sexta-feira, 30 de maio de 2025

Placebos em forma de rituais

 

Julgaria tratar-se de um daqueles rituais condenados ao desuso, tendo em conta a evidente falta de relação entre o ramo tradicional da Quinta-feira da Espiga e a sorte e prosperidade que deveria proporcionar num futuro próximo.

Estava enganado, claro! Num breve passeio às horas mais amenas do asfixiante dia de ontem, lá encontrei pessoas a empunhar ou a colher flores para o referido ramo.

Dir-se-ia que é uma forma de honrar os antepassados, celebrando a simplicidade da sua relação com a natureza, mas equaciono qual a relação com a crença religiosa de ser cumprida quarenta dias depois da Páscoa, a pretexto de ter sido esse o espaço temporal entre a morte de Cristo na cruz e a suposta subida aos céus.

Convenhamos que, para almejarem dias melhores, as pessoas têm melhor solução para serem bem-sucedidas: deixarem-se de crenças tolas e cuidarem de associar-se em lutas com os da sua condição para melhor combaterem quem as quer continuar a explorar.

segunda-feira, 26 de maio de 2025

Um partido mole perante tantos feios, porcos e maus?

 

1. Disse-o Pacheco Pereira na CNN que, quando perde eleições, o Partido Socialista escolhe tendencialmente uma liderança mole.

É isso mesmo que representa a anunciada pretensão de José Luís Carneiro para vestir esse fato e dar continuidade à tradição. O que, para mim, militante socialista com quase quarenta anos de ligação ao partido, é lamentável. A começar pelo facto dele não se medir convenientemente e não perceber que não tem as características adequadas para ser bem sucedido.

Numa altura em que o marketing é tão importante para o sucesso politico, José Luis Carneiro é um óbvio erro de casting, como o foi António José Seguro. Já para não falar do seu pensamento ideológico, muito pouco social-democrata e muito menos socialista!

O que significa isto: agora a vida pessoal não me permite fazer militância ativa (essa é toda dedicada aos cuidados a dar à minha cara metade numa fase da vida em que ela precisa de mim vinte e quatro horas por dia!), mas estivéssemos ambos na nossa mais pujante condição decerto não dedicaríamos sequer um minuto para ajudar este que nunca será o meu líder!

A liderança melhor sucedida do PS seguirá dentro de momentos depois de mais um lamentável intervalo!

2. Noutro programa da noite Susana Peralta deu explicação alternativa para as crises de André Ventura. Em vez da ideia mais comum de risível farsa teatral ele terá simplesmente mordido a língua e despoletado todo o veneno, que se lhe associa à composição da saliva.

Tanto bastou para que, aqueles em tempos definidos por Ettore Scola como feios, porcos e maus, se tenham compadecido e apoiado com o seu voto, quando já estavam embalados pela patética banha da cobra.

3. E se comecei com Pacheco Pereira com ele termino, porque é verosímil o que prognostica: depois de ter agido com objetivos eleitorais no último ano a AD já não dispõe da herança deixada por Medina para distribui-la insensatamente por quem mais vociferara contra o governo de António Costa. Sem dinheiro a rodos nos cofres não terá meios de prosseguir nessa ilusão para uns quantos e enfrentará o desequilíbrio das contas públicas, que a levará a apertar o cinto.

As cenas dos próximos capítulos na (des)governação de Montenegro não prometem ser tranquilas. E, digo-o eu, terão de ser as esquerdas a voltar a enfrentar o boi pelos cornos, não deixando que sejam os fascistas a aproveitarem-se da agravada crise social. 

sexta-feira, 23 de maio de 2025

Respirar fundo e, intrépidos, retomar a escalada com acrescida coragem

 

Nunca pensei chegar a este extremo mas, no Eixo do Mal,  ver o meu pensamento representado pelo Luís Pedro Nunes era hipótese, que julgaria mais do que improvável num passado em que sempre o tive como representante da ala mais à direita do comentário televisivo.

O que ele disse é, porém, o óbvio: sejamos sensatos o suficiente para reconhecer que a História é feita de ciclos e este é daqueles em que os lobos uivam, mas engana-se quem julga parada a realidade, que não deixará de ter dinâmica própria. Que poderá passar, inevitavelmente, pelo ocaso do trumpismo, do putinismo e, já agora, desta liderança ursuliana da União Europeia, tão incompetente para potenciar as mudanças inerentes à dimensão da sua escala económica.

