sábado, 3 de fevereiro de 2018

Negócios privados e públicas decisões

1. Desminado o terreno, que o Ministério Público quis impor ao governo através de uma investigação, que nunca deveria ter sequer pensado em abrir, tudo regressa ao normal: notícias sobre criação de emprego neste período de vigência da atual maioria parlamentar como já não se via desde 1998 e a redução progressiva da dívida do Estado, mesmo que apresentadas no meio de outras, que as façam passar despercebidas, porque dar trunfos ao governo é coisa que os jornais e as televisões tentam evitar. Como passa quase sem se dar por ele o processo de infração levantado pela Comissão Europeia  pela encomenda que Aguiar Branco deu à Martifer para a construção de dois navios-patrulha nos Estaleiros de Viana e que violou as regras comunitárias sobre contratos públicos.  Mas a passagem do conhecido advogado laranja pelo governo correspondeu a uma sucessão de atos duvidosos que, curiosamente, os subordinados da D. Joana se escusam de investigar. Porque seria, no mínimo, justificável, que se procedesse a uma séria indagação das circunstâncias em que a importante unidade de construção naval foi sabotada durante anos como forma de justificar a sua privatização.  Logo seguida da garantia de negociata com a Marinha de Guerra como forma de dar rápidos lucros a ganhar a quem lhe servira de cúmplice.
Agora será o governo de António Costa a justificar-se perante Bruxelas pelas decisões suspeitas do que o antecedeu, sendo interessante acompanhar a forma como irá descalçar tão esfarrapada bota.
2. Para quem muito admira Sampaio da Nóvoa, e lamenta o quanto o país tem perdido ao não tê-lo como seu presidente, constitui motivo de satisfação a sua nomeação para a representação portuguesa na Unesco, numa altura em que o país ocupa uma das suas vice-presidências.
Seria difícil encontrar personalidade com um currículo académico e profissional tão rico para desempenhar o cargo com grande competência. Daí que se saúde a decisão do governo em enriquecer tão substancialmente o seu corpo diplomático. E, como o mandato irá até 2021, não sendo passível de recondução por ter então mais de 65 anos, será esse o momento de cessar funções e vir a tempo de se apresentar às eleições presidenciais, que ocorrerão precisamente nessa altura.
Não é que o professor já se tenha disponibilizado para tal, mas quem trabalhou intensamente em prol do Tempo Novo, que consubstanciava a sua campanha, já está a aquecer os motores para pôr o projeto novamente a carburar.
3. Imaginemos agora que, apesar de todo a popularidade de que, ainda, dispõe, Marcelo Rebelo de Sousa propunha um dos netos para se ver brindado com a Ordem do Infante D. Henrique.
Presumo que, nem os mais entusiastas apoiantes do Presidente aceitariam a petulância de considerar um dos seus descendentes merecedor de tal honra só por ser-lhe portador do ADN.
Aqui ao lado, porém, o Bourbon ainda sentado no trono da ilegítima monarquia, quotidiana ofensa aos sentimentos republicanos de uma ampla percentagem de espanhóis - na Catalunha sabemo-los ainda em maior número - teve o desaforo de atribuir à filha de 12 anos a condição de cavaleira do Tosão de Ouro. É preciso muito mais para justificar o regresso do regime que, ilegitimamente o fascista Franco, derrubou com a ajuda de Hitler, de Mussolini e de Salazar? Faltará muito para que o Palácio do Oriente conheça a sua versão do sucedido há cem anos no Palácio de Inverno de Petrogrado?

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