Nas últimas semanas, mantive-me em silêncio. Não por indiferença ou resignação, mas numa espécie de exercício contemplativo – deixar a poeira assentar depois da recente eleição que penalizou aquele que seria o mais competente líder para a governação do país.
Quando olho para a mediocridade manifesta de Luís Montenegro e a comparo com as inequívocas qualidades de Pedro Nuno Santos, é genuinamente penoso constatar como o eleitorado seguiu, mais uma vez, aquela regra perversa que também vigora noutras geografias: escolher invariavelmente o mais rasca, desde que seja mais manhoso na habilidade ancestral de enganar os incautos.
Não estou sozinho nesta leitura. Rodrigo Sousa Castro, capitão de Abril e figura incontornável da nossa democracia, não hesita em classificar o atual executivo como um "governo de trogloditas sociais a reboque dos fachos do Chega". Do mesmo modo, o professor Nobre Correia vê neste elenco governativo um conjunto de figuras que, se tivessem vivido noutro tempo, teriam sido "dedicados lambe-botas do salazarismo". Palavras duras, mas que espelham uma realidade que muitos preferem ignorar.
O próprio Marcelo, que tanto conspirou nos bastidores para erradicar os socialistas do poder, deve estar agora a dar tratos à cabeça perante a constatação de como o almejado governo da "sua gente" pode revelar-se tão manifestamente mau. Porque a verdade crua é esta: em todas as áreas, absolutamente todas, tudo piorou. Na saúde, na educação, na habitação. E o mais inquietante é não se sentir ainda a vaga de fundo de um protesto coletivo que dê uma noção clara de que se sentem enganados aqueles que optaram por aquilo que agora vigora.
Todos os dias, sistematicamente, surgem notícias que evidenciam como as políticas de extrema-direita agora em implementação só tendem a agravar o que já era manifestamente mau. No Público de hoje, Ulisses Garrido insurge-se, muito justamente, contra um dos aspetos menos divulgados da celerada reforma laboral: a redução do dever das entidades patronais em proporcionarem formação profissional aos seus trabalhadores, de forma a capacitá-los com maiores competências. Em vez de apostar na melhoria da produtividade de quem trabalha, este (des)governo prefere remetê-los à condenação perpétua de nunca passarem da cepa torta.
E há exemplos ainda mais eloquentes desta incompetência criminosa. No dia imediato a morrerem 350 animais no incêndio de uma pecuária em Santarém, o governo elimina a obrigatoriedade legal de existirem sistemas de deteção de incêndio nessas explorações. A ironia macabra desta decisão dispensa comentários.
Infelizmente – e digo-o como socialista de há quatro décadas com as quotas em dia – temos hoje uma direção que não desejaria ter. Precisamente quando mais necessitaríamos de uma liderança forte, destemida, sem medo de chamar os bois pelos nomes, cabe-nos uma liderança "moderada", desejosa de conciliábulos com quem não os quer, nem tão pouco os merece.
Esta é a nossa realidade: um país entregue à mediocridade governativa, enquanto a principal força de oposição se debate com liderança tíbia que confunde moderação com capitulação. Resta-nos a esperança de que o povo, mais cedo ou mais tarde, desperte desta letargia coletiva e exija o que mais precisa: competência, seriedade e verdadeiro compromisso com o interesse público.
Até lá, o silêncio já não é opção. É tempo de falar alto e de dar o devido troco a quem o merece.