quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

A propaganda que as notícias da Síria destilam


As notícias sobre a Síria andam diariamente nos telejornais que, invariavelmente, condenam Bashar al Assad como o algoz dos habitantes de Ghouta Oriental, inocentes vítimas, sujeitas a ataques com armas químicas ou  bombardeamentos convencionais de uma ferocidade sem igual. Houve até quem proclamasse a situação como aquele que ficará como o genocídio  do século XXI. Gente aparentemente insuspeita de simpatias com as direitas, como sucedeu com a historiadora Irene Pimentel, «comprou» esta tese e dispôs-se a servir-lhe de útil altifalante.
Este blogue não tem acreditado nesta versão muito parcial do que se passa na Síria e, pelo contrário, entre o laico Bashar al Assad e os seus opositores islamitas a preferência para a ocupação do poder naquela região pende inequivocamente para o primeiro, porque qualquer identificação de um regime com uma religião redunda invariavelmente numa forma de fascismo, que indigna quem defende uma clara separação entre os assuntos do Estado e as crenças de alguns em formas de transcendência, que acabam por pretender impor aos demais.  Ao contrário da Síria de Assad onde muçulmanos, cristãos, judeus e crentes de outras religiões são estimulados para uma convivência pacífica entre as suas diferentes mundividências, o que qualquer dos grupos oposicionistas imporia em nada diferiria do praticado pelos talibãs no Afeganistão.
Mas para os mais iludidos com a versão dominante dos acontecimentos na Síria aqui ficam algumas questões para as quais nos escusamos de dar as respostas tão evidentes elas são: tratando-se de uma guerra com partes em conflito, porque é que só se veem imagens de vítimas de um dos lados? Será que não há velhos, mulheres e crianças dos territórios controlados pelo regime legítimo a terem as vidas em perigo por quem contra os bombardeia? E, depois, dos depósitos com armas nucleares e armas químicas, que ninguém encontrou no Iraque de Saddam Hussein, ainda haverá muitos inocentes a continuarem a ser embalados pela mesma burla?
Seria, por outro lado, muito interessante que as mesmas televisões mostrassem como está a ser reconstruída a cidade de Alepo depois de conquistada pelo regime e que, meses atrás,  foi tão falada com os mesmos argumentos falaciosos agora utilizados a respeito de Ghouta Oriental. Daí a questão final: porque será que Alepo era tão mencionada, quando a propaganda pró-Nato a achava ideal para a sua estratégia e agora esquecida, quando tanto de positivo ali se está agora a passar?

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