quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Valerá a pena ter medo do futuro?

Será fatal o predomínio dos fatalistas, quando se trata de falar do futuro próximo, aquele em que os avanços tecnológicos causarão a eliminação de muitas das profissões ainda hoje existentes e a redução dos empregos?
Estaremos condenados a um devir feito de uma casta ínfima de privilegiados e uma imensa multidão de escravos?  Virão aí guerras ainda mais horrendas do que as duas crismadas de mundiais? Serão inevitavelmente mais pobres, quer os nossos filhos, quer os nossos netos?
Todas estas hipóteses foram enunciadas como possíveis no debate promovido esta terça-feira numa das habituais sessões da «Res Publica», dinamizadas por Reinaldo Ribeiro para dar substância a um dos objetivos fundamentais da Associação Gandaia da Costa da Caparica: a ação cívica de promover a discussão de temáticas de interesse para o exercício da cidadania.
Sinceramente não tenho grande apreço por previsões distópicas, condicionadas pelo medo perante o novo. Em vez de contribuírem para encarreirar as transformações pelo caminho almejado por quem delas tem uma perspetiva republicana, podem limitar-se a autocomiserações estultas, sem intervenção ativa no impedimento  á concretização dos seus piores receios.
Porque fica a questão: se o capitalismo não transformar os explorados de ontem nos consumidores de amanhã, como poderá sobreviver?
Utilizando a metáfora da bicicleta, o sistema baseado na exploração do trabalho pelo capital parece acelerar no rumo que toma desde a Revolução Industrial, tendo alcançado o limite do seu potencial com a globalização. A curto prazo tende a derrapar no seu aparente desconcerto, sobretudo com o sério risco de se ver parado, impedido de andar. A bicicleta ameaça atirar o ciclista ao chão.
 Impedido de maior expansão geográfica - as viagens interplanetárias ainda não saíram dos limites da ficção científica!, - a estagnação no seu crescimento tem posto os nervos em franja aos responsáveis pelo Banco Central Europeu, pela Reserva Federal dos Estados Unidos e outras autoridades financeiras, que vêm procurando soluções para relançar as economias e vencer a estagflação.
A má notícia que assombra o capitalismo é a inexistência de respostas eficientes para impedir essa travagem e inevitável queda.
É por isso que a alternativa parece ser a da distribuição de um rendimento universal, que decorra de uma política fiscal keynesiana, assente na forte penalização dos lucros das empresas como forma de manter a economia a funcionar graças à imparável máquina do consumo interno. Se quiserem evitar guerras, revoluções e outros sobressaltos sociais não resta aos plutocratas outra solução, que não seja essa redistribuição da riqueza com maior equidade, corrigindo-se o escândalo denunciado nos últimos dias sobre oito multimilionários possuírem tanta riqueza quanto metade da população mundial.
Curioso é constatar como estamos a chegar a uma das principais condições previstas por Karl Marx para a exequibilidade de uma sociedade de distribuição equitativa da riqueza produzida. E que, ao contrário do verificado até aqui, em que a experiência comunista foi erradamente implementada onde não existiam as condições materiais necessárias e suficientes para se exequibilizar, a nova revolução tecnológica assente na economia digital e na automação vai coincidir com a previsão do autor do «Capital»: a passagem inevitável do capitalismo, chegado ao limiar do seu máximo potencial, para uma sociedade de tipo novo, mais justa e igualitária, mudança qualitativa e súbita, após sucessivos efeitos quantitativos.
Revelando-nos intimidados com a rapidez dessa evolução, tendemos a não interpretar os sinais em como algo de diferente está a anunciar-se para este século. E em vez de uma distopia, podemos estar à beira de uma Utopia tão exaltante quanto a imaginaram os bolcheviques de um século atrás, quando pensaram estar à beira dos amanhãs cantantes.

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