terça-feira, 29 de abril de 2025

A era da insensatez

 

Fosse a sensatez a característica predominante do género humano neste primeiro quartel do século e coisas absurdas, como as vistas todos os dias, não teriam a mínima hipótese de sucederem.

Por exemplo aquilo que as sondagens destes dias preconizam quanto ao ambiente político pós 18 de maio: como será possível, que este primeiro-ministro, mais do que maculado por atos pouco éticos, possa manter-se no cargo? Como será possível que a terceira força política seja a de um líder mentiroso e assumidamente fascista? Como será possível que quem se identifica com a Revolução do 25 de abril mal chegue a 40% dos votos, os equivalentes à soma de todas as esquerdas?

Nesse sentido como mais de metade dos eleitores - os que não acedem à saúde, nem à habitação, tão pouco à educação superior por não terem os serviços do Estado consignados na Constituição, nem remuneração salarial compatível com uma qualidade de vida minimamente decente, avalizem a prossecução desse mesmo estado das coisas?

E, olhando para a humanidade do seu todo, porque escusam-se os humilhados, explorados e ofendidos a revoltarem-se contra os ditadores e os pseudodemocratas, que operam em prol dos interesses dos que só querem manter a acumulação de capital, que agudiza ainda mais a diferença entre quem tudo quer e os que, mais do que pretenderem equilibrar o desequilíbrio da balança, se limitam a invejá-los e a, futilmente, desejar imitá-los?

Mas, igualmente inexplicável, a aceitação da contínua degradação das condições de sobrevivência neste sobrecarregado planeta que, com um ou outro apagão, vai dando pistas quanto ao futuro que virá... 

quarta-feira, 23 de abril de 2025

E se aprendermos as lições dos pinguins?

 

Piada oportuna à parte, a respeito dos danos causados pelas tarifas de Donald Trump à indústria automóvel dos pinguins das ilhas Heard e MacDonald, a entrevista ao cineasta britânico Bertie Gregory, inserida na edição mais recente da revista Visão, enfatiza o altruísmo e a cooperação desses animais.

Passando dois anos a filmá-los ele concluiu ser falsa a ideia de haver uma pressão centrípeta, quando se agregam em grupo para se protegerem do frio. Pelo que descobriu, Gregory conclui o contrário: há uma pressão centrífuga para possibilitar aos que estão mais afastados do centro de para ele convergirem.

Ao mesmo tempo é da amizade entre as crias no período de crescimento que decorre o ato de coragem de darem o primeiro salto para a água, mesmo quando se trata de um declive de quinze metros: ao impulso do corajoso, que mostra como se faz, logo todos os outros o seguem.

Altruísmo e cooperação são duas das melhores características do ser humano, quando pugna por uma sociedade mais justa. E por isso socialista.

Quando, pelo contrário, imperam o egoísmo, a ganância e a inveja temos claros exemplos de montenegrização e venturização da prática política. Daí faça todo o sentido o que Gregory diz na conversa com Luis Ribeiro: ainda temos muito a aprender com os pinguins. Sobretudo se quisermos criar uma sociedade mais decente donde se erradique o que ela tem de pior... 

segunda-feira, 21 de abril de 2025

Um mês a galgar para a vitória das esquerdas

 

A quatro semanas das eleições o caos na Saúde, testemunhado pelos portugueses neste fim-de-semana, com o fecho de serviços numa dimensão ainda mais agravada do que o costume, não terá dado a Montenegro & Cª particular confiança quanto aos sinais ilusoriamente soprados pelas sondagens.

É que, disseram-nos os inquiridos nessas consultas, será a Saúde um dos principais argumentos para escolherem quem querem a governá-los no próximo ciclo político. E, quando Pedro Nuno Santos, consegue ter Fernando Araújo a seu lado - com a imagem de quem tinha um projeto para resolver os atuais problemas no SNS -  pode-se presumir que muitos eleitores do centrão sociológico tenderão a inclinar-se para quem garanta melhores soluções para esse impasse na vida de tanta gente.

