sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Enquanto esperamos por tempos melhores

 

Ligo a televisão e ainda passam extratos do debate parlamentar de ontem. De um lado o primeiro-ministro enfiado num fato demasiado largo para as exíguas capacidades que demonstra. Do outro o demagogo da extrema-direita, recorrendo ao estafado papão dos imigrantes para justificar o tom exaltado com que vai enganando os seus crédulos seguidores.

Contraria-os uma esquerda minguada, tendo a liderar o seu maior partido quem, ao jeito de um sacristão provinciano, vai proferindo umas verdades sem carisma nem consistência ideológica por não demonstrar onde está situada a raiz de todos os males: neste capitalismo serôdio que teima em reinventar-se.

Agora fá-lo por conta dos donos das ferramentas algorítmicas. Estes alteram a visão cognitiva dos que, à luz da interpretação marxista, não deixam de ser os explorados, desejosos de aceder aos padrões de vida dos multimilionários sem entenderem quão fúteis são as miragens com que se deixam guiar pelos seus desertos pessoais.

Este cenário de mediocridade generalizada encontra eco na própria instrumentalização do sistema. No entretanto, e com o espalhafato do costume, o ministério público e a judiciária fizeram uma operação mediática para voltar a comprometer Pedro Nuno Santos com a requentada novela sobre a indemnização atribuída a uma antiga administradora da TAP, quando era ministro.

Quase por certo a ação em nada resultará. Mas a direita, que parece dominar essas instituições de "justiça", consegue o mais importante: desviar as atenções do caso Spinumviva, que compromete seriamente o primeiro-ministro, atirando com mais uma cortina de fumo, esperarão, porventura, armar confusão bastante para livrar Luís Montenegro da encrenca em que se vê.

O despudor marca toda esta governação. Tem sido essa a marca de Carlos Moedas que, sem obra própria para mostrar em Lisboa, faz suas as muitas recebidas em andamento da gestão camarária de Fernando Medina, publicitando-as como suas. E o  mesmo faz Montenegro com as contas públicas: tratou de correr do Banco de Portugal com quem a conseguiu, Mário Centeno, substituindo-o pelo cromo dos pastéis de nata, mas, nos discursos para supostos investidores internacionais, louva essa realidade como se para ela tivesse aplicado prego e estopa. Sabendo-se, ao mesmo tempo, que o Conselho das Finanças Públicas já dá como certo o regresso aos défices como corolário da ação incompetente de Miranda Sarmento.

Entretanto, notícias de drones a sobrevoarem os céus dinamarqueses dão óleo à histérica fogueira ateada pelos prosélitos da guerra anti russa. Diabolizam Putin e olham para a guerra na Ucrânia com o maniqueísmo primário de quem só vê virtudes num lado escusando-se a entender os argumentos do outro. Há muito que entendo o regime putinista como representação de uma direita mafiosa, mas erguer altares para tecer loas ao palhaço de Kiev é mais do que injustificado. Além das mais que ambíguas credenciais democráticas, a corte que o rodeia vai dando exemplos flagrantes de uma cultura de corrupção ao nível do que se pratica no lado contrário.

 

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