segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Chungarias

 

Tarefa fácil a da equipa de criadores de conteúdos, que trabalham para o programa dominical de Ricardo Araújo Pereira: o Chega dá-lhes tanta artilharia, que basta aproveitá-la sem sequer lhes ser necessário acrescentar o lado caricatural.

Por natureza os deputados do partido especializado na bandidagem  - de que dá tão esdrúxulos exemplos! - incumbe-se de dar folga à imaginação dos humoristas.  Na maior parte das vezes basta pôr a falar aquela gente de reles condição para ficarmos esclarecidos quanto ao que lhes move a falta de carácter.

Não é que dê particular atenção ao que dizem Ventura & Cª, mas suspeito que a violência doméstica está longe de ser motivo de sua preocupação: tão amancebados andam com o passado fascista, que não verão grande mal no facto de, há cinquenta anos, ser perfeitamente legal que o marido chegasse a roupa ao pelo da respetiva mulher. Ou que as palmadas servissem de modelo pedagógico para adestrar os meninos e meninas mal comportados.

E, no entanto, como o Público acaba de comprovar num conjunto de excelentes reportagens, hoje em dia e com toda a legislação destinada a dissuadi-la, ainda há quem morra ou fique ferido por obra e graça dos desvarios dos machos ibéricos, que campeiam por aí e não me admiraria fossem em boa parte eleitores do Chega.

Elucidativo o confessado receio - e felizmente desmentido! - de algumas das queixosas serem casadas com agentes da PSP e da GNR e coibirem-se de avançar com a denúncia formal dos seus padecimentos por medo da proteção corporativa em torno dos conjugues.

Cobardes como são (e quantas vezes assassinos!)  os perpetradores da violência doméstica representam o que de pior existe na sociedade portuguesa. Que é aquele que empatiza com André Ventura.

Homofonamente, talvez não seja ilógica a semelhança entre as palavras chunga  e Chega.

 

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

Salue les Copains... entre incendiários e cortadoras de cabeças

 

Não é que a comédia seja regra nas notícias televisivas mas estas andam a seguir o modelo das telenovelas em que quase nada acontece, de episódio para episódio, mas há sempre algo, que abre expetativas para grandes alterações futuras.

Que Trump e Putin tenham falado ao telefone não surpreende ninguém, como também não haverá quem abra a boca de espanto com o abraço, que partilharão daqui a dias na Arábia Saudita. Bem podem a União Europeia e a Grã-Bretanha, subservientes face à estratégia do Pentágono para cercar a Rússia e cortar-lhe os elos com o resto do continente, viverem as dores de corno, típica dos maridos enganados mas, depois das supostas armas químicas de Saddam Hussein, quem as mandou acreditar nas estórias da carochinha criadas para as reduzirem à sua indigência e a perderem a competitividade suscitada pelos baixos custos da energia vinda de além dos Urais?

Pateta e/ou patético é o holandês, que anda a fazer modo de vida enquanto vendedor encartado da indústria de guerra norte-americana, sentindo na estúpida estratégia da Nato o maná para substituir os milhões de dólares, que junto dela Trump promete poupar.

Digna igualmente de telenovela a sucessão de casos com o Chega, que esta semana têm a dimensão da rivalidade entre dois dirigentes rivais, prontos  a resolverem as disputas no confronto físico e no incêndio de um carro, mas também a ignomínia da deputada, que atreveu-se a fazer bullying a quem tem a infelicidade de ser cega.

E se os casos e casinhos de Montenegro & Cª não ganham a dimensão, que a comunicação social lhes daria se tivessem sucedido com António Costa, ou virão a acontecer com Pedro Nuno Santos - os jornais e as televisões são obsequiosos na função de their master’s voices, ainda muito haverá a esperar dos contributos de Dalila Rodrigues, cujo mau feitio era de há muito conhecido, mas se vai confirmando ainda mais pérfido que a da sua bíblica homónima, que ganhou má fama a cortar cabelos.

Esta Dalila não se contenta com menos do que cortar cabeças... 

domingo, 9 de fevereiro de 2025

Repimpemo-nos na primeira plateia

 

Não sei se viverei o bastante para assistir ao fim do trumpismo, mas estou certo em como ele acontecerá. Sempre considerei trágicos os desesperos de alguns famosos suicidas - Virginia Woolf, Stefan Zweig, Walter Benjamin - que, durante a vigência do dito “império por mil anos” - não aguentaram o desespero e desistiram de assistir ao desaparecimento do seu títere.

