sábado, 24 de fevereiro de 2018

As diferenças insanáveis entre o Ser e o Parecer


Nos últimos dias as boas notícias sobre o desempenho da economia portuguesa continuaram, invariavelmente, a suceder-se: um relatório demonstrou que as receitas turísticas em 2017 cresceram 19,5% em relação ao ano anterior; a colocação de 800 milhões de euros em Bilhetes do Tesouro no mercado foi conseguida com a taxa média negativa de 0,417%, confirmando a atração dos investidores por este produto financeiro, que até pagam para ter nos seus portfolios; o FMI voltou a fazer um balanço positivo do que encontrou no âmbito da sexta avaliação da troika; e Mário Centeno, homem prudente, que não costuma fazer anúncios destes, sem estar bem convicto do que diz, considerou não se surpreender se Bruxelas rever em alta a estimativa de crescimento da economia portuguesa deste ano para 2,2%.
Tudo isto vai sucedendo enquanto o principal partido da oposição vai alimentando animados jogos florais entre os seus deputados, com vaticínios substantivos em como a corda tenderá a partir para o lado dos refratários da atual liderança, que parecem não ter aprendido nada com as sucessivas vitórias alcançadas por Rio na cidade do Porto contra forças bem mais fortes, que se lhe opunham (muitas delas com plena justiça!). No «Expresso», Ricardo Costa comenta: “com todo o respeito pelo grupo parlamentar, não vejo naquelas cadeiras nada que se assemelhe ao poder de fogo de Pinto da Costa”.
À esquerda discutem-se as vantagens e os perigos de uma improvável aproximação entre o PSD e o PS. Além de Francisco Assis, que parece não compreender o quão desajustado está da realidade social do país e dos militantes do (ainda) seu partido, há quem olhe para essa hipótese como uma forma de recentramento do PS no espaço político português como se esse não tivesse sido conquistado com o atual acordo parlamentar e com as direitas teimosamente remetidas à radicalidade extremista, que tem sido a sua. Não admira que, internamente, quase todas as vozes ouvidas tenham subscrito as palavras de Pedro Nuno Santos quando considerou que “a esmagadora maioria do PS quer pontes à esquerda e não à direita.” Tanto mais que os dois anos de governação já foram prenhes em resultados indubitáveis quanto à sua bondade.
E que essa aproximação será intensivamente contrariada por Marcelo Rebelo de Sousa, assim o confirma a sua oficiosa porta-voz no «Expresso» (Ângela Silva), que explica o interesse de Belém em ver o PPD a afrontar seriamente o governo, sob pena de se criarem condições ainda mais propícias para a maioria absoluta dos socialistas nas próximas legislativas. O que equivaleria a privar Marcelo do seu principal talento - o de intriguista - devolvendo-o àquilo a que merece ficar reduzido: à condição de «corta-fitas».
Mas se a aproximação entre o PS e o PSD de Rio se revela inexequível é por este último continuar igual a si mesmo no que defende e acredita. E foi isso que Pedro Filipe Soares resumiu, de forma muito sintética e incisiva, no Parlamento num dos debates desta semana: “Continuou a narrativa sobre a insustentabilidade da Segurança Social, na Educação mostrou saudades das reformas de Crato e atacou os avanços conseguidos por esta maioria na Saúde defendendo que não se deve diabolizar o lucro, quando ele é conseguido à custa do Serviço Nacional de Saúde. Temos aqui três exemplos de como Rio, no fundo, quer consensos novos com políticas velhas.”
E, de facto, alguém no seu juízo acreditará que António Costa aceitaria cortar nas pensões, chamar Crato de volta ou prosseguir o esforço de destruição do Serviço Nacional de Saúde em que tanto porfiaram Passos, Portas & Cª? Há um enorme abismo a separar as ideias de um e de outro em questões fundamentais, que fazem parecer divergências comezinhas às que, à esquerda, se mantém sobre a União Europeia ou a Nato.
Perspetiva-se longa vida a esta maioria parlamentar, mesmo depois do escrutínio de 2019!

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