quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Devo retratar-me por causa do meu otimismo?

Quem me conhece sabe bem o quanto me pelo por uma boa discussão política tão-só o confronto de ideias implique o respeito dos intervenientes e em que a racionalidade procure sempre primar sobre as emoções mais básicas.
Pode-se, pois, calcular o gozo intelectual propiciado pelo desafio que o António Coutinho lançou ao questionar-me sobre o post do dia 2 em que eu considerava as eleições ganhas para o PS em função do que demonstravam as sondagens: “Como verdadeiro democrata que és, quando te retratas?”
A questão pode ser vista de acordo com duas perspetivas: será que o PS não ganhou de facto as eleições? E, nesse caso, justifica-se a minha retratação?
Começando por esta última tenho algumas dúvidas quanto à retratação como apanágio da Democracia. Afinal as autocríticas foram, sobretudo, praticadas na China da Revolução Cultural com os resultados que se conhecem!
Em Democracia temos sempre uma leitura bem mais nuanceada do que é a verdade, cuja relatividade admite sempre bastantes tonalidades cinzentas entre o que é totalmente branco ou preto.
É por isso que tenho dificuldades em aceitar que os resultados do PS tenham correspondido a uma derrota como tanto empolaram os seguristas.
Concretamente e em relação a 2011, o PS contou com mais 184 mil votos e, pelo menos, mais 12 deputados. Convenhamos que, apesar de insuficientes para os objetivos propostos por António Costa, corresponderam a uma evolução positiva digna de nota!
E quem sabe se os quatro eleitos pela emigração não virão alterar a ordem sequencial dos maiores grupos parlamentares, já que bastará ao PS ganhar mais dois deputados do que o PSD para ficar demonstrada a sua condição de maior partido político português?
Mas onde a classificação de derrota melhor se refuta é quanto ao papel central, que o PS recuperou na política portuguesa, nada podendo ser aprovado ou rejeitado sem o seu acordo.
Se isso é uma derrota, não me importaria de a ter tido mais vezes no passado, sobretudo quando o país foi sujeito ao diktat cavaquista e nos sentimos de pés e mãos atados apesar da vontade em o contrariar!
Mas não teria antes preferido uma vitória por maioria absoluta, que facilitasse a rápida mudança deste cadaveroso estado de coisas em que passos e portas nos deixaram? Claro que sim!
Há, porém, a considerar o sucesso da narrativa propagandística da direita, que conseguiu convencer demasiados eleitores com as suas mentiras e mistificações. É por isso mesmo que vale a pena armarmo-nos de paciência e assistirmos da bancada às dificuldades que os dois cabecilhas da direita enfrentarão para justificar perante esses ingénuos que afinal o desemprego não desce, nem as exportações sobem ao ritmo a que fizeram crer nas últimas semanas? Ou que o Novo Banco tem afinal custos indecorosos para os contribuintes? Ou, ainda, que o défice abaixo dos 3% é uma miragem, que nem eles próprios eram capazes de acreditar.
É por tudo isso, que não vejo fundamento bastante para me retratar de uma análise que, pelo menos parcialmente, é pertinente: a lógica do quero, posso e mando esboroou-se no passado domingo. E a direita terá de dar tratos à imaginação para aprender algo, que sempre evitara: a arte de negociar sem ter na mão todos os trunfos...

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