É admissível que muitos dos que estiveram certos da curta existência do nazismo não tenham vivido o suficiente para lhe celebrarem o fim. Mas, mesmo ao morrerem, terão vislumbrado esse futuro, que imaginavam bem melhor, porque pior parecia não se vislumbrar.

Fazendo alguns palpites o mais provável é o próprio Trump claudicar a curto/ médio prazo porque os 78 anos deverão condicionar o funcionamento do corpo. E os poderes absolutos são sempre unipessoais, envolvendo disputas fratricidas entre quantos ambicionam suceder ao defunto chefe.

É por isso que não me impressiona a rapidez com que Trump & Musk andam a destruir o capital simbólico que os Estados Unidos ainda projetavam ser enquanto a “maior das democracias”.  Até ao lavar dos cestos muito sobra por vindimar.

Essa fórmula era, aliás, uma mistificação absurda tendo em conta toda a História das agressões imperialistas e racistas internas dos sucessivos ocupantes da Casa Branca contra os seus inimigos externos e internos. Agora o monstro capitalista selvagem ficou á solta e a exibir-se no seu sinistro “esplendor”.

No fim do trumpismo teremos a China mais forte como primeira das superpotências e os israelitas a pagarem as custas de terem aproveitado o momento para a prática de um genocídio por que serão devidamente castigados. Como aconteceu com os que criaram e implementaram o seu Holocausto.

É só comprar as pipocas e assistir a tudo na primeira plateia!

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

Indecorosa desigualdade

 

Não há como dar  crédito a um estudo financiado pela Fundação do Pingo Doce, e abordado na revista Visão, quando atesta ser Portugal um dos países europeus onde grassa maior desigualdade social entre as camadas mais endinheiradas e as que veem o mês sobrar-lhe ao fim do ordenado ou da pensão social.

Se na empresa dos patronos dessa instituição isso é gritantemente flagrante não há como crer no que estão a afirmar dada a indecora diferença entre as remunerações  de Pedro Soares dos Santos e a generalidade dos que por ele são esbulhados das mais valias do seu trabalho.

Olhemos então para o estudo conduzido por  Carlos Farinha Rodrigues: em 2023 cerca de 1,8 milhões de pessoas vivia com menos de 632 euros mensais, quando a crise habitacional já ganhava ritmo de cruzeiro com a explosão do alojamento local. Com os idosos como grupo social mais afetado pela pobreza, seguindo-se as crianças e os jovens.

Portugal era, nesse ano, o 4º país europeu mais desigual apenas ultrapassado pela Bulgária, pela Letónia e pela Lituânia. E, apesar das dificuldades enfrentadas com a epidemia e com a inflação gerada pela guerra na Ucrânia - que a todos, na realidade afetou! - pode-se dizer que esse é um dos indicadores, que comprometem o legado de António Costa à frente do governo: se os socialistas não conseguiram reduzir substancialmente as desigualdades entre os ricos e os pobres, o que haverá a temer de quem lhe sucedeu e, em todas as áreas da sua gestão, tudo fazem para ainda mais as agravarem?

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Para quem tivesse dúvidas

 

Tivesse Liz Truss aquecido o lugar de primeira-ministra inglesa - em que só durou umas semanas entre setembro e outubro de 2022 -, e a Iniciativa Liberal teria nela encontrado a sua mais que tudo a nível de ídolo a replicar.

Como a desgraça foi tão breve, que não deu tempo sequer para passar dos primórdios de uma receita hiperliberal tudo se limitou a um sorriso amarelo no parlamento, quando António Costa os conotou com a dita cuja.

Mas que o ideário fanático em prol do capitalismo selvagem está lá viu-se este fim-de-semana durante um Congresso em que Javier Milei foi incensado como “querido líder” das suas ideias. E invocaram para isso os méritos de uma governação cujos indicadores estão longe de ser os por eles proclamados.

Na nação sul-americana, entregue ao delírio do seu presidente, está-se longe da aplicação do provérbio da vindima só definida após o lavar dos cestos. Os finalmente, que resultarão do empobrecimento brutal de boa parte da sua população, terá consequências mais cedo do que esperam os convivas de Loures. Pode-se é lamentar que ainda tantos jovens se deixem iludir por uma ideologia cujos resultados Marx previu há século e meio. A iliteracia funcional paga-se com a repetição dos mesmos erros.

Mas confirma-se também o que, há muito tempo se anda a constatar: não basta ser-se fascista, como sucede com os grunhos do Chega, para se ser de extrema-direita. Estas ideias, defensoras do salve-se quem puder numa sociedade à medida dos oligarcas do nosso tempo, também o são.