sábado, 11 de dezembro de 2010

A Direita entre a autoridade e o seu vazio ideológico

Numa das suas crónicas para o «Jornal de Negócios», o artista plástico Leonel Moura reconhece duas verdades insofismáveis:
Muda-se de país, mas a direita continua a mesma: a autoridade está sempre à frente da felicidade e não se consegue ter uma conversa racional com gente que pensa e se comporta com base no fanatismo religioso e irracional.
E embora haja uma verdadeira islamofobia por parte da direita política de vários países ocidentais, só por miopia ela demora a concluir o quanto de consonância existe entre a sua versão autoritária dos comportamentos socialmente aceites com a perspectiva proibicionista dos regimes árabes mais conservadores. Sobretudo em tudo quanto diz respeito à sexualidade. Por isso, quer na negação dos direitos dos homossexuais, quer na aceitabilidade do aborto enquanto meio de afirmação de uma paternidade responsável, essa direita preconceituosa está de mãos dadas com os mais fanáticos dos talibãs.
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É uma pena que Schumpeter tenha razão, quando constata que os eleitores continuarão a julgar a política pelos resultados de curto prazo. O que significa sujeitarem-se a todas as formas de manipulação das consciências, que de forma mais ou menos demagógica, é propalada pelos agentes políticos.
É claro que as campanhas em prol dos velhinhos e dos agricultores, propagandeada por Paulo Portas em feiras, é de um primarismo tão óbvio, que dificilmente captará votos nas camadas mais urbanas.
E também, mesmo protagonizando um autêntico vazio de ideias, Pedro Passos Coelho procura valer-se da regra de repetição milhentas vezes da mesma mentira («Governo esgotado») para aparentar o protagonismo de uma alternativa, na realidade, inexistente.
Nesta altura os eleitores estão obcecados pelos aspectos mais imediatos da sua sobrevivência para atenderem a grandes conceitualizações sobre o momento histórico em que vivemos. Aquele em que o capitalismo já não encontra forma de se reivindicar e manter a lógica de exploração em que assenta, mas em que ainda não surgiu uma visão consistente de um projecto alternativo.
Arriscamo-nos a passar de eleição para eleição para mais do mesmo sem conseguirmos sacudir as limitações, que nos tolhem.

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