Certo é que o Ventura teve pouco mais do que um quinto dos eleitores a darem-lhe o voto, o que não deixa de configurar de patética a sua arrogância danosa. Sendo a montanha a que quer ascender, muito maior do que o seu mentiroso voluntarismo é crível que acabará esgotado a meio da escalada, cabendo às esquerdas ganhar balanço para o deixar definitivamente para trás. 

terça-feira, 20 de maio de 2025

Coragem, Portugueses!

 

Olho para a realidade pós–domingo e vejo confirmadas as palavras de uma jovem que, na semana passada, dizia-me sentir-se inquieta por muitos amigos lhe dizerem ir votar na extrema-direita por quererem ver mudanças. Não interessaria quais, nem como, apenas para algo de diferente, porque o balanço logo se veria.

Consulto os números e vejo que o concelho onde vivo, o Seixal, que sempre teve ampla maioria de esquerda no eleitorado, deu a vitória ao nheca-nheca. Dizia Paulo Pedroso, que as esquerdas têm de se questionar porque deixaram que, para além dos jovens, as pessoas outrora convictas em votarem PCP ou PS, penderam agora para o polo contrário.

Razão ainda para o título (que não para boa parte do conteúdo) do editorial de David Pontes no Público, quando  constatou acordarmos esta segunda-feira para um novo país, a cheirar a velho.

Mas constato que a generalidade dos comentadores, para quem é evidente um clima propicio à governabilidade da AD nos próximos dois ou três anos, esquece o fundamental: pelo que se vê nos indicadores mais recentes (queda do PIB, aumento da inflação), associados aos agravados problemas na saúde, na habitação e até na educação e investigação científica, a paz social será difícil de manter não faltando greves, manifestações e outras revoltas, que as esquerdas terão o dever de liderar ou, no mínimo, acompanhar.

Ademais, pela amostra do que têm sido os últimos anos, não será improvável, que os casos de justiça continuem a focalizarem-se em muitos dos eleitos e simpatizantes do Chega, porventura levando muitos deles a perguntarem-se se continuarão a querer associar-se a tal gente.

Nesse contexto estaremos num daqueles momentos da História em que  paramos num cruzamento: ou as direitas avançam para a repressão pura e dura de quem contestar o seu projeto de agravamento das desigualdades sociais - e isso implicará a crescente  influência da sua vertente fascista! - ou as esquerdas renascem das cinzas e toldam-lhe a capacidade para causar maiores danos em quem (sobre)vive em pior dificuldades.

Este foi o momento que dá razão ao que Almada Negreiros escreveu no Ultimatum Futurista às Gerações Portuguesas do Século XX, no mesmo mês em que a Revolução Russa culminava na vitória bolchevique: "O povo completo será aquele que tiver reunido no seu máximo todas as qualidades e todos os defeitos. Coragem, Portugueses, só vos faltam as qualidades."

Cabe às esquerdas irem à procura delas!

segunda-feira, 19 de maio de 2025

Um momento de apneia até ao próximo fôlego

 

São poucas as vantagens da idade avançada, mas uma delas é a convicção de já ter passado por muitas vicissitudes e todas elas apontarem para a efemeridade do que se vive.

Chegámos a uma situação em que, no mundo em geral, e Portugal em particular, as direitas ganham primazia significativa sobre as exaustas esquerdas? Sim, é verdade! Mas longe vão os tempos em que vivi enormes deceções causadas por acontecimentos, que pareciam vir a ter consequências complicadas na nossa vida quotidiana. E alguns tiveram-nas de facto!

Agora as emoções já não me perturbam num ou noutro sentido: relativizo cada vitória e cada derrota com a certeza de nenhuma delas vir a ser definitiva. Não há fins na História porque, até mesmo se o planeta sufocar com carbono a mais e recursos a menos, ele continuará a vogar pelos espaços siderais com mais ou menos seres vivos, humanos ou não.

Atrás de tempos, tempos vêm, e os de tristeza alternam com os de alegria capazes de devolverem as mais inauditas esperanças.

Estamos na cava entre duas ondas, uma que quase nos submergiu, e as que vêm a seguir e podem ser bem mais bonançosas.