Ademais podem ter, igualmente, presente, a insensibilidade do atual diretor executivo desse mesmo SNS quando atribuiu à grávida da Moita as culpas por não ter aceite a solução apresentada para ter a sua criança na maternidade de Coimbra, situada a mais de duzentos quilómetros de distância, que complicaria decerto muitos dos apoios familiares (mormente afetivos) com que contaria nesta ocasião.

Será de admirar que tenha-se escusado a uma deslocação para onde o próprio diretor clínico já reconhece ter mais 30% dos partos por que habitualmente se responsabiliza?

Tendo em conta que os problemas de saúde e de habitação se agravaram nestes onze meses de montenegrização governativa e que a própria educação é uma panela de pressão com a válvula a soprar ruidosamente, por muito que o sonso ministro se esforce por querer iludir a realidade, os eleitores só terão de ser sensatos quando forem às urnas em 18 de maio. E nem estou a contar com os (miseráveis) padrões éticos do (ainda) primeiro-ministro! 

domingo, 20 de abril de 2025

Quem me motivou a ser socialista

 

Embora não coincidindo no mesmo dia, a data da morte de João Cravinho colou-se à do aniversário do Partido Socialista e a da minha entrada nele há 39 anos.

A junção dos três acontecimentos tem um significado muito pessoal: em 1986, depois de andar pelas esquerdas à esquerda do PS, foram as intervenções de João Cravinho e de Mariano Gago a motivarem-me a entrada no Partido então liderado por Vitor Constâncio. E seriam algumas conferências dele na sede do Largo do Rato, no âmbito do então Gabinete de Estudos, que me motivaram a voltar às cadeiras das universidades - primeiro no ISE, depois no ISCTE - para juntar as competências de Economia e Gestão às de Engenharia colhidas na Escola Náutica. Porque compreendera que esse dirigente socialista buscara uma melhor interpretação da realidade ao aliar essas duas especializações académicas.

Depois também me reconheci na sua relação dele o partido: rejeitando a ortodoxia de tudo nele apoiar, ele assumiu posições contrárias sempre que estavam menos conformes com o seu pensamento que as proclamadas pelas sucessivas lideranças. Razão para melhor seguir o seu exemplo, quando, por portas e travessas, fui adotando comportamentos a elas contrários, sobretudo quando vigorou a lamentável passagem de António José Seguro pelo cargo de secretário-geral.

Na morte de Cravinho enfatizo, sobretudo, a importância da crítica e de se ser autêntico consigo mesmo. O que equivale a só apoiar o Partido quando creio na justeza das suas posições. E, felizmente, nesta altura, conto com um secretário-geral que merece apoio por ser mais próximo do socialismo, que professo, do que defendiam os seus antecessores, mesmo esse António Costa, que tanto me desiludiu no final do seu percurso enquanto primeiro-ministro. 

sexta-feira, 18 de abril de 2025

Não faltem molas para olfativamente nos protegermos!

 


1. Houve um tempo em que o ministério público ainda mostrava algum pudor nas conspirações antissocialistas, que levava a peito.  Agora perdeu completamente a vergonha. Com a liderança do procurador geral (amadeu guerra) e do procurador-geral adjunto e diretor do DCIAP Lisboa (rui cardoso), somado ao beneplácito entusiasmado do líder do respetivo sindicato  (paulo lona), a indecência atingiu o máximo “esplendor).

É claro que o uso das minúsculas nos nomes de tais protagonistas corresponde à dimensão do seu carácter (ou à completa falta dele!).

2. Num programa de comentário político alguém alude à trumpização de muita gente, que milita nas redes sociais. E isso é um facto quando damos com uns quantos cacarejos a respeito da hombridade de Pedro Nuno Santos.

O prefixo da palavra utilizada para definir essas reações também não é uma coincidência. Porque estamos, de facto, no âmbito da coprologia!

3. E mantendo o nariz apertado para pouparmo-nos ao cheiro nauseabundo de tal gente, vale a pena referir que me senti estoicamente resiliente perante o espetáculo do debate entre o admirador do maluco da motosserra e o nheca-nheca (saborosa definição aplicada pelo Paulo Raimundo).

Aquilo não teve uma ponta por onde se pegasse: onde se aplicasse o papel higiénico ficaria logo ensopado de tão nojenta abominação.

