sexta-feira, 21 de março de 2025

Deixemo-los pousar!

 

A sondagem do Expresso  desta semana é tão “credível” para os seus promotores, que nem se deram ao trabalho de fazerem a extrapolação do que significariam em percentagens efetivas se os indecisos seguissem as tendências dos que confessam a intenção de votar nesta ou naquela força política. E até dá número mais significativo dos que querem ver Montenegro pelas costas comparando com os que o querem aturar por mais tempo, Mas reconheço que a consulta dá um jeitão  aos apaniguados do ainda governo na comunicação social que, sobre ela perorarão de acordo com os seus pensamentos mágicos e enviesando ainda mais as, já de si, enviesadas conclusões. E até Montenegro & Cª poderão sentir-se confortados nos pesadelos de que se veem provavelmente assombrados perante a possibilidade de voltarem ao merecido anonimato, que a sua má qualidade política, e soberba desenvoltura arrivista, justificam.

Eu que já ando por cá há uns anos - e até nem são precisam ser tantos! - para lembrar que, tal como Pedro Nuno Santos, também António Costa tinha uma péssima imprensa em 2015, quando andava a desafiar António José Seguro para o substituir na liderança do Partido Socialista. Ou que, em janeiro de 2022, toda imprensa ficou em choque com uma maioria absoluta do Partido Socialista, quando trabalhava afanosamente para o que pareciam indiciar as sondagens: uma vitória da direita (que algumas previam), ou, pelo menos, uma disputa eleitoral taco-a-taco.

Deixemo-los pousar. Os hospitais continuam com urgências fechadas, o ministro da Educação teima no aumento das propinas, as casas continuam inacessíveis para a bolsa da maioria dos que delas carecem, e a falta de mês ao fim do ordenado continua a crescer para tantos, que não se livram da pobreza, mesmo deixando-se explorar sem mostrarem a devida indignação.

Atrás de tempos, tempos vêm! E até podem surgir logo depois de 18 de maio.

quinta-feira, 13 de março de 2025

Meu Deus, como caí tão baixo!

Defeito de ser inveterado cinéfilo: há umas semanas aludia ao exemplo de Barry Lindon para prever a iminente caída em desgraça de Luis Montenegro.

As cenas patéticas do dia 11 na Assembleia da República, quando lhe vimos a expressão carregada pela súbita consciência da queda irremediável, bateu em expressividade a da personagem do filme de Kubrick, quando também se viu com o tapete tirado debaixo dos pés.

Foi nessa altura que lembrei o título de uma divertida comédia italiana da década de 70,  assinada por Luigi  Comencini. Mesmo não tendo direta comparação com os dissabores de Laura Antonelli nesse filme, Montenegro poderia fazer coro  com ela na frase que dava título ao filme: Meu Deus como caí tão baixo!

Por muito que haja quem mostre complacência com o efémero primeiro-ministro, associando-lhe o comportamento na sessão a incompreensível garotada, foi evidente que, acolitado pela sua corte de exegetas, não conseguiu disfarçar a sua falta de escrúpulos. E, quando assim é, a queda prometida é mesmo até ao fundo...

sábado, 8 de março de 2025

Os ataques insidiosos contra os direitos das mulheres

 

Dia Internacional da Mulher com o impensável a ocorrer no outro lado do Atlântico, onde a realidade vai superando aquilo que as mais imaginativas ficções poderiam sugerir enquanto distopias politicas consistentes com os valores expectáveis para o instável presente. Anuncia-se que Trump e sua camarilha querem retirar o direito de voto a alguns milhões de mulheres casadas, sabendo-as mais renitentes aos “encantos” do seu modelo de “engrandecimento” da América.  Bastaria, por exemplo, a disparidade entre o seu apelido na carta de condução com o de recenseada para lhe sonegar o direito ao voto. No fundo, mais uma versão das muitas tentativas republicanas para eliminar do universo eleitoral quem imaginam ser-lhes adverso!

A nova administração está a puxar a corda tão exageradamente para um lado que, provavelmente, acabará por receber o efeito de um ricochete mais eficaz do que as ilusórias reações dos alegados contrabalanços, que poderiam antecipar-se-lhes. Ou será esta a expetativa de um incorrigível Pangloss jamais preparado para aceitar outro tipo de futuro, que não o decorrente das previsões ditadas pelo quase esquecido materialismo dialético?

