Muito embora a reacção ao mail anterior tenha pisado a fronteira da indelicadeza (para que conste os meus hábitos de bebida são bastante frugais!), insisto na atitude de protesto em relação aos textos direccionados contra o ex-primeiro-ministro José Sócrates. E isto, porque lendo jornais diariamente, tropeço nos comentários de quem tem por tal político uma obsessão doentia, seja porque acreditam piamente nas suas malfeitorias passadas, seja porque ela lhes serve de cortina de fumo em relação às malfeitorias presentes deste Governo de que se sentem cúmplices.
Primeiro que tudo admira-me que o Camilo Lourenço não tenha um sentido de justiça mais apurado desde que ocorreu consigo o lamentável episódio do BPN vs. Revista Exame, que então dirigia. Situação, que indignou muitos dos então leitores da revista, entre os quais me incluía, e que justificou o meu posterior alheamento dela enquanto leitor.
Ora, se alguém tem sido injustiçado há muito tempo tem sido o anterior primeiro-ministro!
Mas, depois, enquanto jornalista esperaria vê-lo desenvolver uma atitude sofista perante a recente campanha do «Público» contra ele.
Como é possível não congeminar a possibilidade real de se tratar de mais um episódio dessa pouco edificante estratégia de assassínio de carácter assumida por tal publicação desde os tempos de José Manuel Fernandes como director e que conheceu exemplo tão eloquente quanto o das supostas escutas a Belém?
É que até nem é difícil fazer uma campanha nos termos em que foi lançada, tendo em conta que existe uma significativa percentagem de socialistas dispostos a defender a legitimidade do voto contra do seu partido contra o Orçamento para 2012. São os socialistas, que acreditaram na possibilidade de existirem virtualidades no chamado PEC IV, que obviasse a tudo quanto veio a ocorrer posteriormente e que agravou profundamente as condições de financiamento da economia nacional. E que não esquecem a coligação negativa entre a direita, o PCP e o BE para derrubarem essa hipótese de salvaguarda dos direitos da grande maioria dos portugueses.
Adivinhar nesse consenso uma suposta interferência telefónica proveniente de Paris é insultuoso para quem defende consistentemente essa posição de principio, como se precisássemos de lideres iluminados, mesmo a residirem na cidade-luz para nos esclarecerem das posições políticas mais adequadas,
Ripostar-se-á facilmente, que as hesitações da srª Merkel e do sr. Bruni impediriam o sucesso daquela estratégia. E que tornariam fútil esse esforço. Mas o que esteve subjacente à condenação do PEC IV foi a política politiqueira dos actuais governantes, que tiveram uma tal pressa em chegar ao suposto pote, contra o interesse da generalidade dos cidadãos, que não pensaram nas consequências gravosas das suas votações de então.
Que legitimidade terão agora para criticar a votação dos socialistas, agora que a relação de forças se inflectiu?
E é isso que torna condenável o seu texto de hoje («O "tanto pior, melhor" de Sócrates»): assacar ao político hoje exilado o comportamento facilmente imputável aos seus lamentáveis sucessores!
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