Há coisas más demais para testar a racionalidade e conter a vontade em proferir obscenas alarvidades...

quinta-feira, 17 de abril de 2025

Um remake dos tosquiadores tosquiados

 

Há quem a queira desvalorizar enquanto “teoria da cabala”, mas não há como contrapor-lhe a evidência:  sempre que a festa das eleições se perspetiva a D. Constança, em tempos referenciada por António Vitorino como “penetra” garantida em todas as festanças, vem sendo o Ministério Público.

Quantas mais demonstrações são precisas para dar crédito a uma célula clandestina dentro do aparelho de Justiça da República apostada em fazer o frete às direitas e ter como intento a derrota dos socialistas?

Por muito que custe aos ingénuos e aos mal-intencionados, que alegam a legitimidade de todas as ações dos que dirigem o poder judicial, este vai somando casos, que põem em causa a sua seriedade.

Os que agora quiseram organizar soez ataque contra Pedro Nuno Santos esbarraram, porém, numa dificuldade: ele não só foi capaz de devolver o tiro com argumentos irrefutáveis, como aproveitou para evidenciar as suas diferenças relativas a um (ainda) primeiro-ministro, que todos reconhecem como manchado por manifesta falta de ética, se não mesmo por ilegalidades nos atos, mesmo com o Ministério Público a esforçar-se por os neutralizar mediante um lesto e incompreensível arquivamento das suspeitas.

Esteve bem Pedro Nuno Santos na conferência dada à hora do jantar e foi notório o incómodo de muitos dos comentadeiros a ele avessos, quando foram convocados perante as câmaras para o defenestrarem. Muito provavelmente alguns ter-se-ão arrependido de se prestarem ao que julgariam ser a degola de mais uma vítima dos procuradores do DCIAP: o que aconteceu foi uma tosquia em que os tosquiados foram quem julgavam vir a usar a tesoura. 

quarta-feira, 16 de abril de 2025

A pequenina luz de que falava Jorge de Sena

 

Era um dos debates que mais interesse me despertavam à partida: como iria Pedro Nuno Santos enfrentar a criatura malcriada que, helas, ecoa na falta de senso, civilidade, e mesmo inteligência, de muitos milhares de eleitores.

Confesso que fiquei agradado com a calma e segurança do líder socialista, que mostrou nervos de aço para nunca alinhar com o tom abandalhado de quem não hesitou em repetir mentiras para parecer aquilo que não é: coerente e consistente nas opiniões.

É certo que a realidade norte-americana demonstra-nos que os “deploráveis” são-no por gosto e convicção, mesmo quando serão eles a  pagarem os custos maiores dos desvarios de quem promoveram como seu ídolo.

Aqui, mesmo na nossa reduzida dimensão, repete-se a cena: quem se identifica com Ventura não precisa de dizer mais nada, que se desqualifica sem apelo nem agravo.

Nem vale a pena perder tempo e paciência para os demover dos seus preconceitos e “certezas”: o tempo, esse inflexível arquiteto que Yourcenar tanto enalteceu, dar-lhes-á o troco devido. ´

A menos que o tom assertivo de Pedro Nuno Santos e de quem tem sabido exacerbar-lhe o lado caricatural - a seu modo, Paulo Raimundo e Rui Tavares também o conseguiram! - faça germinar um lampejo de dúvida em quem tem pendido para esse lado ideológico.

A tal toute petite lumiére de que falava o poema de Jorge de Sena!

domingo, 13 de abril de 2025

A safra de maio promete

 

1. Dizem os números que os debates entre os partidos candidatos às legislativas têm sido bastante acompanhados pelos eleitores, que neles buscam informação para guiarem as suas escolhas.

Perante aqueles em que Pedro Nuno Santos e Luis Montenegro já participaram percebe-se porque o segundo se furta a alguns sendo tão abissal a diferença entre o estilo convincente e coerente do primeiro e o atabalhoamento, mesmo acompanhado de algumas táticas manhosas, do segundo. A competência e a visão para o país são tão evidentes no primeiro quanto manifestamente ausentes no segundo. Não admira que, por isso mesmo, as próprias sondagens estejam a refletir a lenta progressão da tendência eleitoral para ser o PS o partido mais votado e Pedro Nuno Santos o indigitado para formar o próximo governo.

