sábado, 31 de agosto de 2024

O que se poderia esperar de gente quem qualidades?

 

Perdoe-me Robert Musil as vezes em que o cito, mas não posso deixar de pensar no seu título mais famoso, quando deparo com as diatribes deste (des)governo.

Sabendo-se a prazo, Montenegro tem sido fértil em power points e promessas para o longo prazo - em que já se sabe arredado do poder! - mas incapaz de resolver minimamente os problemas pelos quais o governo de António Costa foi sancionado: o caso nos hospitais está bem pior do que há um ano, aquele que se anuncia para as escolas no novo ano escolar também se afigura semelhante e, quanto ao problema da habitação, só se agravou com o confortável colinho propiciado à ganância dos especuladores do alojamento local.

Nem saúde, nem educação, nem habitação! Por esta altura, e mesmo contando com os conselhos do seu tutor de Belém (através de Pedro Duarte, seu homem próximo?), Montenegro sabe urgente chegar à discussão do orçamento com uma rutura, que lhe propicie eleições para as quais contará com a ajuda do Chega, seja na forma de transferência de votos dos seus eleitores para a AD, seja numa futura coligação para a qual deixará de funcionar a mistificação da dita linha vermelha.

Mas poderia esperar-se coisa diferente de quem só tem para enviar para Bruxelas enquanto comissária, a mais do que medíocre Maria Luís Albuquerque, que sabemos campeã dos orçamentos retificativos e ter rentabilizado a agenda de contactos para emprego indigno num fundo abutre?

Se acreditei que, em nome dos princípios, o Partido Socialista deveria votar contra o orçamento para 2025, mudo de opinião achando asizada uma momentânea abstenção: é que a política nacional assemelha-se a um jogo de poker em que Montenegro se multiplica em bluffs, que acabarão por redundar no desmascaramento quanto às más cartas, que tem em mão. 

terça-feira, 20 de agosto de 2024

Um desqualificado líder e as suas circunstâncias

 

Agora que os Jogos Olímpicos de 2024 ficaram enterrados nos livros de História do Desporto confesso não ter a eles dedicado mais do que uma hora no total de múltiplos zappings, sempre procurando alternativas mais interessantes do que manifestações desportivas vocacionadas para servirem de marketing a umas quantas marcas e, tal como sucedera em 1936, no tempo de Hitler, o desporto atual valer tanto quanto a política, enquanto forma de prosseguir as guerras por outros meios. Porque, excluída a Rússia, mas não Israel, facilmente se confirmou como as decisões do COI mais não são do que a fiel servidão ao que lhe mandam os patrões de além-Atlântico. Para além de nem sequer se disfarçar o interesse em prevalecer a superioridade ianque em medalhas à dos esforçados chineses.

Num dos zappings apareceu Montenegro a apimentar a desgovernação nos hospitais com a prometida medalha de ouro, que dois ciclistas estavam afinal a conseguir não longe dali. Depois do fiasco da ida à Madeira para associar-se a uma maioria absoluta afinal transformada em pálida miragem, o primeiro-ministro continua a demonstrar não ter o dom da previsão entre as suas desconhecidas qualidades.

E sabe-se agora que traz o canoísta como cabeça de cartaz à festa de lançamento da temporada laranja em Castelo de Vide. Porventura para que os participantes no folguedo continuem a refletir sobre como anunciadas vitórias se podem converter em frustrações, e de como melhor as iludir com desculpas que pareçam consistentes.

Ao “desmedalhado” olímpico associa-se ainda um suposto maestro, que - ainda por cima involuntariamente! - consegue mostrar-nos como se comportaria um bizarro palhaço perante sóbria orquestra. Afinal aquilo que metaforiza o comportamento do líder nas presentes circunstâncias. 

terça-feira, 13 de agosto de 2024

Metáforas destes dias de brumosos incêndios

 

A imagem do Pártenon iluminado por um sol enevoado pelas cinzas das chamas, que cercam Atenas, é metáfora polissémica, que poderemos discriminar em duas das mais pertinentes nestas circunstâncias.

Há, evidentemente, o esplendor de uma civilização em risco por causa dos fenómenos climáticos, que os líderes políticos não conseguem minorar por representarem os que se marimbam para as iminentes distopias tão-só continuem a dar satisfação à tóxica adição pela ganância de mais capital.

Internamente, podemos ver a imagem como algo parecido com o caos na Saúde sendo Luís Montenegro o Nero tocador de lira, enquanto Roma ardia em chamas. Porque se não são conhecidos dotes musicais no ainda primeiro-ministro, a ida a França arvorando ridícula vestimenta, mais não teve outro objetivo que não o de distrair as atenções quanto a uma situação criada por uma ministra com tão falta de jeito para o cargo, que criou uma política de terra queimada ao assumi-lo e, agora, aqui d’el-rei que os maus da fita são os que lhe “legaram tão pesado fardo”.

Quando o anão de Azurém faz-se boneco do ventríloquo Marcelo, apelando à colaboração entre os dois maiores partidos para salvarem o SNS, deveria antes lembrar que havia uma reforma consistente a ser levada à prática e.  de súbito, atirada para o caixote do lixo.

A falta de ponderação nas consequências dos factos é sina deste (des)governo, que nem os sabe prever. Querem outra metáfora? É bem elucidativa a tentativa de Montenegro colar-se a uma suposta medalha olímpica na canoagem e, à mesma hora, serem dois ciclistas quem, não longe dali, a ganhavam. Trata-se do feitio que de quem anda nada faz, mas não poupa  nas poses para a fotografia! 

sexta-feira, 9 de agosto de 2024

Perguntas de um operário letrado (IX) - Propaganda de baixo nível, palavras inócuas e um genocídio imparável

 


1. Na tarde de ontem consegui suportar as horas de intensa propaganda pró-governo transmitidas pelas televisões e a que Marcelo se associou.

