Em alternativa ao execrável Crespo, que apresenta os 60 minutos na SIC Notícias, a ARTE tem aos fins-de-semana o seu programa de reportagens bastante mais interessante do que aquele. Porque possibilita uma leitura aprofundada sobre alguns dos acontecimentos mais marcantes dos nossos dias a nível global, mas também porque os não limita à perspectiva estreita inerente à forma norte-americana de olhar para fora do seu contexto.
No programa desta semana estiveram em causa o Haiti e o Azerbaijão.
No primeiro caso está a tornar-se evidente o fenómeno comum de ver a vida política tomada de assalto pela demagogia populista, completamente incompetente para corresponder aos desafios de uma realidade muito mais complexa do que pressuporiam as suas supostas soluções primárias.
Explica o site da ARTE: Surpreendentemente eleito com 61% dos votos, Michel Martelly, ou Sweet Mickey para os seus fãs, é um óvni no mundo político haitiano.
Impulsivo, os seus excessos verbais e estilo directo, dificultaram a sua acção nos primeiros seis meses de mandato, em que só conseguiu formar um governo ao fim de cinco.
Durante essa espera o povo haitiano continuou entregue ao sofrimento da pobreza mais extrema. É que, dois anos depois do terrível terramoto ainda sobram seiscentas mil pessoas alojadas em precárias tendas.
A reconstrução continua por cumprir-se com a demolição dos destroços a sequer atingir os 40% previstos. Por outro lado dos 11 mil milhões de euros de ajuda prometida apenas chegou 1/3 e o mundo vai passando ao lado de toda essa tragédia.
Michel Martelly, o presidente cantor, ainda nada fez, mesmo ainda mantendo intacta a sua popularidade. Embora se vá sentindo que os haitianos esperam mais do que meras canções...
No caso do Azerbaijão, fica demonstrada a precariedade dos regimes autoritários, mesmo que supostamente democráticos, perante a contestação operada a nível das redes sociais. Mesmo considerando uma evolução muito positiva da qualidade de vida da maioria dos seus cidadãos à custa da exploração intensiva dos seus recursos naturais. A chamada Primavera Árabe não se resume ao Magreb ou ao Médio Oriente, expandindo-se para outras fronteiras, aonde se repetem as mesmas especificidades políticas. Mesmo que o resultado de tais supostas revoluções ainda permaneça imprevisível.
Decidido a preservar o «modelo azeri» e os privilégios usufruídos pela sua família, o presidente Aliev reprime com dureza as manifestações, que se multiplicam por influência da primavera árabe.
Na última primavera, foi pela Internet, e sobretudo pelo Facebook, que a oposição azeri conseguiu organizar os seus simpatizantes para exigir a deposição do presidente Ilham Aliev, que está no poder desde a morte do pai em 2003. Uma mobilização imediatamente reprimida pela polícia.
De Baku, a capital, o Ministério do Interior pediu à Interpol a prisão do bloguista Elnur Majidli, exilado em França, e inculpado de tentativa de golpe de estado, que se apresentara como candidato nas mais recentes eleições locais.
A Interpol recusou esse pedido, mas Elnur Majidli arrisca doze anos de prisão se regressar ao seu país, pelo que prossegue o seu combate a partir da Casa dos Jornalistas em Paris, com contactos via skype com a família e os amigos. Hoje, eles contestam a ditadura azeri de face descoberta cientes de como a mediatização internacional será a melhor forma de protecção face às pressões do regime...
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