Das leituras dos jornais de hoje sobram três artigos, que ajudam a relativizar muito do que se vai dizendo nas notícias de abertura dos telejornais. Por exemplo, num texto do «Jornal de Negócios» sobre a Itália de Berlusconi revela-se que a dívida italiana ascende actualmente a 120% do PIB, ou seja a um índice muito superior ao da Grécia, da Irlanda ou de Portugal, quando solicitaram a ajuda do FMI.
Donde se conclui que estes ataques a dívidas soberanas pouco têm a ver com as dimensões do problema, mas quanto à (in)capacidade dos pequenos países resistirem a contínuos ataques dos especuladores financeiros.
Noutro texto, publicado no «Diário Económico» conclui-se que Portugal (…) passou de um país de aforradores para um país de consumidores endividados em poucos anos. Entre 1966 e 1985 a taxa de poupança dos portugueses em percentagem do rendimento disponível situou-se sempre acima dos 16,5%, atingindo o máximo histórico de 30,5% em 1972. O fim do século XX e o início do século XXI assistiram a uma degradação da capacidade de poupança dos portugueses que atingiu o ponto mais baixo em 2007, quando a taxa de poupança se situou em 7.9%. Pensou-se que a poupança poderia aumentar com a crise, mas tal não está a acontecer. Sinal disso é o facto de as famílias estarem a poupar quatro vezes menos no final do primeiro trimestre deste ano do que em igual período do ano passado.
Mas, muito embora, persista a falta de valores enunciada por Vítor Bento no seu ensaio «Economia, Moral a Política» como uma das causas para os desequilíbrios estruturais da economia portuguesa e que urge recuperar (de preferência sem recurso ao ópio religioso!), as pessoas estão tão descapitalizadas por tantos créditos assumidos, que dificilmente encontrarão capacidades acrescidas de poupanças. Ora, sem poupança não há investimento e sem investimento não há desenvolvimento da economia nem se diminui o défice externo. É, por isso, urgente quebrar este ciclo vicioso e fazer com que os portugueses voltem a poupar.
Nos tempos, que aí vêm, os governantes terão de dar provas significativas de criatividade para inventarem as soluções minimizadoras das sequelas das medidas impostas de fora. De nada valerão os que se limitam a criticar, sem se mostrarem capazes de enunciarem alternativas credíveis. Restar-nos-á a determinação de Sócrates, mesmo que muito dado á poesia criativa. Mas como dizia Confúcio, é próprio de um espírito sem vergonha preferir o papel do crítico que censura ao do poeta que cria.
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