Numa delas - tão próxima quanto possível - até voltaremos a subir para a prancha e, garbosamente verticalizados, deslizaremos para onde a margem prometa mais aprazível chegada.

Até a noite mais escura comporta a janela iluminada por onde haveremos de passar...

quinta-feira, 15 de maio de 2025

Tudo isto é triste, tudo isto é fado

 

O que custa aceitar é haver crédulos bastantes para atribuírem verosimilhança à farsa teatral de André Ventura. Para a generalidade dos amigos, que me instaram a comentar o caso, nenhum se deixou iludir por um episódio destinado a replicar Bolsonaro ou Trump na estratégia do pobre coitadinho. Mesmo resumindo-se o caso a um pífio caso de azia.

Mas havendo tanta gente ainda a acreditar que a Terra é plana, só nos podemos espantar pelo défice de inteligência, que afeta quem se deixa iludir pelo charlatão.

terça-feira, 13 de maio de 2025

Atrás de tempos, tempos vêm

 

O aumento em 20% dos bebés mortos no último ano é, para além da tragédia para eles e suas famílias, a confirmação do que se sabe: este desgoverno não tem ponta por onde se lhe pegue! Os repetidos autoelogios goebellsianos do dito farol medem-se na saúde, na habitação,  na educação, e investigação, e não menos explicitamente na falta de qualidade de vida da generalidade dos cidadãos.

Justifica-se equacionar o que teria acontecido se não houvesse a lauta almofada financeira, que António Costa e Fernando Medina deixaram, e rapidamente desbaratada sem outro ímpeto, que não o de silenciar protestos e aparentar uma falsa paz social, que, ferroviários à parte, dá conta de uma bonança à beira de se transformar em fortes temporais para as direitas se forem elas a continuarem a dispor do tal pote, que lhes tem permitido inundar as chefias das instituições públicas com os seus incompetentes boys.

Há quem avente a forte probabilidade de se repetirem eleições daqui a um ano, porque a crise vai obrigar os suspeitos do costume a avançarem com as receitas de sempre: beneficiarem quem já tudo tem e obrigar a apertar ainda mais o cinto a quem já não tem mais buracos para o fixar.

Na sua costumada lucidez a comentadora Carmo Afonso diz que é tempo das esquerdas mostrarem nervos de aço e deixarem passar esta onda, que fez as direitas serem sociologicamente maioritárias. As frustrações dos crédulos no trumpismo ou no doido argentino, tenderão a infletir a direção dos ventos como já começa a constatar-se em distintas geografias. E caberá às esquerdas retomarem o encontro das suas gentes com os cantantes amanhãs... 

sábado, 10 de maio de 2025

Na senda das táticas do antigamente

 


Fátima, Futebol e Fado: com as devidas alterações um primeiro-ministro, que já nem se esforça por distanciar-se da herança fascista - pondo em causa à liberdade de imprensa e o direito à greve e criando um restyling das conversas em família - tem usado a estratégia dos três éfes para perenizar-se no poder.

Ir à Fátima numa colagem ao tempo dedicado pelos crédulos às novidades papistas, beneficiar de um hiato na campanha à conta de uma futebolada e substituir a canção tradicional de Lisboa pela pimbalhada de fazer coro com um plagiador que, se não esconde a careca sob uma cabeleira postiça, bem parece, é a forma mais expedita para iludir os incautos capazes de acreditarem em mentiras ditas com todos os dentes, mesmo os que lhe faltam na boca.

Onze meses já bastaram para perceber que o SNS vai a caminho da destruição, a habitação continuará a ser um bem de luzo para exígua minoria e a segurança social não tardará a ser entregue aos interesses privados se tivermos de aturar a mesma seita nos próximos quatro anos.

Os resultados económicos de tanta incompetência já estão à vista quer na retração do PIB, quer no crescimento da inflação e só poderá ir de mal a pior com quem se limitou a gastar a almofada recebida do governo anterior e entende o exercício do poder como uma indecorosa distribuição de prebendas pelos amigos e familiares (vide a quem foi agora entregue bem remunerado cargo na Lusoponte!).

Há sempre a esperança de que os eleitores desmintam as tendências das sondagens, mas parece vigorar uma anestesia das dores que os explorados deveriam sentir sob a forma de consciência de classe. Por ora parecem drogados pela ação nefasta dos media  controlados pelas direitas.

