O texto «Não tenha vergonha de querer a Lua» da autoria de Serge Halimi e publicado no Monde Diplomatique há já alguns meses, continua com pertinente actualidade e por isso vale a pena aqui recordá-lo.
Nele, Halimi escreve que as políticas adoptadas estão muito longe: são absolutamente racionais. E, no essencial, atingem o seu objectivo. Só que não se trata de pôr um fim à crise económica e financeira, mas de recolher os seus frutos, incrivelmente sumarentos.
Uma crise que permite suprimir centenas de milhares de postos de trabalho de funcionários públicos (…), cortar os seus salários e a duração das suas férias pagas, vender sectores inteiros da economia em proveito de interesses privados, pôr em causa o direito do trabalho, aumentar os impostos indirectos (…), aumentar as tarifas dos serviços públcios, reduzir as comparticipações das despesas de saúde, cumprir enfim o sonho de uma sociedade de mercado - uma tal crise constitui a providência dos liberais.
Em tempos normais, a mais ínfima destas medidas tê-los-ia obrigado a um combate incerto e feroz; aqui, tudo vem de uma vez só. Porque haveriam então de querer sair de um túnel que parece ser para eles uma auto-estrada para a terra prometida?
E, mais adiante, explica: Aparentemente a crise da dívida soberana decorre de mecanismos “complexos” cuja compreensão exige um domínio total das inovações permanentes da engenharia financeira: produtos derivados, prémios de incumprimento (os famosos CDS ou credit default swaps), etc.
Esta sofisticação dificulta a análise ou, melhor ainda, reserva-a ao pequeno cenáculo dos «compreendem», que são geralmente os que dela se aproveitam.
Eles ganham dinheiro com conhecimento de causa, enquanto que os «analfabetos» económicos pagam, imaginando talvez que se trata de um tributo devido ao destino.
Ou de uma modernidade que os ultrapassa, o que vai dar ao mesmo. Tentemos portanto concentrar-nos sobretudo na simplicidade, isto é, na política.
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