domingo, 8 de fevereiro de 2015

Sensatez, ora aí está!

Muito interessante a entrevista no «Público» de hoje com o economista Stuart Holland, que á autor com Yanis Varoufakis e John K. Galbraith de uma (nada) «Modesta Proposta para solucionar a crise na zona euro», inserida no livro «Europe in Question: and what to do about it», acabado de publicar.
Já na parte final da conversa com Paulo Pena ele é lapidar na explicação do porquê da inflexibilidade da liderança alemã relativamente às propostas inovadoras de superação da crise a ela levadas pelo ministro grego das Finanças: Schäuble [ministro das Finanças alemão] é um advogado, Angela Merkel [chanceler alemã] é formada em Física. Eles não são capazes de perceber o que a Europa pode fazer com as instituições que tem, e estão presos à ideia de que se equilibram orçamentos reduzindo défice e a dívida. E isto tem muito a ver com a história e a cultura alemãs. Por exemplo, a maioria dos alemães está convencida que foi a inflação que levou Hitler ao poder. Mas não foi. Foi a deflação, a austeridade, os cortes, a partir de 1929, quando o partido nazi tinha menos de 3%. Depois da austeridade esse número foi multiplicado por 10, em 1933.”
Dando razão aos que, contestando a austeridade, não limitam a solução das crises grega ou portuguesa a uma renegociação da dívida, Holland, Galbraith e Varoufakis defendem a possibilidade de existirem soluções dentro dos atuais Tratados e instituições e sem recorrer à ajuda dos países mais fortes. Bastará que o Banco Europeu de Investimentos (BEI) emita obrigações para financiar investimentos sociais e ambientais. Algo que Roosevelt já fez nos anos trinta com o bem sucedido New Deal.
Concretizando esse projeto, Holland explica: “Os empréstimos do BEI não são contabilizados como dívida pública. Nem o seriam as obrigações emitidas pelo Fundo Europeu de Investimentos.
Seria necessário que ambas as instituições funcionassem, neste plano, porque as regras do BEI apenas lhe permitem financiar metade dos projetos, sendo a outra metade da responsabilidade dos Estados-membros. E os Estados sentem dificuldades para cofinanciar projetos com o BEI desde que surgiu a crise na zona euro.”
Sobre Varoufakis, Holland não poupa nas palavras (“Ele é muito, muito excecional”) e por isso não tem qualquer dúvida em defender o plano de reestruturação da dívida grega: “Atrasar indefinidamente o pagamento de um título é absolutamente normal. O Banco de Inglaterra ainda estava, muito recentemente, a “rolar” o pagamento de títulos de dívida que emitiu para financiar as guerras napoleónicas! Em 1751 toda a dívida inglesa foi convertida em dívida perpétua. O que é muito simples: os títulos de dívida não têm de ser pagos à cabeça. Numa recessão como estas, o valor das ações é tão baixo, e o risco das economias colapsarem é tão alto, que os investidores não querem tirar o dinheiro investido em dívida. Basta-lhes o que recebem de rendimentos das obrigações. O segundo aspeto que me parece excelente, e é baseado na nossa Modesta Proposta, é provocar a recuperação da economia sem que se aumente a dívida pública. Precisamente, através do BEI e do FEI, com títulos emitidos para a recuperação da economia europeia.”
O que as ideias de Holland, de Galbraith e de Varoufakis representam pouco tem de ideológico, pelo menos no sentido da radicalidade de esquerda com que muitos comentadores teimam em posicionar o governo grego. Representam apenas uma dose urgente de sensatez numa Europa ainda refém de extremistas neoliberais...

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