terça-feira, 19 de setembro de 2017

Sejamos maledicentes com justa causa!

Eu sei que, nos tempos em que era um jovem crítico dos «Cahiers du Cinema», o muito por mim admirado, François Truffaut costumava escusar-se a fazer críticas negativas aos filmes por si vistos, porque só valia perder tempo com quantos realmente gostava. Daí que, por natureza, me escuse a grandes exercícios de maldizer, quando não estão em causa apenas razões políticas para o fazer.
Apetece-me, porém, recorrer à maledicência mais pessoal do que política, porque os quatro visados das estórias, que se seguem, além de a justificarem pela segunda motivação, também revelam feitios condizentes com as torpes ideias de que se fazem arautos.
A primeira vem contada em letras pequeninas no «Expresso» de sábado: na semana anterior, aquando da entrega dos Prémios Champalimaud, Marcelo Rebelo de Sousa decidiu estar presente para condecorar Leonor Beleza. Nada mais natural, que um dos mais mediáticos curadores da Fundação e conhecido amigo da homenageada - Cavaco Silva - estivesse presente. Só que ninguém ali o viu. Razão para uns quantos se terem questionado dos motivos de força maior, que a tal teriam conduzido. Mas a resposta veio dos mais argutos: depois de ter dado uma canelada ao sucessor nas jornadas de Castelo de Vide, ele temeria ver-se desfeiteado em público quando chegasse a hora do discurso principal da noite. Cobarde como sempre foi, Cavaco preferiu esconder-se na toca e poupar-se ao enxovalho!
A segunda tem a ver com Teresa Leal Coelho, mas também se ajusta bem a Assunção Cristas: nada tendo a ver com os bairros mais pobres da capital, onde se sentem completamente fora do ambiente de conforto, lá se aventuram, porque um candidato não se pode eximir à provação de os percorrer.
Se Cavaco pecava por cobardia, as senhoras candidatas das direitas revelam indesculpável atrevimento, porque nunca terão manifestado a mínima preocupação com os «privilegiados» de tão súbita devoção, sempre tendo atuado no governo ou na Assembleia da República para lhes tornar mais difícil a já amarga sobrevivência.
Resultado: depararam com quem não é parvo e sabe bem ao que vêm. Daí saírem à pressa de tais bairros rapidamente, seja porque ninguém lhes ligou, seja porque se viram insultadas e ameaçadas.  Até ao fim da campanha não será crível que se arrisquem por tão adversas paisagens urbanas.
A terceira figura pública objeto do nosso escárnio é o por certo mau dançarino Marques Mendes. Recebida a encomenda de tirar o tapete a Passos Coelho tão cedo quanto possível, sob pena de se criar a hipótese de ter as direitas e Marcelo a suportarem derrotas humilhantes impostas pelas esquerdas, já vai avançando com previsões de menos de 20% nas autárquicas para o seu partido. Contará que, tratando-se de atos eleitorais habitualmente marcados por taxas de abstenção muito elevadas, os habituais votantes do PSD se afundem no seu derrotismo e fiquem em casa.
Quão bom seria para Marcelo e os patrões, que emergisse um novo líder relativamente liberto da tralha acumulada no partido pela corte de Passos Coelho e desse a ilusão aos eleitores de 2019, que nada teria a ver com tudo quanto se passara entre 2011 e 2015.
Marques Mendes funciona, pois, com o seu habitual estilo do intriguista: tomando-se por um Maquiavel da Trofa, mais não é do que um tosco Zandinga quase sempre falho no que pré-anuncia. 

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