Presume-se que, se se deixarem enganar no dia 18, o despertar vá ser doloroso!

sábado, 3 de maio de 2025

O castelo de cartas a abanar

 

A economia a revelar as “maravilhas” do “Centeno” do PSD: o decrescimento da economia no primeiro trimestre e a subida da inflação. Daí a pressa de Montenegro em precipitar as eleições: enquanto houve a almofada deixada por António Costa foi só folgança, agora que se revelam os méritos da (des)governação da sua equipa de ministros medíocres, e alguns francamente maus de mais para sequer os dar como émulos do principio de Peter, o castelo de cartas começa a ruir. E o eleitorado pode ainda ir a tempo de se livrar de um chorrilho de ilusões falsas.

Quinze dias pode parecer pouco tempo, mas para Montenegro & Cª arrisca-se a parecer uma eternidade...

sexta-feira, 2 de maio de 2025

Sobre provérbios populares e futebolísticos prognósticos

 


Em poucos dias estão a repetir-se as reviravoltas em cenários eleitorais em que eram dadas como certas as vitórias das direitas e são as forças politicas de centro-esquerda a saírem vencedoras.

Sucedeu assim no Canadá, está iminente que se repita na Austrália. E como, lá diz o povo não haverem duas sem três, tudo se pode conjugar para que o Partido Socialista saia vencedor das eleições de 18 de maio.

Basta que a direita continue a dar os tiros no pé de acordo com a sua verdadeira natureza: a de trafulha, que levou Montenegro a organizar ações de campanha eleitoral financiadas pelo erário público e “abrilhantada” por um bem pago cantor pimba, considerando-a depois normal na lógica de não ter noção dos parâmetros éticos, que lhe são exigíveis em pleno período de pré-campanha eleitoral.

Há também a natureza censória dos Hugos da bancada parlamentar do PSD, ao pretenderem descobrir quem serviu de fonte aos jornalistas para mais uma notícia indecorosa sobre o mesmo Montenegro. Declarações que já mereceram veemente repúdio do Sindicato dos Jornalistas, que as denuncia como atentados à liberdade de imprensa e de expressão.

Mais eloquentes prometem ser as notícias das próximas semanas sobre a Spinumviva. Se dantes dizia-se que, em Lisboa dava-se um pontapé na calçada e saía de lá um fadista (hoje o mesmo sucede no Alentejo com os cantores supostamente influenciados pelo “canté”!), há fortes hipóteses de muitos jornalistas darem com mais novidades sobre a empresa do primeiro-ministro tão-só arrisquem uma saída das suas redações. Depois de tantas novidades, a Spinumviva promete ser arca ainda mais funda do que a pessoana.

Apesar das sondagens não justifica acreditar nas ditas tendências sugeridas pelas sondagens. O conhecido capitão do F.C. Porto tinha a razão do seu lado quando, candidamente, achava só haver sentido nos prognósticos recolhidos no fim do jogo.

quinta-feira, 1 de maio de 2025

Agarra que é ladrão!

 

Foi uma das frases mais recorrentes de Luis Montenegro, quando queria contestar Pedro Nuno Santos: alegar que ele não era sério! Logo ele, que tem a (falta de) seriedade em questão nas eleições de 18 de maio.

Sabendo-se acusado de pouco ético nas atividades “empresariais”, o ainda primeiro-ministro foi um bom exemplo prático da imagem do ladrão em fuga disposto a sacudir a atenção dos circunstantes olhando para a frente e grasnando estar a por ali escapar-se o suposto meliante.

Quanto ao resto do debate - que valeu o expetável tendo em conta o espartilho das regras a cumprir! - ficou demonstrada a incapacidade de Montenegro para reagir a situações excecionais portando-se como barata tonta durante boa parte do apagão da passada segunda-feira.

Para além da falta de vergonha perante tantos falhanços na (des)governação, como poderia justificar com seriedade (voilá!) o embuste das suas previsões financeiras, o rotundo falhanço na saúde e na habitação?

Se, depois de tanta mentira, o eleitorado não ganhar juízo, esperam-nos tempos muito sombrios. E não só à conta das trumpices e putinices, que já por eles faria pairar nuvens assaz escuras. Sempre com a certeza de, atrás de (maus) tempos, outros (melhores) hão-de vir!