É um facto: as mulheres chegam ao primeiro quartel deste século numa situação muito mais desfavorável do que o imaginariam as bravas feministas, que lutavam pela igualdade dos seus direitos na época das suas avós. Se parecem algo renitentes a regressarem ao estatuto de fadas do lar, esmorece-lhes a determinação para calarem de vez quem a tal as desejaria fazer voltar. Até quando? 

sexta-feira, 7 de março de 2025

Por enquanto aposto na tripla, mas espero regeringonçar!

 

Vamos para eleições de imprevisíveis resultados.

Se estivéssemos em tempos idos, quando a ética política importava, quer a Aliança Democrática, quer o Chega, seriam fortemente penalizados pelas notícias das semanas mais recentes. E, ao mesmo tempo, o Partido Socialista receberia o prémio de ter alterado a situação económica e social do país, equilibrado as finanças públicas e criado um superavit, que este (des)governo desbaratou com a satisfação de umas quantas reivindicações corporativas. Acresce que, tendo-se agravado ainda mais a crise na habitação, na saúde e na educação, importa valorizar quem estava a implementar soluções, que o quadro eleitoral de há um ano veio cercear.

Não estamos, porém, em tempos normais: o domínio da comunicação social e a atuação de uns quantos infiltrados no ministério público, têm facilitado às direitas a sua ação propagandística, desenvolvendo um rol de mentiras, que têm afastado os prejudicados com as suas politicas - a grande maioria do eleitorado - de quem melhor os pode defender. É essa perversão, que perspetiva a  ingovernabilidade de um país, que parecia destinado a melhor futuro, quando o governo socialista detinha a maioria absoluta.

Nas eleições de maio estaremos perante um dilema: ou os portugueses querem continuar a ser manipulados por quem deles faz idiotas úteis para as suas gananciosas agendas, ou reorientam-se para recuperar aquele que foi o período mais esperançoso  da sua vida recente, aquele em que as esquerdas convergiram e pareceram capazes de marginalizarem as direitas para o histórico caixote de lixo correspondente à das suas menos valias.

Por agora aposto na tripla!

terça-feira, 4 de março de 2025

No palco da ópera bufa

 


Melómano inveterado, olhei para a crise politica suscitada pelo golpe de Marcelo e Lucília Gago e pensei-nos fadados para uma espécie de ópera verista em que os protagonistas (a clique Montenegro) acabariam mal, mas com tempo suficiente para causarem danos significativos nas vítimas dos seus atos: os doentes do SNS, os alunos sem aulas e com propinas aumentadas nos cursos superiores, ou quem não ganha o suficiente para comprar, ou alugar, casa a distância aceitável do seu emprego. Pensionistas e reformados seriam outros alvos da provável privatização da Segurança Social.

Afinal ainda não passou um ano sobre a tomada de posse do governo e eis-nos esclarecidos: em vez  dos acordes melancólicos dos grandes dramas de Verdi ou Donizetti eis-nos confrontados com uma bem mais rocambolesca ópera bufa. Dos casos e casinhos do passado, transitámos para as casas e casinos que, mau grado, a pouca vontade do Ministério Público e da Ordem dos Advogados, tendem a conferir aos comportamentos de Montenegro a gravidade falaciosamente iludida, mas cada vez mais desmascarada.

Agora, a partir da cada vez mais animada plateia, preparamo-nos para as cenas que se seguem: por agora Pedro Nuno Santos, prudente e perspicaz, propicia o lume brando em que melhor estufado ficará quem quis ser mais esperto do que todos quantos com ele partilhavam o palco. Acumular rendimentos dos seus patrocinadores com o exercício do poder é escândalo que fede e não se limpa com sumária barrela!

domingo, 2 de março de 2025

A queda de um (falso) anjinho

 

No Barry Lindon, Kubrick mostrou-nos um exemplo lapidar da má-sina, que costuma precipitar de bem alto os arrivistas, precisamente quando se julgavam inamovíveis  do seu altar.

