sábado, 22 de outubro de 2016

A fatura do Brexit não tardará a chegar

Esta semana a atual primeira-ministra inglesa cumpriu cem dias de governo e terão havido poucos a embandeirarem em arco com o que foi a sua ação decorrente da vitória do Brexit no referendo convocado pelo antecessor.
As mudanças foram significativas, porque Theresa May surgiu como a testa-de-ferro de uma nova estratégia conservadora, que abandona o cosmopolitismo de Cameron, a sua ortodoxia quanto ao equilíbrio das contas públicas e a roda livre aos mercados.
Em vez dessa linha de atuação, que caracterizava a elite aparentemente maioritária no seu partido, May adotou uma cartilha nacionalista muito próxima do UKIP e perigosamente conotável com a xenofobia mais primária. Quando membros do seu governo mandam recensear os estrangeiros empregados nas empresas ou matriculados nas escolas  dão razão aos que já perguntam quando virá a altura de cada não britânico só poder palmilhar as ruas das cidades se tiver uma estrela ao peito ou um número tatuado no braço.
Para já os académicos de várias nacionalidades, que serviam de consultores às instituições dependentes do governo, já foram despedidos sob a alegação de poderem ser “espiões” e há medidas em preparação pra impedirem os estudantes, igualmente de outras origens, de frequentarem as universidades britânicas.
Mas não é só nessa vertente ultranacionalista, que Theresa May se está a destacar, porque já encetou um conflito com o Banco de Inglaterra cuja independência considera excessiva.
Por essas e muitas outras razões aumenta o número dos que o «Economist» designa como «Begrets», ou seja dos arrependidos com a forma como votaram no referendo e abriram tal caixa de Pandora, que assusta particularmente as empresas inglesas em risco de perderem o acesso ao mercado único. Se a  fatura ainda não se mostrou particularmente pesada, anuncia-se como tal a curto prazo tão só se iniciem as formalidades para o previsto divórcio.
Não admira, que continuem a ouvir-se vozes a exigirem um novo referendo. O pior é que, mesmo pondo-se tal possibilidade, os demais países da União Europeia mostram-se pouco recetivos a manterem no seu seio quem andou anos a mostrar-se contrariado com tais companhias. 
(Kelly Berg)

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