sexta-feira, 3 de junho de 2011

Olhar para o dia seguinte!

As sondagens vão pressupondo uma vitória significativa da direita nas eleições do próximo domingo.
Será algo difícil de suportar, mas convenhamos que este aculturado povo está a precisar de viver um sério aperto por não ter valorizado devidamente um governo com obra feita ao longo de meia dúzia de anos.
Pelo contrário deixou-se levar pelos permanentes assassinatos de carácter perpetrados contra José Sócrates sem compreender que quem usa a difamação como estratégia é por não ter argumentos bastantes para demonstrar as suas razões.
Agora espera-nos um governo à deriva, que usará até à exaustão o argumento da «pesada herança», mas incapaz de compreender o quanto isso poderá valer-lhe no primeiro ano, já que no segundo nada lhe será perdoado. E Passos viverá o drama de ser um frouxo a contas com o maquiavelismo de um Portas decidido a mudar a correlação de forças na direita de forma a pretender alcandorar-se um dia à função de primeiro-ministro.
E, mesmo dentro do PSD, bem se sabe como ali se vive um ambiente irrespirável com facções dispostas a lutar pelos interesses de quem lhes paga enquanto «lobbistas» e outras decididas a conservar os que os contestam tão activamente, a começar pelas grandes corporações ligadas à justiça e à saúde. Sem esquecer as escolas, que se voltarão a incendiar à menor faísca.
Não vêm aí tempos fáceis para os portugueses, mas muito menos para o PSD de Passos Coelho, fadado para um fracasso semelhante ao de Durão Barroso, que saiu atempadamente do país antes que lhe começassem a cobrar as contas, que ele não saberia como pagar.
Daqui a um par de anos, quando Portas se sentir capaz de brigar pela vitória eleitoral, o Governo cairá. E o Partido Socialista deverá aproveitar esse momento para cobrar as ilusões desfeitas numa alternativa ultraliberal e prosseguir a obra reformadora por ora interrompida.
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Um bom exemplo de como a direita pode ter muita prosápia verbal, mas não encontra qualquer solução miraculosa para uma crise - que o é do sistema capitalista no seu mais profundo fundamento - vive-se hoje em Inglaterra aonde se acentuam os sinais de um futuro devastador.  Escreve a esse respeito Paulo Querido no «Jornal de Negócios»: A redução de custos do governo britânico está a ir depressa demais - disse ontem, para surpresa geral, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico. Dera apoio total às políticas de Cameron, mas agora está preocupada com os efeitos: a economia britânica está parada e o desemprego permanece altíssimo. Mas o problema maior começa a ser esta desorientação global patente aos mais altos níveis.
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A falta de soluções para os impasses políticos e económicos vividos pelas nossas sociedades é tão evidente, que vai aumentando o número dos que já vão assumindo o que não querem, muito embora desconheçam o caminho alternativo a seguir. Em tempos que já lá vão as diversas versões de comunismo poderiam servir como estandarte viável, mas Gorbatchev e Ieltsin encarregaram-se de pôr fim a essas ilusões.
Se até o director do Jornal de Negócios se inquieta com os movimentos contestatários nas praças centrais das cidades espanholas e agora chegadas ao Rossio, podemos prever em mudanças iminentes: Também a Europa se subleva, mas contra outra ditadura. A ditadura da «financeirização» das nossas vidas. Das dívidas. Dos impostos que as pagam. De um modo de fazer política que prospera na excepção e acomoda a corrupção. Da falta de oportunidades, de empregos. De um certo nojo do sistema, que os exclui.

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