domingo, 25 de fevereiro de 2018

Porque defendo o pleno direito à eutanásia


Embora esteja quase sempre em discordância com Clara Ferreira Alves, que costuma irritar-me com os seus trejeitos de pespeneta, tenho de concordar com grande parte do diagnóstico por ela feito a respeito da incapacidade de dotar o Sistema Nacional de Saúde dos meios necessários para corresponder ao envelhecimento acelerado da população. Ela escreve, e dou-lhe razão, que “ ninguém sabe o que fazer com os velhos com a longa esperança de vida. Uns têm doenças terminais, outros doenças de circunstância, quase todos têm uma forma ou outra de demência”. Por isso o Sistema - título da sua crónica no «Expresso» - não aguenta o enorme esforço para que é solicitado. Daí a importância de tanta gente que, mal paga - mormente os auxiliares de enfermagem! - têm nalguma humanização dessa sórdida realidade.
Não compreendo, pois, que haja oposição a uma lei que garanta uma morte sem dor a quem o requeira. Pessoalmente quero ter o DIREITO de, antes de constituir incómodo psicológico para a minha esposa, filha e netas, e de constituir encargo gravoso para o orçamento público sem esperança de qualquer irreversibilidade na minha condição mental ou estritamente física, solicitar de motu próprio, essa opção.
Não sei quando ela se revelará inevitável - espero que só daqui a muitos anos! - mas quero viver numa sociedade que respeite o meu direito a dizer BASTA!
É claro que posso sempre recorrer a uma das múltiplas formas de suicídio, de cujas notícias os jornais têm o princípio ético de não divulgar, mas se a medicina dá condições para que essa passagem para o Nada possa ser feito sem sofrimento, porque deverá o preconceito fascista de quem se arroga de decidir sobre a vontade alheia colocar-me entrave à derradeira vontade?

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