Uma das questões que se está a colocar em França em relação às revoluções tunisina ou egípcia é a de se saber porque é que os intelectuais, habitualmente tão entusiasmados com movimentos desse tipo no Leste Europeu ou na China, manifestam tão pouco interesse pelo que se passa no Norte de África.
É claro que o conceito de intelectual em França mudou muito desde os tempos de Sartre, quando essa condição implicava o envolvimento em todas as causas progressistas então em curso. Hoje os intelectuais enquanto tal reconhecidos - de Lévy a Gluckmann - fizeram o longo trajecto ideológico da esquerda convencional para a extrema-esquerda e dessa, directamente, para a direita mais fundamentalista quanto à bondade dos mercados livres e desregulados.
Por isso o entusiasmo passou a ser neles crescente à medida, que as supostas revoluções (na China, na Birmânia, na Ucrânia ou na Geórgia) se orientavam contra governos ou regimes conotados com o execrado comunismo.
As revoluções em curso nos países árabes não possuem esse ingrediente fundamental para os ver babarem-se em gozo reverencial das suas tardias opções ideológicas. E, mais, perante os riscos do aproveitamento islamista de tais movimentos, eles sempre tinham considerado Ben Ali ou Mubarak males menores.
Demasiado primários nas suas teses esses intelectuais estão a ver sucessivos mitos a tombarem fragorosamente sem se darem conta de como isso os põe em causa: já tinham perdido uma parte das suas confortáveis certezas, quando as ideias de Fujiama sobre o «fim da História» tinham ruído nos fracassos da intervenção no Iraque. Agora é a vez de verem ruir a tese cristalizada de Huntington sobre o «choque das civilizações»: afinal os povos árabes até podem não ser associados aos fanáticos islâmicos, com que têm sido abusivamente conotados...
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