quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Onde falharam as miraculosas receitas das direitas (1)

Flexibilizar, reestruturar é preciso!
Fartamo-nos de ouvir estas propostas aos defensores das medidas austeritárias, muito particularmente ao FMI, quando o sr. Subir Lall cá vem ver como páram as modas e regressa triste a Nova Iorque por ninguém no governo lhe dar ouvidos.
Teoricamente ele, e os que pensam de acordo com a mesma cartilha, dizem ser essa a solução para reduzir os altos níveis de desemprego nos países da Europa do sul. Por isso exigem medidas contra os sindicatos e a contratação coletiva, a redução das proteções sociais e a manifestação tão lata quanto possível da mágica «mão invisível» capaz de transformar os mais timoratos operários em dinâmicos e audazes empreendedores.
Se houve período em que o capitalismo parecia ter soluções bem superiores às dos países, que se diziam comunistas, foi o que decorreu entre o final da Segunda Guerra Mundial e a primeira crise do petróleo em 1973. Por isso esses foram crismados de «Trinta Gloriosos Anos».
A receita então utilizada era a keynesiana, quase universalmente aceite como a mais adequada para se alcançarem os objetivos do pleno emprego. Quando os empregadores privados não criavam novos postos de trabalho, o Estado funcionava de forma supletiva, investindo em obras públicas capazes de mobilizarem a mão-de-obra desocupada.
No final da década de 70 as teorias da Escola de Chicago surgiram em todo o esplendor, anunciando-se com ruidosas trombetas como sendo o nec plus ultra da economia com o Estado a ser aconselhado a reduzir drasticamente o seu papel regulador na atividade empresarial.  Dar a máxima liberdade aos mercados e reduzir o Estado ao mínimo era o que propunham sem titubeios.
Mais recentemente o logro desses teóricos chegou a tal desplante, que se intitulam neokeynesianos, ou novos keynesianos, como se neles subsistissem os objetivos da primazia das pessoas em relação aos números.
Da sua lavra surge a tese da existência de uma taxa de desemprego estrutural (NAIRU) inerente ao estado de desenvolvimento tecnológico e da qualidade do capital humano existente.
Segundo essas mentes iluminadas, imaginemos que Portugal deveria ter nesta altura uns 12% de desempregados, se nada se fizesse para promover políticas ativas no sentido de lhes garantir o direito ao trabalho, porque o equilíbrio entre os salários e os preços bastaria para que esse índice fosse alcançado.
Acaso se desse oportunidade às organizações sindicais para serem bem sucedidas no aumento dos salários, o resultado seria - de acordo com esses teóricos - o aumento do desemprego, porque muitos empregadores não teriam margem de lucro bastante para corresponder a tal aumento de custos. Se, pelo contrário, o governo agisse no sentido de flexibilizar os despedimentos, os salários reais e os custos de produção diminuiriam, possibilitando a contratação de mais trabalhadores. Daí a peregrina tese de Passos Coelho em 2011, da necessidade de empobrecimento de quem trabalhava como forma de aumentar a competitividade e o crescimento do país.
Que essa receita estava destinada ao fracasso não era necessário nenhum Einstein para o entender.  Ela continha em si os fundamentos de um resultado exatamente oposto ao pretendido: ao diminuir os rendimentos das famílias o governo das direitas causava um corte significativo no consumo interno, origem de ainda maior volume de desempregados.
No texto de amanhã aprofundaremos mais a abordagem das razões para o fracasso dessa estratégia neoliberal.

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