O Diário de Notícias de hoje aborda um dos grandes problemas com que se confronta a sociedade portuguesa actual: com mais de oito milhões de cartões de crédito em circulação, Portugal é um dos recordistas da Europa no endividamento.
Essa irá ser uma das grandes mudanças comportamentais a que os portugueses se irão sujeitar nos próximos anos: refrear a ilusão criada pela entrada na União Europeia de já estarmos próximos dos padrões de consumo dos demais povos europeus. Pelo menos dos que nos serviam de modelo de referência: alemães, franceses, quiçá mesmo os espanhóis.
Porque não se ganhava o suficiente para tal, surgiram milhentas oportunidades para comprar já e pagar depois. E não foram só as casas tão necessárias porque as não havia para arrendar. Viagens, férias, automóveis, mobílias, aparelhagens e outros gadgets electrónicos, etc.
No fim desse delírio colectivo, milhares de pessoas descobriram-se sem emprego, sem os bens que haviam utilizado provisoriamente e entregues ás mãos de uma divina providência, que prima pela sua natural ausência. Mesmo que, em terra de pastorinhos, a mistificação religiosa ainda vá temperando a queda abrupta na realidade
Por estes dias só o recato a que os jornais e as televisões se remetem na matéria é que não se noticiam os suicídios, que para muitos significa o final do caminho. Para a grande maioria começa agora aprendizagem de uma vida em moldes muito mais comedidos do que o tinham sido até então.
A festa acabou, como diria a canção do Chico Buarque. E o despertar para a realidade anuncia-se angustiante, porque imprevisível nos seus obrigatórios contornos…
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