quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

O regresso das perguntas de um operário letrado

Volto com alguma frequência à personagem imaginada por Brecht sobre um operário letrado apostado em fazer umas quantas perguntas, que o levassem a compreender melhor o mundo.
Aqui vão as que ele hoje faria perante a insistência na novela Centeno:
1, António Domingues não era o tal fulano, que recusava divulgar os seus rendimentos e patrimoniais e está agora a mostrar os seus emails pessoais para que todos os possam conhecer?
2. Esse Lobo Xavier a quem Domingues andou a mostrar os sms, e logo os levou a Marcelo, não foi agora nomeado vice-presidente do BPI e como tal é parte interessada no enfraquecimento da CGD?
3. Esse Marcelo, que anda a vangloriar-se de decidir quanto à continuidade ou não de um ministro, desconhece só o poder exigir mediante a dissolução da Assembleia da República e a convocação de novas eleições? Não está previsto na Constituição, que só o parlamento tem poderes de viabilizar ou derrubar governos? Não é verdade que nem mesmo o Parlamento pode demitir o ministro A ou o secretário de Estado B?
4. Será que Marques Mendes e Lobo Xavier, enquanto conselheiros de Estado nomeados por Marcelo, andam a cumprir uma estratégia deste último para pôr fim à atual maioria parlamentar?
5. Será que o facto de a SIC perder muita audiência no seu telejornal de domingo (quando fala Marques Mendes) em relação a sábado (quando ele não está lá), significa que Balsemão está indiferente à perda de dinheiro, que essa queda pressupõe, conquanto o minorca de Fafe continue a lançar o seu veneno?
6. Será que o PCP tem razão quando diz que uma campanha das direitas como a que estas vêm alimentando contra Centeno, bastaria para derrubar um banco privado se para ele lançassem tal tipo de ataques?
7. Será mesmo verdade que toda esta novela tem a ver com as sondagens, que vêm revelando o desfavor sustentado do eleitorado em relação aos partidos das direitas?
8. Será que toda a campanha tem a ver com o facto do governo ter conseguido um défice histórico na história da Democracia,  e que as direitas sempre disseram impossível de alcançar?
9. Será que também se explica pela aceleração do crescimento da economia, como o vêm demonstrando os números do INE?
10. Outra explicação residirá no facto de os leilões da dívida portuguesa terem batido o record histórico dos juros mais baixos  e, mesmo a 10 anos, voltarem abaixo dos 4%?
Como epílogo fica a questão remanescente sobre Marcelo: neste ziguezague, ora à esquerda, ora à direita, por quanto tempo usufruirá de apreciação positiva nas sondagens? Normalmente quem quer agradar a gregos e a troianos acaba por desagradar a todos. E lá se vai a possibilidade de cumprir um segundo mandato!

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