domingo, 21 de fevereiro de 2010

Das campanhas de assassínio de carácter à sobrevivência de um moribundo

Há quem incense o juiz de instrução e o procurador de Aveiro, que têm protagonizado o processo Face Oculta e alguma imprensa até os arvora em arautos impolutos de uma campanha regeneradora dos valores nacionais. Mas os advogados de Armando Vara dão uma outra versão de tais personalidades: «Com percursos com este rigor lógico dedutivo até Jesus Cristo de Nazaré vai acabar acusado por tráfico de influências, e o Papa também vai á chegar com uma participação económica em negócio e o senhor cardeal-patriarca de Lisboa que se cuide, porque, no mínimo, será brindado com uma prevaricação de abuso de poder. (…) Salvo melhor opinião e com o devido respeito, que é muito, qualquer aluno do curso de Direito que arriscasse fazer semelhante raciocínio substantivo estaria votado ao chumbo».
Dá vontade de mandar os senhores em causa regressar aos bancos de escola para que tentem cuidar das questões de justiça com outra seriedade.
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No «Diário de Notícias», o jornalista Nuno Saraiva aborda a questão da asfixia democrática de uma forma pertinente face aos últimos desenvolvimentos da campanha promovida em torno de «heróis» tão indiscutíveis como o são Manuela Moura Guedes, José Manuel Fernandes ou Mário Crespo:
«Começo a acreditar que a liberdade de expressão está, realmente, ameaçada. Que estamos, de facto, cada vez mais condicionados naquilo que dizemos e escrevemos em público. Mas em sentido inverso do que parece ser hoje a moral dominante. Isto é, quem se atrever a não criticar, atacar, arrasar, insultar ou até mesmo destruir o primeiro-ministro em público leva imediatamente com o selo de “socratista” ou “socranete”».
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No «Público» a jornalista São José de Almeida continua a ser a voz que clama do deserto, proclamando o fim do capitalismo numa altura em que ele volta a retomar as suas práticas mais selvagens.
Não deixa de ter razão, mas o pior é quase ninguém se atrever a contrariar a dinâmica dominante de quem detém os diversos poderes (económico, político, judicial, comunicacional):
«O que é mais grave é que, perante o falhanço a nível global de um modelo que urge ser alterado, pois não corresponde ao interesse das pessoas e não promove o bem estar nem a justiça social, em Portugal os detentores do poder não falam disso. Antes assistimos à degradação do sistema político, à descredibilização pública dos políticos e à ampliação e reprodução da imagem de que os poderosos são promíscuos. Ou seja, perante o ignorar de uma crise que arrasta um cadáver adiado de um modelo de desenvolvimento económico e social que implodiu,  vemos uma classe política a tentar fazer acreditar  - não se sabe se aos cidadãos, ou a si mesma  - que têm vida e futuro uma atitude e uma concepção perante a vida pública e a gestão de Estado que estão mortos e enterradas e que são, ela também, outros cadáveres adiados.»

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