Bem pode Montenegro vitimizar-se, que não consegue disfarçar o susto, que anda por certo a garantir-lhe noites mal dormidas: por muito que o amigo Amadeu Guerra mostre incomoda indisponibilidade para dizer se vai ou não investigar os estranhos negócios do primeiro-ministro. Como poderá justificar que a PGR não mostre o mesmo empenho que demonstrou contra Sócrates e Manuel Pinho a pretexto de estarem em causa dinheiros recebidos durante o exercício de funções públicas?

Por muito que não caia já - embora o retrato já vá estando esborratado! - Montenegro não se livra do desmascaramento da sua chico espertice.

Quer ele, quer os generosos financiadores sabiam da valia dos pagamentos em função da prometida ascensão ao poder para, daí, lhes servir de facilitadores dos negócios.

Querendo conciliar o exercício do poder com a oportunidade para aumentar significativamente o património pessoal, quase ninguém aceitará que sejam os filhos de Montenegro a alambazarem-se com aquilo que só devem ao progenitor. Qualquer licenciado em Direito, só por manha desconhece não ser possível descartar-se da titularidade de um negócio ao passa-lo para a cara metade com quem tem a comunhão de adquiridos, mantendo-se a mácula na passagem para os filhos. Até porque, para os patrocinadores interessados no retorno do investimento no pai, será esse quem lho garantirá e não os seus putativos fornecedores de serviços.

Estamos em contagem decrescente para a queda de um falso anjinho! 

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Chungarias

 

Tarefa fácil a da equipa de criadores de conteúdos, que trabalham para o programa dominical de Ricardo Araújo Pereira: o Chega dá-lhes tanta artilharia, que basta aproveitá-la sem sequer lhes ser necessário acrescentar o lado caricatural.

Por natureza os deputados do partido especializado na bandidagem  - de que dá tão esdrúxulos exemplos! - incumbe-se de dar folga à imaginação dos humoristas.  Na maior parte das vezes basta pôr a falar aquela gente de reles condição para ficarmos esclarecidos quanto ao que lhes move a falta de carácter.

Não é que dê particular atenção ao que dizem Ventura & Cª, mas suspeito que a violência doméstica está longe de ser motivo de sua preocupação: tão amancebados andam com o passado fascista, que não verão grande mal no facto de, há cinquenta anos, ser perfeitamente legal que o marido chegasse a roupa ao pelo da respetiva mulher. Ou que as palmadas servissem de modelo pedagógico para adestrar os meninos e meninas mal comportados.

E, no entanto, como o Público acaba de comprovar num conjunto de excelentes reportagens, hoje em dia e com toda a legislação destinada a dissuadi-la, ainda há quem morra ou fique ferido por obra e graça dos desvarios dos machos ibéricos, que campeiam por aí e não me admiraria fossem em boa parte eleitores do Chega.

Elucidativo o confessado receio - e felizmente desmentido! - de algumas das queixosas serem casadas com agentes da PSP e da GNR e coibirem-se de avançar com a denúncia formal dos seus padecimentos por medo da proteção corporativa em torno dos conjugues.

Cobardes como são (e quantas vezes assassinos!)  os perpetradores da violência doméstica representam o que de pior existe na sociedade portuguesa. Que é aquele que empatiza com André Ventura.

Homofonamente, talvez não seja ilógica a semelhança entre as palavras chunga  e Chega.

 

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

Salue les Copains... entre incendiários e cortadoras de cabeças

 

Não é que a comédia seja regra nas notícias televisivas mas estas andam a seguir o modelo das telenovelas em que quase nada acontece, de episódio para episódio, mas há sempre algo, que abre expetativas para grandes alterações futuras.

Que Trump e Putin tenham falado ao telefone não surpreende ninguém, como também não haverá quem abra a boca de espanto com o abraço, que partilharão daqui a dias na Arábia Saudita. Bem podem a União Europeia e a Grã-Bretanha, subservientes face à estratégia do Pentágono para cercar a Rússia e cortar-lhe os elos com o resto do continente, viverem as dores de corno, típica dos maridos enganados mas, depois das supostas armas químicas de Saddam Hussein, quem as mandou acreditar nas estórias da carochinha criadas para as reduzirem à sua indigência e a perderem a competitividade suscitada pelos baixos custos da energia vinda de além dos Urais?

