quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Logros conhecidos, mas ainda bem sucedidos

Tenho aqui afirmado que existe uma contínua repetição das mesmas estratégias por quem manobra os políticos das direitas como suas marionetas acéfalas, controla jornais e televisões fazendo-os porta-vozes das suas fake news ou notícias criteriosamente distorcidas para darem da realidade um retrato bem diferente do verdadeiro e tendo por objetivo primordial o travão de tudo quanto possa significar a reparação das obscenas desigualdades sociais, após as terem agravado indecorosamente durante a vigência do governo da troika.
Há por estes dias um filme que reconhecemos de outros tempos, nomeadamente quando José Sócrates começou a perder o apoio da maioria dos eleitores e se viu enleado no colete de forças em que continua aperreado. Quem olha para a luta corporativa da classe dos enfermeiros, não pode esquecer a dos professores, quando era Maria Lurdes Rodrigues a titular do ministério da Rua 5 de outubro. O que se viu então senão uma aliança tática entre os apoiantes de Crato, que tanto criticava o suposto «eduquês» e tinha como tropa fandanga os «sindicalistas» da UGT, e os da Fenprof, com Mário Nogueira então promovido a voz tonitruante da espicaçada revolta dos professores?
O governo de Sócrates terá ouvido o dobre de finados na célebre manifestação, que encheu a capital com milhares de docentes, que não tardariam a ter a devida paga: nos quatro anos de governo de Passos Coelho, que tanto ajudaram a guindar ao poder, viram rendimentos e direitos perdidos sem mostrarem a mínima coragem, que antes haviam assumido, na contestação ao governo socialista. E, no entanto, ninguém lhes contesta alguma razão nos protestos então assumidos. O problema é que se mal estavam, pior ficaram.
Podia-se pensar que a lição seria aprendida por outras classes profissionais, que revelassem a sagacidade de compreenderem quanto pior podem ficar se contribuem para contestar um governo apostado em recriar condições de maior justiça para a generalidade dos portugueses, incluindo os que só se atêm na sua miopia corporativa. Os enfermeiros estão a demonstrar que, podem ter a inteligência bastante para se licenciarem, mas falta-lhes a necessária para compreenderem o tipo de manipulação de que estão a transformar-se em meros fantoches.
Ninguém contesta que existe alguma razão na frustração com que se vêem remunerados e considerados no mundo do Serviço Nacional de Saúde. No entanto não consta existir qualquer incómodo com o que vivem no dia-a-dia nos hospitais privados onde a situação está longe de ser diferente da vivida nos equipamentos públicos.
Não há também quem se lembre de terem tugido ou mugido um pouco que fosse, quando Paulo Macedo era o ministro da Saúde e mostrava por eles um desprezo, que se traduzia na emigração intensiva de milhares e milhares de enfermeiros para outros países.
Agora avançaram para uma greve impulsionados por uma bastonária reconhecidamente do PSD e tendo o aval dos sindicatos pertencentes à UGT. Pensou-se que o PCP, através do sindicato do setor integrado na CGTP, estaria a demonstrar o tal conhecimento do saber de experiência feito com  as lutas contra o governo de Sócrates, mas foi aí que as esquerdas voltaram a ser iguais a si mesmas: Catarina Martins logo cuidou de apoiar a luta lançada pela bastonária e os sindicatos das direitas como se assim fosse possível dela assenhorear-se ou, pelo menos, tornar-se-sua coautora. E Jerónimo de Sousa sentiu-se no dever de lhe ir no encalço, porque preocupa-o mais a rivalidade com os vizinhos a seu lado na bancada do qua a tão urgente contra aqueles que do outro lado do hemiciclo andam a criar as condições para porem em causa o governo.
Mas a tal estratégia antissocialista, que faz da luta por interesses corporativos a oportunidade para passar a ideia de uma contestação popular contra o governo, repete velhas práticas como a insidiosa campanha contra Fernando Medina em que se aliam novamente as direitas com o PCP através do inevitável José António Cerejo. Uma vez mais a vontade de derrotar um socialista poderá virar-se contra a metade esquerda dos criadores da campanha: é que julgando promoverem a votação de João Ferreira estarão provavelmente a impulsionar a de Assunção Cristas. Será isso o que irá efetivamente ao encontro dos interesses representados por quem apoia o Bloco ou o PCP?

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