Perante um espetáculo, que procurava salvar a ministra da Saúde do merecido destino, que lhe está destinado - ser corrida do cargo por incompetência crassa e uma vindicta contra quem, no passado, lhe detetara essa característica - justifica-se a surpresa de ver o selfie man associar o seu destino ao de um governo, que tudo fez para tornar possível enquanto suportou com azia os de António Costa.

Será que o antigo comentador político perdeu definitivamente a intuição sobre como melhor chegar aos seus fins? É que o seu legado arrisca-se a ser definitivamente sombrio.

2. Ao ouvir as reações dos responsáveis por duas associações patronais perante aquilo que resultou de mais uma reunião de Conselho de Ministros para justificar a pose para a fotografia, vale a pena questionar: será que os patrões deixaram-se embalar pelos power points e comprovam agora não valerem mais do que as palavras inócuas, que nunca passarão à prática? Desiludindo quem trabalha e por ela foi enganado, e os patrões para quem cuidou de formar governo, será que a AD aguentará por mais tempo a aparente condescendência social com que tem sido encarada?

3. Perante as revelações contidas no relatório da ONG israelita B’Tselem sobre a tortura sistemática, quando não mesmo assassínio a sangue frio, dos prisioneiros palestinianos, por quanto tempo continuarão a ser apodados de antissemitas os que consideram criminoso o atual genocídio perpetrado em Gaza? 

terça-feira, 6 de agosto de 2024

Perguntas de um operário letrado (VIII) - Da falhada concretização dos power points ao novo espirro capitalista

 

 1. Numa altura em que o sucedido com uma grávida no hospital das Caldas da Rainha, e dos 200 quilómetros percorridos pelas de Leiria para terem bebés no Porto, não é altura da ministra da Saúde reconhecer o evidente falhanço da passagem do seu power point das promessas para a realidade? Ou os 42 partos transferidos pelo SNS para o setor privado nestes últimos dois meses não demonstram à saciedade qual era o verdadeiro desígnio do governo: transferir cada vez mais verbas do setor para as mãos dos que com ele auferem lucros indecentes?

 2.  Tendo em conta que Miranda Sarmento prometera manter as contas certas à pala de um crescimento de 2% no PIB como vai agora livrar-se do molhe de brócolos anunciados pelos mais recentes números do INE que, perante a estabilização das receitas turísticas e o arrefecimento das exportações, não possibilitam melhor expetativa do que 1,5%? Tanto mais que, se no final do primeiro semestre de 2023 havia um saldo positivo de 1825 milhões de euros na contabilidade pública referente à Administração estatal o saldo é agora deficitário em 2731 milhões de euros!

E, a somar a isto como considerar a queda de 2,2% nas receitas do IVA? Será que Montenegro terá o descaramento de defender que, por essa via, os portugueses andam a pagar menos impostos’

Depois de tantos anos habituados a verem as previsões prudentes dos governos socialistas superadas pelos resultados da realidade voltaremos ao tempo em que esta é sempre pior do que o pensamento mágico do ministro das Finanças e temos de volta a época em que Maria Luís Albuquerque ia apresentando sucessivos orçamentos retificativos para suprir a inabilidade em garantir a conformidade das contas com a sua evolução ao longo do ano?

 3.  E lá se anuncia nova crise no capitalismo justificada pela queda abrupta das cotações nas bolsas e no preço do ouro, do petróleo das bitcoins. Será que ainda iremos assistir ao derrube inabalável do castelo de cartas que é esta economia de casino, metáfora adequada a um sistema, que tem abanado sucessivamente, mas encontrou até agora a arte de se manter periclitantemente em pé? 

domingo, 4 de agosto de 2024

Entre o bullying e o circo

 

Quando era miúdo o bullying  ainda não se chamava assim, mas não faltavam os exemplos de “copinhos de leite” azucrinados por uns fanfarrões, que gostavam de exibir o mau carácter para uma plateia a quem pretendiam intimidar sabendo-se à partida por ela desprezados.

O exemplo veio-me à memória ao ouvir excertos do discurso de Montenegro sobre o suposto estado da Nação e ao passar em diagonal a entrevista de Miranda Sarmento ao «Público». Ambos comungados na tentativa inepta de amedrontarem Pedro Nuno Santos a aprovar o Orçamento para 2025, quando bem sabem como votou o PSD os do Partido Socialista nos oito anos em que este constituiu governo. Nessa base, mesmo com o beneplácito ativo de Marcelo, como esperariam que fosse outra a postura do PS?

Bem pode o ministro das Finanças apostar em novas eleições, que a realidade anda a preparar-lhe um banho de realidade para o qual bem pode prevenir-se com toalha felpuda, porque dele tenderá a sair que nem um ensopado pinto: não só o excedente orçamental se revela exíguo para tão lauta satisfação dos vários interesses corporativos como não faltam serviços públicos de saúde fechados por falta de pessoal, obrigando as grávidas de Leiria a viajarem 200km para terem os bebés no Porto.

E desconfio que o convite aos professores reformados para se comportarem como mercenários ao serviço do ministro da Educação também não corra bem, embora ele trate de transferir as responsabilidades do fracasso do início do ano escolar para os autarcas.

Ontem, para aparecer nas televisões, Montenegro foi ao circo do ciclismo. Sem entender que o palhaço arrisca-se a ser ele...