sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Foi golpe, indubitavelmente

 

Se Clara Ferreira Alves, na sua “ingenuidade” cada vez mais notória - digamos assim por questão de irónico cavalheirismo! - ainda não quer acreditar no golpe de Estado perpetrado pelo ministério público com a conivência de Marcelo, tudo quanto tem-se relacionado com o fim do governo de maioria absoluta de António Costa não deixa espaço para dúvidas para quem olha para tudo quanto tem sucedido e depara com as notícias mais recentes.

A análise das transcrições da Operação Influencer revela a dimensão da incompetência: registos de piadas, conversas políticas privadas, material irrelevante que denuncia ausência de critério. A desorganização e irresponsabilidade do Ministério Público permitiram que este material duvidoso circulasse livremente na comunicação social, transformando investigação judicial em espetáculo mediático.

Mais grave ainda: a prática sistemática de escutas sem proporcionalidade sugere que as mais altas figuras do Estado vivem sob vigilância permanente. Há indícios de discrepância entre as escutas autorizadas e as efetivamente realizadas. O que se divulga aproxima-se mais de bisbilhotice e espionagem política do que de investigação séria.

O próprio procedimento é kafkiano: arguidos longamente escutados sem serem ouvidos, sem acesso ao processo que entretanto vai sendo exposto aos pedaços nos media. O Ministério Público trabalha a partir de uma presumida "macroconspiração", assumindo à partida a culpa de todos os políticos, prolongando investigações sem provas sólidas. O resultado paradoxal é que, ao transformar tudo em escândalo, nada o é verdadeiramente. A lama generalizada acaba por proteger quem de facto deveria ser investigado.

No “Público” Pedro Adão e Silva não hesita em caracterizar a queda de António Costa como "golpe de Estado não violento", resultado de práticas judiciais abusivas que subvertem a ordem democrática. E alerta: o problema não é apenas reparar os danos já causados, mas garantir a saúde futura do regime, redefinindo a relação entre política e justiça. O caminho será longo e exigente. Teme, porém, que faltem protagonistas à altura do desafio.

E a razão está com ele. Dois anos volvidos sobre o golpe, Montenegro governa para destruir o que a Geringonça construiu, José Luís Carneiro facilita-lhe a tarefa, e o Ministério Público mantém-se impune na sua atuação arbitrária. O golpe triunfou. E quem o deveria travar limita-se a assistir passivamente à consumação.

1 comentário:

  1. Sendo as escutas ilegais imagine esta situação: o PM fala com o ministro da economia acerca de uma empresa e dos seus investimentos. Quem está à escuta ouve um deles a dizer ao outro: as acções dessa empresa muito provavelmente vão subir. Quem escuta - ilegalmente - aproveita para ganhar uns cobres comprando e vendendo acções da tal empresa. Isto será impossivel?

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