domingo, 7 de fevereiro de 2016

Cedeu-se o que se foi obrigado ou o que se quis?

Numa semana em que António Costa averbou sucessivos motivos para estar satisfeito com estes dois meses de governação - um Orçamento aprovado em Bruxelas, a reiterada fiabilidade dos acordos assinados com as demais esquerdas e o acordo na TAP - Bernardo Ferrão conseguiu encontrar razões bastantes para o situar no fundo dos «Baixos » da segunda página do «Expresso» colocando Passos Coelho no top dos tops só por anunciar a candidatura a suceder-se a si mesmo.
Convenhamos que, quanto a objetividade, se poderia disfarçar bem melhor. Mas tudo isso tem a ver com a atitude generalizada dos comentadores dos vários media  a respeito do Orçamento para 2016. Quase todos apostaram na ideia de António Costa e Mário Centeno terem cedido em toda a linha, deixando o seu documento transformar-se numa manta de retalhos, depois de terem repetido até à náusea a questão de apresentarem números irrealistas.
O que tal gente esquece, ou quer esquecer, é uma das regras fundamentais da negociação e que são válidas para todas as situações, desde a nossa em particular, em que não fazemos outra coisa no nosso dia-a-dia desde o despertar até ao deitar, até às empresas onde os preços e os contratos mais não são do que o estabelecimento de pontos de equilíbrio entre aspirações divergentes.
Por isso se justifica perguntar se alguém de bom senso pode acreditar que, bom negociador como sempre se tem revelado, António Costa não partiu para este desafio com Bruxelas com a noção clara de como teria de dar mostras de querer muito mais do que estaria disposto a ter nesta altura, guardando na manga as “cedências” inerentes ao desenvolvimento do processo negocial?
Terá António Costa cedido a Bruxelas ou só o fez naquilo que, previamente, estava disposto a ceder?
Confio o bastante na inteligência do primeiro-ministro para estar certo quanto à validade da segunda hipótese.
Mas, no mesmo «Expresso», João Vieira Pereira e Pedro Santos Guerreiro julgam entalar Mário Centeno com a questão: “Dá a impressão de que este é o Orçamento que o deixaram fazer, que não é o seu Orçamento?”.
A resposta do Ministro das Finanças foi irónica e só me fez rir pelo quanto os entrevistadores se terão sentido gozados:
É sempre assim. Se quiser fazer o seu Orçamento vai para casa e faz o seu Orçamento lá em casa.”
Agora que o documento irá ser aprovado na Assembleia da República e começará a ser executado, de forma porventura bem mais competente do que a acontecida no mandato de Passos Coelho - que nem uma só vez se privou de ter de aprovar Retificativos -  os céticos de hoje irão ser obrigados a engolir as suas palavras presentes, quando o designam de “ornitorrinco” ou de “animal mitológico”. No caso do subscritor desta última designação, Pedro Santos Guerreiro, ele próprio já fecha a sua coluna de opinião com uma hipótese dubitativa: “Vamos para a frente andando para os lados. Não se percebe bem como, mas pronto, também ninguém percebe os animais mitológicos e eles são capazes de voos extraordinários. Assim seja.” 

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