Não se esquecerá durante muito tempo a lamentável figura de João Proença a assinar o acordo com o Governo e com os patrões em sede de Concertação Social.
Se provas fossem necessárias para esclarecer qual o papel auto-imposto pela UGT relativamente à luta de classes em acelerada intensificação á sua volta, ficávamos de vez esclarecidos. A central conforma-se com o papel de voz do dono, que a História tem registado como matriz do seu comportamento político e social.
È a UGT nesta aceitação de ferramenta funcional da redução dos direitos e garantias dos trabalhadores e do fortalecimento da posição dos patrões, que dá azo ao protagonismo da CGTP nas grandes acções reivindicativas, que se seguirão.
Porque não se iluda Passos Coelho: haverá um tempo em que esta abulia, que parece ter-se apossado do colectivo da Nação por obra e graça de uma imprensa alinhada com a sua propaganda, irá terminar e as ruas encher-se-ão com quem se sente farto de perder o direito a qualquer sonho numa vida melhor.
Bem podem as sondagens continuar a agraciar o Governo com bons resultados, que a paciência irá esgotar-se e a luta social ganhará novo fôlego. Em Junho eu estimara em um ano, o estado de graça e a estigmatização do período socrático, mas veremos decerto esse prazo abreviar-se a muito curto prazo com os efeitos deste acordo, com o agravamento das condições de vida suscitado pela austeridade imposta aos mais desfavorecidos e com as escandalosas nomeações para o tal pote a que Passos e os seus cúmplices tanto pretendiam chegar...
Ora quem poderia já estar a acelerar a degenerescência da base de apoio do PSD e do CDS deveria ser o Partido Socialista, que continua sem encontrar o tom certo para um discurso mobilizador dos seus actuais e futuros apoiantes. Infelizmente António José Seguro vai demonstrando as razões, porque não lhe confiei o voto nas eleições internas para o mais recente Congresso.
A sua tibieza perante a catadupa de acontecimentos, que vão aumentando a potencial indignação da causticada classe média, seu potencial suporte político, tem-no distanciado da relevância que deveria ser a sua nestas circunstâncias. Embora tenha sido tão criticado, este é o tempo para a veemência de Pedro Nuno Santos em Castelo de Paiva reivindicando o direito de discordância com tudo quanto prescreve a troika ou a dupla Merkozy.
Por agora esse protesto continua limitado aos partidos à sua esquerda e aos sindicatos, facilitando a mistificação de uma suposta grande maioria em torno da cedência total aos ditames da lógica neoliberal de quem nos credita dinheiro a custos incomportáveis.
Mas não se pode permitir que Passos Coelho ou Portas continuem a vender a ideia de estarem acolitados por 80% dos portugueses. Eles sabem que não o estão, mas é preciso comprovar com evidências indesmentíveis. Por isso importaria que Seguro acompanhasse os deputados, que já pediram a análise à constitucionalidade das medidas mais gravosas do Orçamento de Estado, em vez de os desaprovar com outra lamentável figura, a de Carlos Zorrinho.
A luta justifica-se, pois, dentro do próprio Partido Socialista, com o imperativo de, a partir das bases, se exigir uma outra resposta às bárbaras políticas do Governo. Recuperando a lógica de os portugueses não serem números, que possam distribuir-se entre os que são convidados a emigrarem, a trabalharem por salários de miséria ou, simplesmente, a suicidarem-se por já não terem qualquer solução para garantirem a sua sobrevivência.
Às tristes figuras de alguns dos seus militantes, deverá o Partido Socialista arvorar os seus mais insatisfeitos dirigentes e catapultá-los para a afirmação de uma outra forma de encarar o futuro do país.
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