quinta-feira, 9 de março de 2017

Navios arrombados e caridades pouco virtuosas

1. Sobre a inacreditável conduta da bancada pêpédê na sessão parlamentar de ontem não vale a pena acrescentar o que quer que seja, pois arriscar-me-ia a precipitar chuva no molhado. Mas o dia político de ontem foi, sobretudo, marcado pela audição de Nogueira Leite sobre a experiencia de administrador da Caixa Geral de Depósitos. O que ele disse não terá sido propriamente uma novidade, mas confirmou, na forma de um testemunho na primeira pessoa, a estratégia de Passos Coelho para o banco público enquanto foi (des)governo: trata-lo como um navio com ameaçador rombo no casco donde só importava bombear a água até ao momento favorável de lhe precipitar o desejado encalhe junto a terra.
Depois, de acordo com a sua confessada intenção, tratar-se-ia de fazer da CGD um arruinado salvado onde interesses privados pudessem vir a recolher os lucrativos despojos….
2. A investigação de José António Cerejo sobre a gestão financeira da Caritas de Lisboa é eloquente sobre o funcionamento de muitas instituições de «solidariedade social» geridas sob os auspícios da Igreja Católica ou de caridosas e inomináveis criaturas.
A exemplo de muitas ONG’s, que se multiplicam em países em dificuldades para recolherem fundos e apoios, que acabam por beneficiar sobretudo os seus promotores, o que aconteceu com a instituição diocesana revela o tipo de prioridades assumido pelos supostos «benfeitores».
É por essas e outras histórias que, há muito, mantenho a tese de caber ao Estado, através dos seus serviços da Segurança Social, o exclusivo rastreio das necessidades de quem mais carece de apoio e a respetiva solução. Misericórdias, Caritas e outras organizações afins garantem salários e regalias a quem as dirige e a quem, muitas vezes por mor de cunhas, ali encontra emprego.
Decerto que a nacionalização da grande maioria dessas instituições privadas de «solidariedade social» resultaria numa maior racionalização dos recursos do Estado. O problema está na impossibilidade de, por agora - até por sabermos quem mora no palácio de Belém! -, não ser possível arranjar uma guerra com a Igreja, que delas retira escandaloso benefício. Mas que seria algo de bastante desejável não duvido!

Sem comentários:

Enviar um comentário