Pateta e/ou patético é o holandês, que anda a fazer modo de vida enquanto vendedor encartado da indústria de guerra norte-americana, sentindo na estúpida estratégia da Nato o maná para substituir os milhões de dólares, que junto dela Trump promete poupar.

Digna igualmente de telenovela a sucessão de casos com o Chega, que esta semana têm a dimensão da rivalidade entre dois dirigentes rivais, prontos  a resolverem as disputas no confronto físico e no incêndio de um carro, mas também a ignomínia da deputada, que atreveu-se a fazer bullying a quem tem a infelicidade de ser cega.

E se os casos e casinhos de Montenegro & Cª não ganham a dimensão, que a comunicação social lhes daria se tivessem sucedido com António Costa, ou virão a acontecer com Pedro Nuno Santos - os jornais e as televisões são obsequiosos na função de their master’s voices, ainda muito haverá a esperar dos contributos de Dalila Rodrigues, cujo mau feitio era de há muito conhecido, mas se vai confirmando ainda mais pérfido que a da sua bíblica homónima, que ganhou má fama a cortar cabelos.

Esta Dalila não se contenta com menos do que cortar cabeças... 

domingo, 9 de fevereiro de 2025

Repimpemo-nos na primeira plateia

 

Não sei se viverei o bastante para assistir ao fim do trumpismo, mas estou certo em como ele acontecerá. Sempre considerei trágicos os desesperos de alguns famosos suicidas - Virginia Woolf, Stefan Zweig, Walter Benjamin - que, durante a vigência do dito “império por mil anos” - não aguentaram o desespero e desistiram de assistir ao desaparecimento do seu títere.

É admissível que muitos dos que estiveram certos da curta existência do nazismo não tenham vivido o suficiente para lhe celebrarem o fim. Mas, mesmo ao morrerem, terão vislumbrado esse futuro, que imaginavam bem melhor, porque pior parecia não se vislumbrar.

Fazendo alguns palpites o mais provável é o próprio Trump claudicar a curto/ médio prazo porque os 78 anos deverão condicionar o funcionamento do corpo. E os poderes absolutos são sempre unipessoais, envolvendo disputas fratricidas entre quantos ambicionam suceder ao defunto chefe.

É por isso que não me impressiona a rapidez com que Trump & Musk andam a destruir o capital simbólico que os Estados Unidos ainda projetavam ser enquanto a “maior das democracias”.  Até ao lavar dos cestos muito sobra por vindimar.

Essa fórmula era, aliás, uma mistificação absurda tendo em conta toda a História das agressões imperialistas e racistas internas dos sucessivos ocupantes da Casa Branca contra os seus inimigos externos e internos. Agora o monstro capitalista selvagem ficou á solta e a exibir-se no seu sinistro “esplendor”.

No fim do trumpismo teremos a China mais forte como primeira das superpotências e os israelitas a pagarem as custas de terem aproveitado o momento para a prática de um genocídio por que serão devidamente castigados. Como aconteceu com os que criaram e implementaram o seu Holocausto.

É só comprar as pipocas e assistir a tudo na primeira plateia!

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

Indecorosa desigualdade

 

Não há como dar  crédito a um estudo financiado pela Fundação do Pingo Doce, e abordado na revista Visão, quando atesta ser Portugal um dos países europeus onde grassa maior desigualdade social entre as camadas mais endinheiradas e as que veem o mês sobrar-lhe ao fim do ordenado ou da pensão social.

Se na empresa dos patronos dessa instituição isso é gritantemente flagrante não há como crer no que estão a afirmar dada a indecora diferença entre as remunerações  de Pedro Soares dos Santos e a generalidade dos que por ele são esbulhados das mais valias do seu trabalho.

Olhemos então para o estudo conduzido por  Carlos Farinha Rodrigues: em 2023 cerca de 1,8 milhões de pessoas vivia com menos de 632 euros mensais, quando a crise habitacional já ganhava ritmo de cruzeiro com a explosão do alojamento local. Com os idosos como grupo social mais afetado pela pobreza, seguindo-se as crianças e os jovens.

