quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Para que lado cai a bola?

1. Afinal a expetativa de ver a Europa a agir racionalmente e aceitar, mesmo que de má vontade, a demonstração lúcida de Varoufakis quanto ao imperativo de se optar por outro caminho, parece frustrar-se. O fanatismo ideológico de schäuble e de quem o apoia parece em vias de se sobrepor à sensatez dos que adivinham as consequências da repetição acrítica do pecado original da criação do euro.
Demonstra-o a comparação entre o documento preparado pelo comissário Moscovici para chegar a um acordo na reunião do Eurogrupo e o que foi colocado face a Varoufakis para por ele ser assinado.
Bastou o servil Jeroen Dijsselbloem curvar-se perante a cadeira de rodas do ministro das finanças alemão para que o ultimato à Grécia fosse formalizado.  Aquilo que Hitler não conseguiu concretizar por via militar está agora a ser intentado por quem em tão má hora lhe sucedeu setenta anos depois. Porque o que Berlim está a querer impor é uma Europa sem democracia. Uma Europa em que a vontade dos povos de nada conte, porque prevalecerá sempre o diktat dos que se julgam seus donos.
É por isso que as próximas horas poderão ser determinantes e lembrarão a Europa de 1939: de um lado a arrogância alemã, acolitada pela cobardia de um punhado infame de colaboracionistas (entre os quais passos coelho), e do outro um povo votado à quase eliminação por via da miséria a que o querem subjugar.
Quem olhava para o mundo quando Churchill anteviu um combate feito de blood, toil, tears and sweat quase apostaria na forte probabilidade de se estar a construir um império para durar mil anos. E, no entanto, seis anos depois, os schäubles de então, ou já tinham ingerido a cápsula de cianeto, ou preparavam-se para serem pendurados das forcas de Nuremberga.
Quem nos poderá desmentir do convencimento em como, daqui a não muito tempo, vejamos um novo Tribunal Internacional a julgar e condenar os que, cientes de estarem a empurrar a Europa para o abismo, ainda quiseram precipita-la com maior denodo?
2. Para qualquer socialista é muito incómodo o papel lamentável a que se têm prestado os que se reivindicam da mesma bandeira e governam alguns dos países da União Europeia. A começar pelo inefável presidente do Eurogrupo, os socialistas europeus ou se reinventam ou estarão condenados a pasokizarem-se em favor dos syrizas, que lhes irão disputar a massa social de apoio.
Este momento presente lembrará aos socialistas europeus a célebre cena de «Match Point» em que a bola fica momentaneamente no topo da rede: se mantiverem a colaboração ativa ou passiva com a fracassada política pró-austeritária estarão condenados à irrelevância do antigo partido de Papandreou (que já nem nele se sente representado!). Se se virarem decididamente para o lado da contestação aberta a tal ideologia poderão rejuvenescer e, com a colaboração da nova geração, pronta a syrizar-se, recuperar a identidade perdida dos valores socialistas por demasiado tempo metidos na gaveta.
3. A Europa vai acordando para mais uma demonstração dos disparates cometidos pelos seus dirigentes. Há quatro anos, sarkozy considerou vantajosa a queda do ditador líbio kadhafi não fosse ele desmascara-lo enquanto financiador importante da sua pretérita carreira política. O resultado está à vista: o terrorismo islâmico está a poucos quilómetros de distância da fronteira sul do continente. Querendo esmagar um lobo mais ou menos domesticado, sarkozy e os seus cúmplices de então trataram de atrair uma raivosa alcateia. Que muito dificilmente será destruída...

Sem comentários:

Enviar um comentário