E ainda os cestos estão por lavar. A inaudita vindima de maio terá condições para resultar numa pródiga safra para quem para ela tanto, e tão bem, tem trabalhado...

2. O debate, respeitoso senão mesmo amigável, entre a Mariana Mortágua e o Paulo Raimundo traz de volta a questão da divisão entre as esquerdas mais radicais por razões ideológicas, que parecem algo fúteis em função das circunstâncias. Conseguissem juntar-se numa plataforma de entendimento de mínimo divisor comum e não potenciariam os votos, em número de deputados, que lhes dariam maior capacidade parlamentar para fazerem o seu trabalho político? Por exemplo na Madeira não voltariam a ter expressão na respetiva assembleia, e nos Açores não ampliariam a atual dimensão de só contarem com um deputado? Sem esquecer que, juntando-se-lhes os votos no Livre, isso ainda mais facilitado ficaria...

Se faz sentido o Partido Socialista ir sozinho a votos, por ter dimensão bastante para beneficiar dos critérios do método de Hondt, não se percebe porque, nas atuais circunstâncias, as demais esquerdas não se associam ... 

sexta-feira, 11 de abril de 2025

Os pinguins que se cuidem!

 

A fotografia de Trump na capa do Libération de hoje consegue explicitar o que é este seu momento de “glória”: de melenas batidas pelo vento já prenuncia o que se seguirá.

A exemplo de Milei, na Argentina, cuja experiência sociopolítica vai mais avançada nos efeitos danosos de uma ideologia fanática - em desemprego e miséria para boa parte dos que que nele tinham acreditado! - o pato bravo da Casa Branca vê os agricultores em pânico com as consequências do seu volúvel caos e alguns republicanos a verbalizarem mais alto as reservas quanto às consequências políticas, e sobretudo económicas, justificativas da crescente contestação popular, já significativa onde os democratas tiveram melhores votações em novembro, mas igualmente percetível nos Estados então vencidos confortavelmente pelos seus adversários.

Motivo para nos regozijarmos com a brevidade do fenómeno, que equivaleria ao refluxo da vaga de extrema-direita? Não tanto, porque a História ensinou-nos, que os presidentes norte-americanos, quando acossados em casa, decidem lançar ações militares contra os inimigos externos mais a jeito. Por isso os pinguins que se cuidem, embora maiores receios possam ter os gronelandeses, os canadianos enquanto “inimigos” mais à mão para, à falta de demonstrar a capacidade de fazer a América “grande” - em riqueza, em qualidade de vida! - Trump decidir o alargamento das fronteiras para além das que tinham resultado das ações do passado contra o México.

Restará saber se os militares secundarão o seu desvario ou farão o necessário para lhe pôr fim... 

segunda-feira, 7 de abril de 2025

Vem aí a maré vaza das direitas?

 

Sete mil apoiantes terão sido quantos Marine Le Pen conseguiu arregimentar para um comício parisiense com sabor a flop. Em contraponto foram muitos os milhares que, por todo o mundo, saíram à rua contra Trump e Musk na sequência do que vem sucedendo nestas últimas semanas em Telavive, em Istambul, ou em Buenos Aires, contra outros títeres da extrema-direita. O que justifica a expetativa de estarmos perante o refluxo de uma maré-cheia reacionária confrontada com o abandono de quem se iludiu com as suas mentiras e mistificações.

E, mesmo a direita tradicional começa a sentir-se instável na convicção de se ver num “fim da História” ao estilo Fukuyama em que as esquerdas a quase nada se reduziriam.

Basta ver como, entre nós, reagiram os Castros Almeidas, os Nunos Melos e os Montenegros à apresentação do programa do Partido Socialista.

De repente nem as sondagens mais “trabalhadas” lhes dão ânimo: o pesadelo de um pote novamente inacessível volta a tornar-se tão pertinente quanto o foi a realidade subsequente à noite em que Jerónimo de Sousa veio dizer ao país, que o Partido Socialista só não seria governo se não quisesse. E, como se viu, António Costa veio a querê-lo. Mesmo que, para nosso desgosto, se tenha enleado na inconsequência de não potenciar tudo quanto significou a dita geringonça...