quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Um ano excecional apesar das forças da natureza

A melhor demonstração do esgotamento do tema «Raríssimos» como arma de arremesso contra o governo foi a preocupação das direitas em virarem agulhas para o capítulo Montepio como se nele encontrassem a substância que se lhes esvaiu do anterior. No debate quinzenal de ontem ainda procuraram recauchutar os argumentos, que pudessem pôr em causa o ministro Vieira da Silva, mas com a convicção (ou a falta dela!) de quem sabe estar apenas a fazer um numero de retórica para os seus indefetíveis  - mesmo que dia-a-dia mais reduzidos - apoiantes.
Quer na Comissão que ouviu o ministro, e sobretudo a sua contundente Secretária de Estado Cláudia Joaquim, quer no plenário, onde António Costa espezinhou Hugo Soares e Assunção Cristas, as direitas ficaram condenadas a acabarem o ano a lamberem as feridas. Então aquele momento em que o primeiro-ministro confrontou a líder do CDS/PP com a irrelevância dos seus 2% nas últimas autárquicas quase daria ensejo para ter pena da criatura se ela não houvesse exagerado tantas vezes na má-criação e na mais descarada jactância nas últimas semanas.
A cena em que Cristas surgiu a reivindicar para o governo a que pertencera a grande parcela de sucesso por Portugal ter saído do lixo na notação de duas agências de rating ultrapassara todos os limites do absurdo. Sobretudo, porque, e tal qual Pedro Silva Pereira o lembrou no «Jornal de Notícias» a primeira agência a atribuir a Portugal a notação de "lixo" foi a Moody"s, mas só o fez a 5 de julho, levando o então primeiro-ministro Passos Coelho a queixar-se do célebre "murro no estômago". A Fitch foi a segunda, mas só tomou essa decisão bastante mais tarde, em 24 de novembro. Já a S&P, que foi a terceira, apenas baixou a notação de Portugal para "lixo" no ano seguinte, em 13 de janeiro de 2012ou seja, muito depois de José Sócrates ter deixado de ser primeiro-ministro. 
Se quisermos devolver o troco à argumentação das direitas - que nunca referem a crise internacional subsequente à falência da Lehman Brothers como causa primeira da que afetou Portugal em 2011 - podemos sempre considerar que foram elas a levarem a dívida soberana nacional para a classificação de «lixo» e terá sido o governo de António Costa a encontrar soluções eficientes para debelar tal constrangimento. Tal qual acaba este ano excecional com a conclusão da recapitalização da Caixa Geral de Depósitos, com o crescimento maior do século (2,6%), com a subida do emprego em 3,1%, com a descida do desemprego para 8,5%, com o aumento do investimento em 8,7% e das exportações em 7,7%. Mas há bastante mais a considerar como balanço do ano: o défice mais baixo em democracia (1,4%), os excedentes na balança comercial e de capital, bem como na de bens e serviços, e a eleição de Mário Centeno para presidir ao Eurogrupo.
É certo que ocorreram as tragédias inesquecíveis em Pedrógão e no dia 15 de outubro, mas só a má-fé dos detratores pode insistir na tecla da responsabilidade do governo: a excecionalidade das circunstâncias, que as causaram foi tal, que dificilmente algum poder teria hipóteses de contrariar o que foi a fúria descontrolada dos incêndios e dos ventos. E já o poema de Gedeão nos lembrava que as forças da natureza, nunca ninguém as venceu...

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