cento.
Da sua lenta leitura vale a pena aqui anotar algumas dessas mistificações porquanto elas nos impedem de uma perspectiva mais correcta sobre uma realidade, que nos pode atingir mesmo que de forma indirecta se se encaminhar para a agudização já tantas vezes ensaiada quer pelos falcões israelitas, quer pelos fundamentalistas islâmicos:
Todas as regiões, religiões e povos são, tal como os indivíduos, de certo modo únicos na sua origem e características, mas as características partilhadas com os outros são de uma escala incomparavelmente maior do que aquelas que nos distinguem. É por esta mesma razão que os estados, os povos e os demagogos de todos os quadrantes tanto se esforçam por exagerar a sua singularidade, bem como a dos seus inimigos. (pág. 21)
Moral da História: por muito que queiram demonstrar o contrário, israelitas e palestinianos têm muito mais em comum do que a dissociá-los. A começar pelo respectivo humor, que não é atributo exclusivo dos judeus: os povos do Médio oriente são os menos susceptíveis, mais capazes de se rirem dos seus governantes, dos seus vizinhos e de si mesmos, do que os habitantes de qualquer outra parte do mundo. (pág. 23)
Outro mito a refutar é a de imperar a barbárie naquela região: a história da Europa do século XX, bem como a brutalidade imposta por alguns dos dirigentes aos seus povos, ultrapassa em muito tudo o que podemos observar no Médio Oriente (pág. 26)
E essa superioridade bélica do Ocidente em relação ao Médio oriente mantém-se actual: nos tempos modernos não houve nenhum estado europeu que fizesse das boas relações com o mundo árabe ou muçulmano uma prioridade especial e todos tentaram tirar partido dele, territorial ou outro. (pág. 30)
Assim como a relação com os judeus por parte dos árabes: não restam quaisquer dúvidas de que o historial das atitudes das sociedades muçulmanas para com os judeus ao longo do último milénio é de longe mais positivo do que o da Europa, em particular no século XX. (pág., 35)
Mas os próprios judeus andam a alimentar-se de um mito sem fundamento: tal como o árabe, o nacionalismo e a religião hebraicos alimentam uma ficção linguística. A primeira objecção à ideia defendida pelos judeus nacionalistas de que estão a recuperar a língua hebraica é que, muito antes da destruição do Segundo Templo e da dispersão dos judeus em 70 a.C., o hebraico já tinha desaparecido enquanto língua falada na Palestina, onde foi substituído pelo aramaico, uma língua semita aparentada e que era falada por Jesus Cristo; esta língua sobrevive até hoje em algumas aldeias da Síria, a leste de Damasco.
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