segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Quando uma farsa se procura repetir, no que resultará?

Uma das razões, porque as direitas exploram  demagogicamente a questão da  remuneração dos políticos é porque, não impedindo que os mais talentosos à esquerda porfiem na realização das suas utopias, já que enriquecerem não constitui propriamente a sua prioridade, os do seu campo ideológico se esquivem para a banca e para a advocacia dos negócios dando o palco aos medíocres que, embeiçados pela satisfação narcísica de chegarem onde as aptidões nunca dos deixariam alçar, melhor sirvam de marionetas de quem realmente os comanda.
O deslumbramento do dono do Pingo Doce, sucessivamente por Cavaco, Durão ou Passos Coelho, tem exclusivamente por motivação o facto de todos eles se terem prestado a facilitarem-lhe a matriz do negocio: a evasão dos capitais para outras paragens e a exploração de quem para ele trabalha e recebe o salário mínimo sem quaisquer outros direitos dignos de nota.
Para impedirem os competentes das esquerdas em chegarem à governação basta-lhes dominar a comunicação social na forma como o fazem atualmente em Portugal onde toda a imprensa escrita e audiovisual alinha pela batuta de quem pretende ver descarrilada a maioria parlamentar. Depois podem sempre contar com um complexado estilo Cavaco, um arrivista sem pontinha de escrúpulo ao jeito de Durão Barroso, um cábula obsequioso com os ricos e arrogante com os pobres como Passos Coelho ou um desnorteado Santana, sempre capaz de defender tudo e o seu contrário, tão só julgue eficiente o ajustamento do seu arrazoado com o que julga pensar o eleitorado. Tão limitados modelos servem-lhes na perfeição para o desígnio de prosseguirem a estratégia do Príncipe Salinas, criado por Lampedusa: fingindo mudar alguma coisa, cuidam de que tudo fique na mesma!
Se a sua passagem pela Faculdade de Direito o tivesse dotado de conhecimentos mínimos do marxismo - mas a História reteve a sua preocupação de  arregimentar  alguns tontos ao seu posicionamento de extrema-direita! - Santana ficaria avisado da tendência histórica para se cumprir uma regra nas remakes do mesmo cenário: se se revela trágico na primeira ocasião em que se testa, logo se transforma em farsa quando intenta repetir-se. O problema que Marx não previu, mas Santana Lopes se apresta a servir-lhe de cobaia, é o que acontece quando, logo á primeira tentativa se revela uma farsa em vez de tragédia, porque, de facto, ao pensarmos naqueles meses de caos desgovernado em 2004,  muito do que, então, se passou lembra uma bufonaria desconcertante.
Um eventual, mesmo que improvável, regresso de Santana Lopes a São Bento no que resultaria? Para além da distribuição da sua ampla corte de amigos e conhecidos por tudo quanto representasse cargos públicos  apetitosos - prática evidenciada com quantos colocou na Santa Casa no período em que foi seu provedor! - poderia Santana exceder-se no desvario que dele não esquecemos?
Rui Rio - mesmo assustando quanto à sua teimosa visão austericida, que faria de Maria Luís uma benigna amostra da vacina que se propõe a aplicar à grande maioria dos portugueses! - tem razão nesse aspeto: torne-se Santana no challenger de António Costa e cá estaremos diariamente disponíveis para lembrar tudo quanto ele já provou ser. Politicamente um zero à direita em capacidade de superar o vazio ideológico da sua área política, incapaz de encontrar cura possível para a recauchutagem do sistema  manifestamente esgotado. Porque querer a redução da despesa do Estado já demonstrou o quão trágico isso pode significar na impossibilidade de o ver responder aos direitos fundamentais dos cidadãos, quer na saúde, quer na educação. Porque propor a contratualização de mais negociatas com o terceiro setor e com quem se possa substituir às funções do Estado (colégios privados, hospitais e clínicas privadas, etc.) só pode significar a transferência indecorosa do dinheiro dos contribuintes para os bolsos sem fundo dos suspeitos do costume.
No fundo Santana revela-se por aquilo que quis fazer na Santa Casa e de que agora se procura eximir: vendo-se com tanto dinheiro, que acharia um escândalo se aplicado aos pobres a quem deveria apoiar, ambicionou a participação na banca, sendo sua a autoria da ideia para que tal estratégia fosse seguida. Pode-se levar a mal que, perante tão óbvia predisposição para diversificar o negócio da instituição, o governo tenha nela visto alternativa para dar uma mãozinha ao Montepio?

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