sexta-feira, 11 de maio de 2018

Os disparates das direitas e os crimes de hoje no Sudão e de ontem em Espanha


Nas direitas o disparate continua fértil: Marcelo quis comparar os irmãos Sobral aos diplomatas, elogiando os cantores em detrimento de quem trata da nossa diplomacia no terreno e o resultado foi o esperado. Quem não se sente não é filho de boa gente e lá teve o inquilino de Belém as orelhas a arder por causa da ligeireza com que fala de tudo e de nada.
No PSD um deputado mais afoito, que se viu legitimado pelo tom guerreiro do seu líder parlamentar no debate quinzenal, achou por bem pedir a demissão do ministro da Saúde e Rui Rio veio a seguir desautorizá-lo sob o argumento de que caberá a António Costa decidir o elenco governativo. Estará para ver o que esta direção laranja decidirá quanto ao tipo de discurso a assumir de futuro: se o tom arruaceiro de Negrão ao melhor estilo Hugo Soares, se um maior respeito na forma como se dialoga ou se criticam os adversários políticos.
Não podendo classifica-la de direita, porque deveria estar acima das ideologias e cingir-se ao seu papel constitucional, a Procuradoria Geral da República tem sido o braço judicial desse setor ideológico. Por isso constitui uma derrota da direita o veredito do Tribunal da Relação, que lhe retira o processo contra o antigo vice-presidente angolano, criando enfim as condições para que o relacionamento entre os dois Estados regresse à normalidade.
Do dia vale ainda a pena assinalar a unanimidade parlamentar relativamente ao inquérito sobre as rendas excessivas, que poderá destapar muitas das negociatas feitas em governos idos, mormente nos das direitas, para benefício de muitos interesses privados. Os mesmos que abocanharam a Portucel, privando o Estado, em cuja posse estava até Teixeira dos Santos dele a dissociar em definitivo, dos lucros que, só neste primeiro trimestre, ascenderam a 53,2 milhões de euros. Está ainda por fazer a história das privatizações, sobretudo relativamente a quem as promoveu e quem com elas ganhou. O perdedor sabemos bem quem foi: o povo português, que se viu espoliado de uma riqueza hoje só compensada com os elevados impostos, que Vítor Gaspar fez aprovar, e que tardam em ser reduzidos a patamar mais confortável para quem os tem de suportar.
No contexto internacional vale a pena fazer um parêntesis às malfeitorias de Trump e de Netanyahu para nos determos na má sina da jovem sudanesa de 19 anos, condenada à morte por ter assassinado o violador com quem o progenitor a forçou a casar e que repetidamente dela abusava. Há pressões internacionais para que a sentença judicial seja revista, mas em países dominados pelo fanatismo islâmico sabemos bem o quão baldados têm resultado este tipo de esforços.
A concluir, igualmente, a tendência para certos «investigadores» espanhóis porem em causa alguns factos históricos tidos como inquestionáveis, mas que as direitas rajoyanas gostariam muito de desqualificar: há pouco tempo foi um estarola a propor que Picasso não teria pintado Guernica em homenagem às vítimas do crime perpetrado na Guerra Civil, porque não só seria politicamente indiferente, como teria projetado o quadro antes de todo aquele drama ocorrer. Agora é outro néscio a pôr em causa as palavras emitidas por Miguel Unamuno contra o criminoso franquista Millan Astray, quando o enfrentou em 12 de outubro de 1936 na invadida universidade de Salamanca: "Este é o templo da inteligência e eu sou o seu sumo sacerdote. Vencer não é convencer. Para convencer há que persuadir e para persuadir necessitaríeis de algo que vos falta: razão e direito na luta."
Mesmo que não tivesse sido exatamente como a História guardou o episódio para a posteridade, ela há muito adotou a metodologia definida por John Ford num dos seus mais belos filmes em como, entre a lenda e a realidade, prevalecerá sempre a primeira.

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