sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Somos espiados sem o sabermos

 

Um documentário no canal Arte - "Pegasus, um espião no seu bolso" de Anne Poiret - volta a trazer-nos o escândalo sobre uma tecnologia de ciberespionagem israelita, que tinha, entre os seus alvos, abrangido o próprio telemóvel de Emmanuel Macron.

Extrapolando para os crimes agora em curso em Gaza e na Cisjordânia, com expressão noutros países vizinhos do Estado genocida, demonstra-se o perigo deste tipo de tecnologia, que Edward Snowden avisa não ser exclusivo dos israelitas e poderá atualmente afetar muitos milhões de pessoas sujeitas a vigilância clandestina, incluindo quem escreve e quem lê este mesmo texto.

O filme não se limita a expor o software, criado pela empresa israelita NSO Group, mas revela os rostos e as histórias por trás da espionagem. O caso do jornalista Jamal Khashoggi, brutalmente assassinado depois de ter sido monitorizado por esta tecnologia, é um dos exemplos mais arrepiantes da forma como a ciberespionagem é um instrumento de repressão. O documentário mostra ainda como o Pegasus foi usado contra uma princesa árabe, raptada quando tentava fugir para o ocidente, e foi a ferramenta de vigilância de governos em países como o Azerbaijão, o México ou o Ruanda, onde a liberdade de expressão é uma miragem.

A ligação entre a NSO e o governo israelita é a chave para entender esta ameaça. A empresa, que se define como "líder em segurança cibernética", só pode exportar o seu produto com a aprovação do Estado de Israel. Esta autorização oficial transforma uma ferramenta de vigilância, apresentada como uma arma de combate ao terrorismo, num produto de comércio global, vendido a governos autoritários que usam-na para calar dissidentes, perseguir jornalistas e intimidar ativistas de direitos humanos.

Assim, o perigo que o filme revela ultrapassa o controlo de um governo isolado. Demonstra que a tecnologia, longe de ser um instrumento neutro, é uma arma de poder que, uma vez disseminada, coloca a privacidade, a liberdade de expressão e a segurança pessoal à mercê de forças que operam nas sombras. O que antes era um ato de paranoia, como proteger o telemóvel do mundo exterior, torna-se uma necessidade de sobrevivência, um passo crucial para quem recusa ser uma simples peça num xadrez de vigilância global. 

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