sexta-feira, 7 de abril de 2017

Entrando na cabeça de Passos Coelho

Foi o veredito de quase todos os comentadores e amigos a quem ouvi: a entrevista da SIC a Passos Coelho foi confrangedora pela total falta de novidades, que comportou. Se alguém quis acentuar algum aspeto menos desinteressante lá conseguiu deslindar a crítica a Marcelo, por não ter defendido Teodora Cardoso, ou o não pretender demitir-se mesmo derrotado nas autárquicas. E é aqui que vale a pena determo-nos: porque será que o ainda líder da oposição está tão agarrado ao lugar? Que semelhança existe entre ele e o ainda presidente do Eurogrupo, o holandês Dijsselbloem ?
A razão é só uma: longe vai o tempo em que um político apeado do seu cargo encontrava facilmente colocação num banco ou num qualquer outro grupo privado. Usufruía aí o elevado salário, que a passagem pela política apenas se limitara a alavancar.
As coisas começaram a mudar depois da crise financeira de 2008: não só as oportunidades passaram a escassear como os contratadores tornaram-se mais criteriosos sobre quem contratam. Compreende-se, por isso, que Paulo Portas tenha tido uma enorme facilidade em conseguir colocações depois de sair do governo, porque desde a sua revogada irrevogabilidade, o único intuito foi o de viajar muito, conhecer muitas pessoas em nome do que apodou de «diplomacia económica», imitando assim Miguel Relvas na constituição de uma boa agenda de contactos e números de telefone. Algo que os patrões ingleses de Maria Luís Albuquerque também contavam ter e, a esta hora, devem-se considerar mais do que ludibriados.
Conhecendo Passos Coelho, no seu estilo fechado sobre si mesmo, não se lhe adivinha a capacidade de ter feito grandes amigos ao longo da vida. Os que tinha (Ângelo Correia, o citado Relvas) já deram às de vila-diogo. Quem agora o poderia contratar e para fazer o quê? Sobretudo tendo em conta que, academicamente, foi aluno tosco e, enquanto gestor de pequenas empresas, não revelou competências relevantes?
Não conhecendo tão bem o ministro holandês pode-se imaginá-lo com características semelhantes. E com as mesmas dificuldades em encontrar emprego compatível com as suas (escassas) competências e capacidades tão-só saia do governo.
Tentando imaginar o que vai na cabeça de Passos Coelho talvez não arrisquemos muito conjeturar que pensará mais ou menos isto: “estou com 52 anos, ainda me faltam treze ou catorze para a reforma e não sei como ter algum emprego até lá. Se nas eleições de 2019  ainda for líder do PSD tenho garantidos mais quatro anos como deputado, mesmo que na última fila da bancada.”
Nesta altura não lhe importará muito que a derrota do PSD nas próximas legislativas seja maior ou menor, conquanto ele e o seu grupo cada vez mais estreito de fiéis estiquem o mais possível os seus dramas profissionais. Conseguirem-no até 2024 já lhes dá um intervalo de tempo para sacudirem a prometida asfixia e prepararem soluções, que agora não vislumbram.
Convenhamos que as esquerdas só agradecem esta incapacidades das direitas em produzirem líderes mais credíveis e, sobretudo, com ideias, que estes manifestamente não têm.

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