Portugal era, nesse ano, o 4º país europeu mais desigual apenas ultrapassado pela Bulgária, pela Letónia e pela Lituânia. E, apesar das dificuldades enfrentadas com a epidemia e com a inflação gerada pela guerra na Ucrânia - que a todos, na realidade afetou! - pode-se dizer que esse é um dos indicadores, que comprometem o legado de António Costa à frente do governo: se os socialistas não conseguiram reduzir substancialmente as desigualdades entre os ricos e os pobres, o que haverá a temer de quem lhe sucedeu e, em todas as áreas da sua gestão, tudo fazem para ainda mais as agravarem?

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Para quem tivesse dúvidas

 

Tivesse Liz Truss aquecido o lugar de primeira-ministra inglesa - em que só durou umas semanas entre setembro e outubro de 2022 -, e a Iniciativa Liberal teria nela encontrado a sua mais que tudo a nível de ídolo a replicar.

Como a desgraça foi tão breve, que não deu tempo sequer para passar dos primórdios de uma receita hiperliberal tudo se limitou a um sorriso amarelo no parlamento, quando António Costa os conotou com a dita cuja.

Mas que o ideário fanático em prol do capitalismo selvagem está lá viu-se este fim-de-semana durante um Congresso em que Javier Milei foi incensado como “querido líder” das suas ideias. E invocaram para isso os méritos de uma governação cujos indicadores estão longe de ser os por eles proclamados.

Na nação sul-americana, entregue ao delírio do seu presidente, está-se longe da aplicação do provérbio da vindima só definida após o lavar dos cestos. Os finalmente, que resultarão do empobrecimento brutal de boa parte da sua população, terá consequências mais cedo do que esperam os convivas de Loures. Pode-se é lamentar que ainda tantos jovens se deixem iludir por uma ideologia cujos resultados Marx previu há século e meio. A iliteracia funcional paga-se com a repetição dos mesmos erros.

Mas confirma-se também o que, há muito tempo se anda a constatar: não basta ser-se fascista, como sucede com os grunhos do Chega, para se ser de extrema-direita. Estas ideias, defensoras do salve-se quem puder numa sociedade à medida dos oligarcas do nosso tempo, também o são.

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

As estátuas que estão na calha para serem atiradas abaixo!

 

Não nos devemos iludir com uma circunstância evidente: gente de pensamento fascista sempre o houve no Portugal de Abril. A vergonha, porém, fazia-os acoitarem-se no voto, e até na militância nos partidos do chamado “arco da governação”.

Se nada podiam contra eles juntavam-se-lhes disfarçando na medida do possível os preconceitos e outro ideário comprometedor.

A má revelação destes últimos anos foi o terem perdido essa vergonha e virem para a luz do dia expressar a verdadeira índole. Culpa das redes sociais e das televisões, que deram relevância ao que não deveria ter passado pelo seu crivo crítico.

Surgiram assim os “deploráveis”, como os chamou Hillary Clinton no seu contexto e logo se viu zurzida por crime de ofensa a quem o termo em causa até pecava pela complacência.

Agora a pouca vergonha exibe-se no seu esplendor - lá nos States dos grandes ladrões oligarcas das tecnológicas e cá no cantinho das malas surripiadas nos aeroportos! - e promete ser espetáculo triste de se ver. Embora sobre uma esperança: a exemplo de outros períodos históricos em que as ditaduras fascistas pareceram florescer, suceder-se-ão os seguintes, que resultarão das lutas sociais contra uma desigualdade ainda mais insuportável na distribuição dos rendimentos. Se os Musks deste tempo se julgam imperadores por mil anos a realidade virá dar-lhes as lições, que outros déspotas conheceram.

Será, então, altura de voltarem às tocas todos quantos agora se deleitam com o momentâneo sucesso dos seus cabeça-de-cartaz. Com os quais nada quererão ter a ver quando as coisas derem para o torto.

Os deploráveis deverão voltar a ter vergonha de quem continuarão a ser, escondendo-se o mais expeditamente possível no meio dos que quererão uma qualidade de vida muito diferente da prometida pelos ídolos erigidos em novas estátuas por derrubar.

domingo, 26 de janeiro de 2025

Odiar nos outros o que se sabe ser...

