sábado, 17 de maio de 2014

POLÍTICA: Sempre o efeito nocivo do fanatismo religioso!

Que a vida das mulheres nas sociedades muçulmanas constitui a mais explicita demonstração do que significam violações aos direitos humanos definidos a partir da Revolução Francesa, não é nada que desconheçamos. Faz parte do manancial das nossas indignações o sabermos tantos milhões de pessoas reduzidas a mercadorias sem quaisquer direitos e só com uma catadupa de deveres.
Sobre elas exerce-se o mesmo tipo da violência dos racistas sobre quem não se ajusta aos seus padrões de normalidade ou os dos patrões sobre os proletários. Ora suave sob as vestes do paternalismo arrogante de quem as vê de cima, ora violento de quem lhes teme os atos e os pensamentos.
Mas as últimas semanas têm sido sacudidas por dramas, que apenas nos vêm lembrar as tragédias quotidianas de quem é delas vítimas silenciosas, sem qualquer direito à expressão do seu sofrimento.
Temos, há mais de um mês, as adolescentes nigerianas aprisionadas por fanáticos islâmicos, que lhes verberam a ambição de aprenderem , razão para as terem ido raptar às suas escolas.
Na semana passada uma mulher sudanesa foi condenada a ser vergastada e depois executada por ter casado com um católico e se ter convertido à religião do marido abjurando a fé islâmica em que supostamente tinha sido educada.
No Afeganistão a breve primavera cultural trazida pela derrota dos talibãs, está prestes a dar lugar a mais um terrível inverno com as mulheres na linha da frente do regime complacente com os adversários de ontem, de quem anda a imitar as práticas legislativas.
Existem pois razões de sobra para associar o islamismo radical a uma forma troglodita de fascismo, que deveria ser combatida com a mesma determinação com que outrora se combateram outros alucinados como hitler ou mussolini. Mas constata-se exatamente o contrário: não satisfeitos em terem criado a Al Qaeda, os norte-americanos continuam a ter gente execrável como aliados de estimação neste tipo de violação dos direitos humanos como é o caso do regime saudita.
Não deixa de ser mais do que uma coincidência a mudança já concretizada ou ainda em curso, nos regimes políticos do Magreb ou do Médio Oriente - Iraque, Tunísia, Líbia, Síria - onde as mulheres tinham formalmente alguns dos principais direitos das ocidentais. Sempre com o apoio explicito da Casa Branca e implícito da CIA, que não terá deixado de suscitar as ações convenientes no terreno para diabolizar os ditadores de ontem e santificar os que, afinal, nunca se conseguiram impor, porque encarnavam projetos desagarrados completamente dos povos, que previam vir a governar.
Os resultados têm sido terríveis em mortes por atentados no Iraque, nas lutas tribais da Líbia ou na guerra civil da Síria. Com consequências terríveis para as mulheres desses países cada vez mais remetidas às suas casas, sem o direito ao trabalho ou a circularem livremente no espaço público.
Só a Tunísia parece ter recuperado o primado dos valores laicos de que nunca se deveria ter dissociado.
E a solução é obviamente essa: separar a política da religião, com aquela a limitar os efeitos mais gravosos desta última. Porque, no caso da opressão sobre as mulheres, o problema não se cinge ao islamismo: qualquer das três grandes religiões monoteístas sempre quis secundarizar a mulher face ao homem e tudo fez para lhe limitar a liberdade sexual. E se no judaísmo a mulher é reduzida à condição de escrava reprodutora, o cristianismo não hesitou em inventar uma conceção sem sexo para explicar a corporalidade física do seu deus…
Verdadeiro ópio do povo, as religiões explicam muito do desvio da Humanidade do seu encontro com a sua plena realização enquanto espécie criativa…


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