sábado, 9 de dezembro de 2017

Dois aspetos de uma entrevista em que Catarina Martins tem razão

Catarina Martins deu uma longa entrevista ao «Expresso» onde repete os argumentos já muito seu conhecidos, quase nenhuns sem novidades dignas de nota. Para o que verdadeiramente nos importa - garantir a continuidade da atual maioria parlamentar -  nada no seu conteúdo nos pode levar a crer na possibilidade de a pôr em causa, por muito que seja esse o desejo manifesto do deputado europeu Francisco Assis, sempre apostado em ver um termo ao que lhe tem contrariado todos os seus estafados preconceitos ideológicos. Pode desgostá-lo a ele, ao presidente da República, aos desconcertados patrões da Concertação Social e respetivas marionetas  nos partidos das direitas e na quase totalidade dos órgãos de comunicação social, mas não é crível que nada ponha em causa os acordos dos  socialistas com bloquistas e comunistas até ao próximo ato eleitoral de 2019.
A entrevista contém, porém, dois assuntos controversos em que será difícil retirar razão à líder do Bloco: a legislação laboral e a designação de Maria de Belém para a coordenação da revisão da Lei de Bases da Saúde.
A Lei Geral do Trabalho chegou a ser das mais evoluídas a nível europeu quanto ao reconhecimento dos direitos nela previstos para quem está empregado por conta de outrem, mas sucessivos governos do defunto arco da governação e a traição ativa da UGT transformaram-na numa caricatura em que se atribui aos patrões o posso, quero e mando, suscetível de todas as arbitrariedades.  Se de facto, os socialistas têm uma responsabilidade significativa nesse recuo civilizacional  os quatro anos de desgovernação entre 2011 e 2015 acentuaram em muito essa involução.
Torna-se, pois, imperiosa a reversão de muitas das alterações então impostas, se pretendermos ter relações mais equilibradas entre quem manda e quem obedece, mormente limitando a precariedade e a obstrução da ação sindical dentro das empresas. Agora que as esquerdas têm uma maioria clara no Parlamento é altura de a impor em tão importante revisão da legislação por muito que se adivinhe o papel dissuasor de um Marcelo apostado em fazer de Belém o centro nevrálgico da defesa dos interesses dos que com ele se identificam ideologicamente.
As reservas emitidas por Catarina Martins a respeito da escolha de Maria de Belém para coordenar a revisão da Lei de Bases da saúde também faz todo o sentido: como se pode pôr uma raposa a tomar conta do galinheiro? É que a referida senhora está umbilicalmente ligada aos interesses financeiros ligados ao negócio privado do setor e tudo fará para que ele não seja posto em causa pela consolidação do Serviço Nacional de Saúde. A exemplo do que sucedeu com a forma como tratou do dossier Infarmed, também nesta matéria o ministro Adalberto Campos Fernandes está a agir apenas com os pés. Ademais, como provecto militante socialista repugna-me ver premiada uma das maiores responsáveis pela forma bem mais facilitada como Marcelo se viu eleito para Belém.
A História nunca poderá demonstrar o que sucederia se, como tudo o indicava, seria o Prof. Sampaio da Nóvoa o candidato oficial do Partido Socialista, mas a provável segunda volta e um novo debate em que Marcelo voltaria a ser desmascarado na sua efetiva personalidade - como sucedeu no debate da primeira volta -  ter-nos-ia dado uma outra realidade, que não esta, marcada pelas ameaças subtis de quem se guindou ao cargo para sabotar a ação governativa da atual maioria...


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