No mesmo dia em que uma jovem grávida dava à luz na via pública, abandonada pelo 112, também enfrentei o desespero de um sistema de saúde que já não responde. Enquanto aquela família improvisava um parto na rua, eu estava do outro lado do telefone, à espera que a Linha Saúde 24 decidisse atender a minha chamada. Quinze minutos de mensagens automáticas, repetidas como uma zombaria, enquanto a Elza sofria com uma infeção urinária que exigia ação imediata.
Felizmente, consegui ajuda fora do sistema – amigos médicos que resolveram em minutos o que o Estado, com os seus serviços falhados, não foi capaz de fazer. Mas e quem não tem essa sorte? E aquela jovem que pariu no asfalto, sem um profissional por perto?
O que mais revolta não é apenas a incompetência, mas a hipocrisia de quem hoje governa. Quando estavam na oposição os mesmos, que hoje calam-se perante o colapso da Saúde eram especialistas em escândalos mediáticos. Nos tempos do PS qualquer falha mínima era motivo para exigências de demissões, protestos estridentes e manchetes inflamadas.
Agora? Silêncio. A ministra da Saúde, invisível e inoperante, agarra-se ao cargo como quem teme perder as mordomias e os tachos para os amigos. Enquanto isso, os portugueses sofrem: esperam horas nas urgências, desistem de chamadas que nunca são atendidas, e veem-se obrigados a resolver sozinhos crises que deveriam ser assistidas pelo Estado.
O mais triste é a resignação. O povo que os colocou no poder aguenta e cala, mesmo quando a revolta seria mais do que justificada. Onde estão os protestos? Onde está a indignação coletiva que antes se via aos primeiros sinais de falha?
Enquanto não houver consequências reais para quem desgoverna, nada mudará. Continuaremos a ver jovens a parir na rua, doentes a esperar eternamente por uma resposta, e um Ministério da Saúde que funciona como um fantasma – presente nos orçamentos, ausente na vida das pessoas.
Até quando?
Sem comentários:
Enviar um comentário