 

A novela sobre o roubo das malas no aeroporto parece uma no ending story com uma enxurrada de pormenores pitorescos sobre a personalidade do neonazi do Chega, que a protagonizou. Mas o aspeto mais esclarecedor reside na caracterização sociológica e (i)moral dos que se acolhem ao partido de André Ventura e do topete com que procuram justificar as suas ações tomando toda a gente por parva.

Verem-se ao espelho equivale a depararem com a tal “bandidagem” de que se dizem férreos inimigos. Nada, porém, que o doutor Freud não tenha identificado ao teorizar sobre detestar-se nos outros aquilo, que mais detestamos em nós. Ou, por outras palavras, é por se saberem muito semelhantes à forma como veem os ciganos ou os emigrantes que, quem se enfeuda ao Chega, aposta em “encosta-los à parede”.

No caso de Arruda o dar-se como culpado durante a investigação policial, e vir depois declarar-se inocente chegando ao ponto de desmentir as provas recolhidas nas câmaras de videovigilância, dando-as como oriundas da Inteligência Artificial, pode demonstrar que tem muita imaginação, mas tino de mentecapto. Mesmo que, enquanto o pau dá a volta antes de lhe dar merecida punição, leve à abjeção ao ponto de insistir em ficar na Assembleia da República, ademais a coberto de uma baixa médica, que já se autoprescreveu numa ofensa à classe médica  assim indigitada como cúmplice de criminosos...

sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Manobras de diversão

 

É um clássico: quando as direitas estão em dificuldades - seja pela ganância incontida do por si indigitado diretor executivo do SNS, seja pelo caso do matarruano das malas -, procuram diversificar manobras de diversão à conta dos despedimentos das trabalhadoras do Bloco de Esquerda ou da hiperexplorada “viragem” do lider socialista a respeito da emigração. 

Se o primeiro desses casos parece racionalmente lógico: como poderiam essas funcionárias aspirar a manter os empregos se a nova realidade política implicara a perda das receitas necessárias para lhes pagar, no da opinião de Pedro Nuno Santos sobre a emigração há uma mistificação quanto à sua convergência com a do PSD como Leitão Amaro se apressou a vir comentar.

De facto da posição de Montenegro sobre quem vem procurar futuro em Portugal só se sabe que devem ser menos e sem direitos sociais (mesmo pagando muito mais do que custam nesse balanço económico!).

Ao invés, Pedro Nuno Santos só vem acentuar uma evidência exigível por qualquer democrata: que se comportem de acordo com os valores da sociedade onde procuram integrar-se. Se lhes é devido o respeito pela componente compatível das crenças religiosas, não se aceita que pratiquem a excisão clitoridiana das meninas, quando chegadas à puberdade, ou imponham às mulheres uma repressão, que não deve ser sequer aceite nas geografias donde provém.

Não se trata da sua cor, etnia ou religião, e muito menos de se lhes negarem direitos, que são devidos a quem vive nos limites geográficos abrangidos pela nossa Constituição. Apenas que sejam protagonistas do cumprimento da Declaração Universal dos Direitos do Homem, sobretudo no que diz respeito às suas mulheres. Questão fundamental, que não consta dos propósitos xenófobos de Ventura ou dos do seu tácito aliado, que é Luís Montenegro. Porque, relativamente aos emigrantes eles defendem o mesmo: quanto mais clandestinos e sem direitos tiverem, mais explorados serão por patrões sem escrúpulos, que são os mais entusiastas com a perenização das direitas no poder.

Há, porém, uma dificuldade que se coloca ao atual governo: sendo cada vez mais evidente o fracasso das suas políticas - na saúde, na educação, na habitação, mas também na expetativa quanto a tornar-se exequível uma melhor qualidade de vida - maior se torna a diferença de credibilidade entre quem navega à vista, sempre à espera de ser bafejado com maior e imerecido êxito nas próximas eleições, e quem, pelo contrário, demonstra uma ideia clara para qual deverá ser o futuro do país, mediante uma estratégia de desenvolvimento, que vai consolidando dia-a-dia nas visitas em curso às empresas, que deverão liderar essa urgente transformação...