Passa-se pouca coisa no país, quando estão em discussão a fuga aos impostos da família Soares Santos ou as ligações maçónicas entre gente das secretas e a actual cúpula do PSD.
O que é verdadeiramente importante - o record atingido na taxa de desemprego da população activa ou a previsão de um número crescente de suicídios e de acidentes de trabalho num documento da Direcção Geral de Saúde - passa em notas de rodapé nas televisões e é abordado nas páginas interiores dos jornais.
O escândalo da gritante desigualdade de direitos entre a maioria dos cidadãos em relação aos mais abonados - que já quase tudo têm e ainda se apressam a mais querer - deveria criar um clima pré-insurrecional em que estivesse em causa o actual estado institucional. E, no entanto, os humilhados e ofendidos deste país e da generalidade deste Ocidente comprimido pelo garrote capitalista, estão claroformizados no seu medo, incapazes de reagir de encontro aos actuais Palácios de Inverno.
Bem sei que no inicio de Maio de 1968 a França entediava-se no dizer de um jornalista algo distraído das pressões em crescendo aí detectáveis. Mas as sobrepressões estão bem à vista e só espanta como ainda não se começaram a traduzir em reacções bem mais incisivas, capazes de amedrontar quem ainda se julga com todos os trunfos na manga…
Falta muito para que debaixo das pedras das calçadas se descubra a praia?
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