segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Questões de carácter (ou de falta dele!)

Quando era miúdo sempre detestei aquele tipo de colegas, que faziam algo de errado e depois fingiam nada ter acontecido por sua causa, ou procuravam atirar as culpas para outrem. Nas seis décadas de vida, que já cá cantam, defendi resolutamente a importância da responsabilidade. Por isso nunca enjeitei as minhas em todas as situações em que, no contexto escolar, profissional ou familiar, agi de forma contrária ao que deveria ter concretizado. Ou assumi as que, praticadas por colaboradores de mim dependentes na escala hierárquica, me impunham a assumpção de não lhes ter evitado os danos fosse por falta de formação, fosse por inibição da exigência das melhores práticas.
É essa uma das razões, porque detesto a falta de carácter de Passos Coelho. Ontem, em Matosinhos, António Costa congratulou-se com o regresso de números muito animadores de jovens a matricularem-se no ensino universitário. Daí que tenha dito com toda a naturalidade que os portugueses “deixaram de dar ouvidos àqueles que diziam que tínhamos licenciados a mais e que não era importante continuar a estudar”. E concluiu: “Esta é a primeira grande vitória desta mudança política que está a ter uma tradução concreta nas vidas das famílias e na construção do futuro coletivo”,
Horas depois já Passos Coelho fingia que nenhuma responsabilidade lhe deveria ser assacada com a alusão do primeiro-ministro, naquele seu jeito hipócrita de quem sabe muito bem o que defendeu, mas agora enjeita alguma vez qual havia sido a sua prática e fé. Ele é o paradigma do potencial carteirista, que se põe a correr rua fora a gritar “agarra que é ladrão”, para que os outros se distraiam das suas efetivas culpas.
Este exame do seu (mau) carácter também foi feito por Catarina Martins, quando lhe colou a mácula de cinismo, mas sem deixar de fora veredito semelhante para com Assunção Cristas, que tanto irrita com a pose branca de virginal vestal, como se impoluta de pecados, quando a sabemos deles mais do que useira e vezeira Por isso verberou  “o cinismo de Pedro Passos Coelho, quando espera que tudo corra mal ao país, porque não tem nenhuma ideia para o futuro, ou a hipocrisia de Assunção Cristas, quando diz que quer baixar todos os impostos, que quando esteve no Governo só soube subir, são desmascarados facilmente por uma pessoa com dois dedos de testa.”
Um dos mais eloquentes títulos da grande literatura europeia do século XX foi escrito por Robert Musil e versava «O Homem Sem Qualidades». No nosso cantinho ocidental do Velho Continente deparamos com homens e mulheres conotadas com as direitas ideológicas e em que não se detetam pingos de virtude.



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