terça-feira, 20 de junho de 2017

A ética audiovisual e a manifesta falta dela

Contra a obscena utilização da tragédia de Pedrógão Grande pelas várias televisões, António Guerreiro escreveu um texto antológico no «Público» de hoje. Nele está a denúncia dos meios tecnológicos mais avançados, mormente os drones, para criar réplicas de filmes hollywoodianos utilizando as circunstâncias trágicas e respetivos cenários, para lhes dar substância.
O pequeno filme da SIC a sobrevoar a estrada onde tantos morreram e ao som de um tema wagneriano é comparado a uma das cenas mais conhecidas de «Apocalipse Now». E, no entanto, mais do que essa estética do horror, o que ali se revela é um despudor manifesto para com quantos ali haviam morrido.
A questão de Guerreiro é quase retórica: será que os jornalistas não têm pruridos deontológicos em relação ao que fazem ou lhes mandam fazer? As audiências valerão tudo? A necessidade de produzir horas e mais horas a repetir sempre o mesmo justifica o recurso ao discurso mais primário?
A alternativa seria a de se abreviar a informação, livrando-a da tralha, que só lhe acrescenta ruído. Mas o problema é este: como satisfazer o lado perversamente voyeurista dos que, de fora, se comprazem com o tipo de espetáculo, que lhes é tão lautamente servido pelos diversos canais?

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