quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Eutanásia e centrais nucleares

1. Admito que ainda estaremos longe de conseguir uma lei sobre a morte assistida como a que ambiciono para a ela vir a recorrer, quando necessário. Infelizmente o peso do catolicismo é demasiado forte na sociedade portuguesa e quem dele se vai dissociando ainda procura coisas esdrúxulas mais absurdas e embotadas - mormente as seitas evangélicas que por aí pululam -, em vez de racionalizar o suficiente para aceitar as evidências do agnosticismo, quiçá mesmo do ateísmo. Deus, qualquer que ele seja, nada tem a ver connosco, e muito menos com as decisões que só a nós competem!
Os bispos e o seu bizarro cardeal persistem na missão de manterem os portugueses agarrados a crenças e  preconceitos, que constituem aberração inexplicável nesta sociedade tecnologicamente desenvolvida. É lamentável que cada batalha em prol de uma sociedade mais respeitadora dos direitos individuais dos seus cidadãos tenha de implicar um duro combate com quem parece ter nascido apenas para complicar-lhes a vida.
Tenho de aceitar a inevitabilidade de, durante uns bons anos, ainda não me ser possível chegar a um hospital e pedir para que me ajudem a morrer sem ter de dar explicações sobre os motivos para tal. Se o corpo é meu, porque não poderei dispor dele de acordo com o que me der na real gana? Porque terei de sofrer injustificadamente ao escolher uma das opções tomadas por muitos que, nos últimos anos, desesperados pelas dores da doença ou pela incapacidade para sobreviverem nesta sociedade cada vez mais desigual, se atiraram de pontes, engoliram mistelas venenosas, mergulharam no oceano ou provocaram acidentes de viação porventura fatais para terceiros?
Mais tarde ou mais cedo quero crer que será possível a eutanásia a pedido, precavendo a perda de capacidades cognitivas, que impliquem grande sacrifício para os já extenuados familiares, ou abreviando o sofrimento perante a evolução de doenças incuráveis para as quais os cuidados paliativos são apenas isso: atenuantes sem possibilitarem que a vida volte a ser o que qualquer hedonista deseje.
Duas razões de fundo suportarão essa revolução civilizacional: por um lado esse direito a só se viver enquanto isso significar algum nível de  satisfação mesmo que mínimo. Por outro a própria evolução demográfica, com a inversão na pirâmide das idades justificará que a própria sociedade até agradeça que alguns dos seus elementos não produtivos deixem de sobrecarregar os orçamentos da Segurança Social.
Não se trata aqui de defender o eugenismo. Será intelectualmente desonesto quem tentar ver nestes pressupostos algo assim. Mas, sempre dependendo da vontade expressa e consciente do próprio, não vejo razões para que persista esta violência social de se pretender impor a alguém aquilo que só a si pertence: dispor da própria vida.
 2. O debate sobre a central de Almaraz pareceu esmorecer do espaço público, mas a ele volto por ter assistido a um debate no «28 minutes» do canal Arte e nele se justificar o fecho de instalações semelhantes em França ou na Alemanha por motivo até aqui não trazido para o debate: a facilidade com que um grupo terrorista pode causar atentados de grande dimensão através da sua sabotagem.
Pode-se contra-argumentar que bastará garantir a segurança adequada para que isso se minimize, mas depois da imaginação e eficiência com que os autores do 11 de setembro destruíram as Torres Gémeas, não é despicienda a preocupação. 

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