Uma das questões que as revoluções tunisisna e egípcia colocam é o papel dos jovens na contestação a regimes mais do que caducos. Sobretudo, quando por essa Europa a mesma classe etária vai reagindo com descontentamento crescente à sua condição de precária no emprego mal pago, que vai arranjando, ou na incapacidade para se autonomizar da dependência dos progenitores. E, no entanto, o director do Jornal de Negócios, Pedro Santos Guerreiro, até constata que estão à frente dos dois principais partidos nacionais políticos oriundos das juventudes partidárias. O que os tenderia a uma maior consonância com essa juventude de que, afinal, tanto divergem.
Na contestação ao José Sócrates tem-se distinguido ultimamente Manuel Maria Carrilho que numa crónica do DN e perante os acontecimentos do Cairo, não deixa de cobrar o facto de ter sido saneado do cargo de embaixador na UNESCO por se ter escusado a respeitar a ordem de Luís Amado para votar num dos protegidos de Mubarak para um importante cargo na instituição internacional.
Ainda assim, quem aposta na queda de José Sócrates poderá ter de esperar muito mais tempo, mesmo que o PCP se mostre decidido a avançar para a batalha decisiva. Na sondagem da Aximagem, que costuma ser das mais desfavoráveis para o PS, este sobe 2,4% no último mês, enquanto o PSD desce 0,5%.
Sabendo-se como o eleitorado penaliza quem desestabiliza um determinado status o resultado de eventuais eleições antecipadas poderá não conter o sucesso pretendido pelas diversas oposições.
Saindo da política partidária para a que transversaliza esta época não deixam de ser curiosos, embora não propriamente surpreendentes, dois estudos abordados pelos jornais dos últimos dias: um demonstra que a violência doméstica, embora ainda sem sinais de diminuir no número de vítimas mortais, já começa a ser encarado como um crime público, muito distante da lógica do «entre marido e mulher não metas a colher». No outro estudo fica confirmado que os ricos vivem muitos mais anos do que os pobres - dez segundo esse documento - havendo uma correlação directa entre o nível de escolaridade e a esperança de vida.
E, num tempo em que se discutem as virtudes das escolas públicas e privadas bem como o respectivo financiamento, faz sentido a pergunta de Fernanda Câncio no DN: alguém me explica como é possível que a rede de escolas contratualizadas por um Estado laico inclua estabelecimentos religiosos?
Uma referência final para o que se está a passar nas margens do Nilo: se a liberdade - de expressão, política e religiosa - parece ser o único ponto comum nas reivindicações dos egípcios, estranha-se a forma como esta revolução sem líderes aparentes parece tão bem organizada. Quem se perfilará para suceder ao ditador actual?
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