domingo, 26 de setembro de 2010

Os sovietes segundo a extrema-direita

O relançamento em Portugal dos álbuns do Tintin, começando por aquele que figura como o primeiro de Hergé («Tintin no País dos Sovietes») levanta questões que remontam à recuperação tardia de um álbum durante anos arrumado como inconveniente. No «Expresso», João Boléo elogia o carácter visionário de Hergé, que terá colado aos bolcheviques as práticas só anos depois conhecidas, já Estaline estava morto e enterrado.
Visionário?, questionamo-nos. Para que fique claro desde início não se pode escamotear o posicionamento ideológico de Hergé: por muito que custe reconhecê-lo, ele era anti-semita, de extrema-direita e racista. Na Bélgica ocupada pelos nazis ele acomodou-se à situação com a cálida indiferença dos colaboracionistas passivos.
Será ele, pois, o que menos legitimidade possuirá para criticar o regime bolchevique, porquanto estava tacitamente de acordo com os campos de extermínio nazis.
Mas, arrumada a questão da ilegitimidade da direita para criticar os crimes estalinistas (não esqueçamos a defesa de Pinochet por Margaret Thatcher ou de como toda a Operação Condor responsável por milhares de mortos latino-americanos assentou no apoio dos presidentes norte-americanos desde Nixon a George Bush), fica a de se clarificar quem possuirá tal legitimidade.
E à esquerda há quem a tenha. Muito embora queira esquecer que os regimes «comunistas» sempre foram assediados de fora por ameaças resultantes de forças defensoras de um capitalismo ainda em crescimento. Porque, como resultam das análises de Marx e de Estaline, o capitalismo só entrará em decadência, quando, como agora, atingir a sua dimensão global.
Então ocorrerá uma agudização violenta da luta de classes entre a oligarquia financeira, que concentra em si a riqueza produzida, e a maioria dos que vão empobrecendo à conta do desemprego e da miséria distribuída por governos, que daquela são meras marionetas.
A Revolução não será nenhum convite para jantar, assim o considerava Maozedong. E a esquerda mundial terá de ser reformista, enquanto as condições o aconselharem, mas suficientemente revolucionária, quando elas lhe exigirem menos palavras e mais actos. Isso acontecerá quando, como previa o mesmo Maozedong uma faísca incendiar toda a pradaria…
As tempestades já aí estão. Restará saber quando os relâmpagos se aproximarão convenientemente…
Quanto aos crimes estalinistas eles só derivam de uma razão: foram formas de defesa de regimes isolados, que ainda não tinham condições para serem bem sucedidos. Porque virá o dia em que a estatização da economia a nível global será condição única para uma distribuição justa da limitada riqueza de um planeta aonde a sustentabilidade ambiental exigirá medidas eficazes a nível demográfico, consumista e energético...

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