sábado, 3 de abril de 2010

FAZER OU SÓ PENSAR...

Houve um tempo em que aderi sem rebuços às ideias da extrema-esquerda maoísta.
Estava-se no dia 28 de Abril de 1974 e as esquerdas tradicionais personificadas em Mário Soares e em Álvaro Cunhal pareciam demasiado empenhadas em conciliações com os senhores da finança e da indústria para que se verificasse em Portugal uma verdadeira democracia assente na igualdade, na fraternidade e na solidariedade. E, na época, o MRPP parecia quem melhores argumentos para exigir a Revolução com que sonhava.
Nessa época Fernando Rosas era um dos principais líderes do movimento e Francisco Louçã já andava pelo trotskismo.
Trinta e seis anos depois, eles prosseguem na esquerda radical enquanto eu cumpri a lógica enunciada por Willy Brandt e inseri-me no enquadramento político da social-democracia tal qual é representado em Portugal pelo Partido Socialista.
E essa distinção entre gente mais conhecida da minha geração e eu mesmo reside na que separa o fazer com o pensar.
Quem não tem outra responsabilidade cívica que não enunciar o que pensa pode atribuir-se discursos ricos em ideias utópicas mas vazios em capacidade de concretização.
É isso o que se passa com os defensores de formas múltiplas de comunismo, que o tempo se encarregou de desmentir quanto às suas virtualidades em experiências de consequências dramáticas, amiúde responsáveis por recuos gravíssimos nos direitos das suas populações (como ocorreu nos antigos regimes progressistas africanos, todos eles substituídos por outros aonde grassa a corrupção, o fanatismo islâmico, a pobreza mais extrema, o analfabetismo mais comprometedor quanto ao futuro).
Quem, como sucede com Sócrates, tem de mostrar no concreto como se poderá aliar a criação de riqueza com regras de justiça social, o desafio é muitas vezes difícil e põe em causa os princípios ideológicos mais consistentes.
Para muitos dos que criticam o Governo a propósito do PEC, está esquecida uma célebre lição de Lenine para quem a forma de dar dois passos em frente equivale a recuar momentaneamente um.
Desde que não se perca de vista o que se pretende a prazo!

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